Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Brasil
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

“Se isso for temporário, não tem muita
importância”, afirmou ele, “Se isso se estender
ao longo do tempo e você tiver um aumento de
riscos, o Tesouro vai ter que seguir resgatando
os títulos longos e colocando títulos curtos.” Pa
r a ele, o acúmulo desse risco é um alerta
importante “para que o governo tenha juízo e
retorne ao teto de gastos”.


Os dados divulgados pelo Tesouro nos últimos
dias mostram como o encurtamento da dívida
pública vem ocorrendo de forma acelerada. De
dezembro para junho, o prazo médio da dívida
baixou de 3,83 meses para 3,68 meses.


Há pouco tempo atrás, o prazo médio da dívida
era de 4,5 anos. Mas essa estatística deixa de
fora a atuação do Banco Central por meio das
operações compromissadas, que são
operações de curtíssimo prazo que impactam a
dívida bruta. No primeiro semestre, o déficit
primário do governo central ficou em R$
417,241 bilhões, em grande medida devido aos
gastos extras e perda de arrecadação com a
pandemia. Com forte volatilidade nos
mercados, não foi possível ao Tesouro levantar
dinheiro para financiar esses gastos. Desse
déficit primário, apenas R$ 3,374 bilhões foram
bancados com a emissão de dívida. A maior
parte foi financiada por meio de operações
compromissadas. Uma outra parte foi pela
emissão de moeda, já que a população passou
a demandar mais dinheiro em espécie na
pandemia. No caso das compromissadas, não
foi um financiamento direto do BC ao Tesouro.
O Tesouro sacou dinheiro da conta única para
pagar despesas e, em seguida, a autoridade
monetária enxugou o excesso de dinheiro em
circulação. Do ponto de vista da dívida bruta,
porém, faz pouca diferença. O débito aumentou
e ficou com prazo mais curto. Os operações
compromissadas de curtíssimo prazo subiram
de 13% do PIB para 19% do PIB, enquanto que
a dívida mobiliária subiu de 50,7% do PIB para


52,8% do PIB.

Na prática, o que aconteceu durante o primeiro
semestre, num período de grande estresse, foi
parecido com as operações de expansão
quantitativa feitas por países desenvolvidos. O
Banco Central ajudou a encurtar o prazo da
dívida pública, tirando um pouco de pressão da
curva de juros futuros. A diferença é que, no
caso atual, o dinheiro para resgatar títulos do
Tesouro veio da conta única. O Tesouro tem
um bom fôlego para fazer essas operações, se
necessário, já que a conta única tinha um saldo
de R$ 997 bilhões em junho. Além disso, o
Tesouro vai receber do BC um reforço dos
lucros com operações com as reservas
internacionais. Mas, se o quadro se prolongar e
não houver recursos na conta única, em tese o
Banco Central poderá comprar diretamente
títulos em mercado, com os poderes que foram
conferidos por uma emenda constitucional.

Um economista com longa experiência no
Tesouro diz que uma dívida pública curta é
sempre um problema, principalmente em um
cenário de deterioração fiscal, dívida crescente
e juros historicamente baixos. “Em 2002, o
Tesouro teve que vender títulos pós-fixados de
três meses com prêmios crescentes”, lembra.
O Brasil tem alguns atenuantes importantes,
como uma baixa participação de estrangeiros
no financiamento da dívida e falta de opções de
investimentos para investidores institucionais.
Na época da hiperinflação, o governo
conseguia rolar a dívida no overnight, mas
pagava juros de 3% ao dia. Agora, com os
juros em 2,25% ao ano, o Tesouro já não tem a
mesma facilidade de vender títulos pós-fixados.

O argumento de Arminio e Pastore é que o
encurtamento do prazo da dívida pública pode
ser uma estratégia para ganhar tempo
enquanto são tomadas as medidas de ajuste
fiscal. Mas esse tempo não pode ser
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