Clipping Banco Central (2020-08-06)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Há anos jornalistas vêm extrapolando
conceitualmente na sua análise e passaram a
falar também de vagas e postos de trabalho,
não cobertos por esses dados. São comuns
manchetes e textos que incluem frases como
esta: no período foram criados tantos postos de
trabalho, ou vagas, quando o referido saldo é
positivo; ou destruídos ou eliminados em caso
contrário.


Como se pode falar de vagas destruídas, se o
que existia eram empregos, que cessaram, e
não vagas? Ademais, no caso dos
desligamentos, como a rotatividade de mão de
obra é muito alta no Brasil, muitos teriam
pedido demissão, caso em que suas vagas, a
critério do empregador, podem ter permanecido
e, as- sim, não foram eliminadas. E mais: de
modo geral, empregadores podem ter até
aberto e reaberto vagas para em seguida
contratarem substitutos para todos ou parte dos
que foram desligados. Ou para novos
empregos. Mas não se pode falar sobre vagas,
pois não há dados sobre elas.


Postos de trabalho tampouco significam o
mesmo que empregos. O que são postos de
trabalho? Já visitei fábricas, e me lembro
também das atribulações de Charlie Chaplin no
filme Tempos Modernos. Numa linha de
montagem de automóveis, por exemplo, há,
nos seus postos, vários responsáveis pela
colocação de autopeças à medida que o corpo
do carro vai andando nessa linha. Por exemplo,
já vi um empregado que encaixava os pneus
nas roscas em que seriam parafusados, e outro
que colocava e apertava as porcas nessas


roscas. Ora, na presente crise a produção caiu,
mas não a zero. Com is- so a velocidade da
linha de montagem foi reduzida, empregados
foram dispensados, mas seus postos não
foram fechados, pois os trabalhadores que
restaram podem desempenhar o trabalho
exigido por mais de um posto. No mesmo
exemplo, um só colocando as rodas e as
parafusando. Portanto, como no caso das
vagas, os postos de trabalho não podem ser
usados como sinônimo de empregos.

Isso não se limita a plantas industriais. Sei de
um bar em São Paulo em que havia vários
atendentes em seus postos de trabalho: um no
caixa, outro cuidando de sucos, bebidas e
vitaminas, outro fazendo sanduíches, esfihas e
outros assados, mais um lavando pratos,
talheres e demais utensílios e dois ou três
atendentes de balcão. Com a crise, soube que
alguns saíram, mas os restantes estenderam
seu trabalho aos postos dos que partiram. Não
houve fechamento de vagas, pois não existiam,
nem extinção de postos de trabalho.

Note-se, também, que a condição de
empregado, ou não, é um atributo do
trabalhador, enquanto vagas e postos de
trabalhos são atributos do processo produtivo.
Seria até interessante analisar estes últimos
atributos, como ao tomar o número de vagas
como indicador antecedente das variações do
emprego, mas não há dados a esse respeito.

Os dados do IBGE medem diversas variáveis,
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