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O Globo/Nacional - Sociedade
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
A HORA DA CIÊNCIA - O cérebro que
não lê
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Autor: Roberto Lent
Derrame é uma palavra bruta. Pode ser usada
para notas falsas ou para acidentes vasculares
cerebrais. Estes são os AVCs, alvos de intensa
investigação atualmente, pois há muitos
pacientes com Covid-19 que os apresentam,
sem que se saiba ainda a razão.
Os AVCs são geralmente muito sérios quando
ocorre hemorragia no cérebro, causando
enormes lesões com sintomas graves que
podem evoluir para a morte. Mas podem
também consistir em leves e passageiras
diminuições do fluxo sanguíneo regional, que
interrompem temporariamente a função da
região afetada.
Foi o que aconteceu com Monteiro Lobato, meu
ídolo literário da infância. Ao fim da vida, sofreu
um AVC leve que lhe causou uma temporária
incapacidade de ler e escrever. Depois
recuperou-se, e acabou morrendo de outro AVC
mais severo. Assim relatou o neurologista que o
atendeu, Antonio Lefevre, na revista
"Fundamentos", criada pelo próprio Lobato.
Imaginem o impacto, para um escritor, de não
conseguir ler nem escrever! A investigação
sobre as lesões que atingem as regiões
cerebrais da leitura e da escrita ainda é útil para
conhecer os mecanismos neurais dessas
habilidades, e atualmente é complementada por
experimentos feitos com a aquisição de imagens
da atividade cerebral de indivíduos enquanto
leem ou escrevem.
As áreas cerebrais envolvidas, e sua atividade
sincronizada formando redes neurais, tornaram-
se conhecidas em adultos e em crianças
durante o processo de alfabetização.
E a alfabetização revelou como o cérebro é
plástico: um órgão preparado pela evolução
para ser moldado pela vida,incluindo aí a cultura
que a humanidade constrói em todos os cantos
do mundo. As regiões do córtex cerebral que