Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Finanças
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

Fabio Akira: A discussão fiscal continua no
centro das preocupações do mercado. Mas, do
ponto de vista de preços de ativos financeiros,
a bolsa e o risco-país, principalmente,
responderam a uma sequência positiva de
notícias de curto prazo em várias frentes.Você
tem a retomada gradual de atividade sem
pressão inflacionária. Esse é o cenário de curto
prazo muito bom para bolsa, por exemplo. E o
debate político mudou. Há dois meses
estávamos discutindo risco de ruptura
institucional, um conflito muito grande entre
poderes. Agora, o armistício entre poderes,
uma postura menos belicosa do próprio
presidente e a mudança no eixo da discussão
para novos projetos, incluindo a reforma
tributária, descomprimiram as pressões que
estavam permeando todos os ativos
financeiros.


Valor: Mas o risco fiscal ainda pressiona os
ativos?


Akira: Apesar desse alívio, as dúvidas de
médio prazo permanecem. Aí que entra a
questão fiscal. O mercado embute algum risco
fiscal. Por isso, a curva de juros é bem
inclinada. Mas certamente não embute uma
quebra estrutural. O mercado ainda trabalha
com hipótese central de que o teto de gastos
não vai ser rompido e que parte relevante dos
estímulos fiscais concedidos neste ano não vão
ser perpetuados. Nesse ponto, vale o alerta: o
mercado trabalha com hipóteses, eu diria,
otimistas sobre a sustentabilidade fiscal de
médio prazo. Eu tenho sérias dúvidas. Acho
que alguma coisa vai ter de acontecer para
comportar toda essa demanda por gastos
adicionais ou o possível prolongamento de
estímulos ao longo de 2021. A forma como o
governo vai conseguir navegar nessa transição
é que vai determinar se o mercado vai sofrer
um estresse ou não. A pressão por aumento de
gastos é evidente.


Valor: O que vai precisar acontecer nessa
reorganização fiscal: um aumento de carga
tributária ou flexibilização do teto de gastos?

Akira: O governo parece estar tentando
contornar isso com o aumento de carga
tributária. A introdução de novos impostos,
principalmente esse imposto de transações
eletrônicas para financiar o programa Renda
Brasil ou Carteira Verde Amarela. Mas o teto
de gastos independe da fonte de
financiamento, ele é determinado pelo
crescimento de gastos. Então algum tipo de
flexibilização vai precisar acontecer na virada
do ano – provavelmente não no projeto de lei
orçamentária que deve ser enviado até o fim de
agosto. O projeto ainda deve prever um
orçamento que respeite o teto de gastos de


  1. Mas tenho mais medo da execução do
    orçamento. As pressões por gastos vão
    continuar.


Valor: Isso pode abalar a confiança no
mercado?

Akira: Exatamente. O que é interessante
salientar é que o próprio Banco Central faz
questão de ressaltar a importância do equilíbrio
fiscal e alguma correção na tendência de curto
prazo para que isso não gere instabilidade ou
prejudique a política monetária. Não são
apenas os players do setor privado que estão
alertando para a questão do teto de gastos,
mas a própria autoridade monetária joga muita
atenção para o tema, o que só reforça o
impacto negativo que isso teria se for mal
conduzido.

Valor: Com qual cenário a BlueLine trabalha
para déficit primário e dívida pública?

Akira: A projeção de médio prazo é muito difícil
de fazer, justamente pelas dúvidas sobre o teto
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