Clipping Banco Central (2020-08-06)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

gradual, essa ociosidade cairá muito
lentamente e nesse ambiente é muito difícil
haver pressão inflacionária. O que o BC vê é o
quanto esse hiato de ociosidade diminui, e ele
só deve zerar no fim de 2021 ou início de 2022.


O novo patamar de juros complica ainda mais
a vida do investidor. Que classes de ativos e
modalidades de investimento tendem a ganhar
mais espaço?


Vou dar alguns passos para trás antes de
responder. Antigamente, o Brasil tinha um juro
estrutural de dois dígitos porque tinha uma
política econômica equivocada. O setor público
era expansionista, e para fazer frente aos
gastos elevados o BC era obrigado a elevar os
juros na outra ponta. Era um equilíbrio muito
ruim, que dependia de juro real elevado.


Quando o governo não pode ou não consegue
mais ampliar os gastos, deixa de haver essa
força expansionista na economia, e isso traz o
juro para um outro patamar. Antes, o investidor
não precisava correr risco algum, a situação
era muito confortável. Só que, no mundo
inteiro, quem quer ter rentabilidade acima da
inflação precisa correr algum risco, esse é o
normal. Isso não era normal aqui, e agora será.
Mesmo antes da covid-19, já se via uma
migração gradual de ativos de menor risco para
outros de maior risco. Com a pandemia, isso se
agravou para o investidor de curto prazo,
porque o juro ficou muito baixo. E ficará baixo
em um horizonte bastante largo. O resultado é


que o investidor terá de procurar ativos de
maior risco para ter alguma rentabilidade no
portfólio. O Brasil está se tornando um país
mais normal. Na Europa, a carteira de um
fundo de previdência tem entre 50% e 60% de
ações. No Brasil, 80% das carteiras têm renda
fixa tradicional.

Quem sai ganhando com uma taxa de juros
tão baixa?

A resposta correta é: o País inteiro. O País está
ficando mais normal. O juro é como uma febre:
se tem juro estrutural mais baixo, tem menos
febre, tem menos problema. A covid-19 é uma
situação anormal, em que o juro no mundo
inteiro está mais estimulativo. Isso atenua a dor
desse processo de queda tão grande da
atividade econômica. No Brasil, entre 85% e
90% das empresas tomam empréstimos
atrelados à Selic. Quando ela cai, é redução de
custos financeiros na veia. A dívida pública
federal, metade dela é atrelada à taxa básica.
Quando ela cai, o alívio é imediato.

Quem comprar títulos prefixados ou atrelados à
inflação corre risco de ter perdas com a
elevação dos juros. O sr. diria que esses
investidores devem preferir papéis com
vencimentos mais curtos, para reduzir o risco?

A trajetória de queda da Selic só vai começar a
se inverter na metade do ano que vem. A curva
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