Clipping Banco Central (2020-08-06)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Finanças
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

Copom de que não antevê redução do grau de
estímulo?


Portella: Normalmente, você faz um “forward
guidance” depois que encerrou o ciclo de corte
de juros. Mas não ficou claro que encerrou
porque deu margem para expectativa de
queda. E, ao mesmo tempo, já começa a falar
dos cenários futuros para possível alta de juros.
A impressão é que o Copom quer encerrar o
ciclo e quis passar um “forward guidance” de
Selic estável ou pouco abaixo no horizonte
relevante, por questões prudenciais de
estabilidade financeira. Mas não passou
confiança no cenário. Na verdade, passou
muita incerteza sobre a retomada da atividade
e a trajetória de inflação.


Valor: Ao deixar a porta aberta para novos
cortes e sinalizar juro baixo por um bom tempo,
o Copom minimiza os riscos fiscais?


Portella: Essa parte é um pouco confusa
também. O Copom fala da preocupação com o
efeito fiscal dos programas de auxílio
emergencial, mas também ressalta a incerteza
sobre o ritmo de crescimento após o fim desses
programas. Mas não dá para ficar preocupado
com fiscal e, ao mesmo tempo, ficar
preocupado com efeito do fim do auxílio
emergencial. Até o BC parece estar sob efeito
da “morfina” da liquidez global, ao relativizar os
riscos fiscais e deixar a porta aberta para mais
corte.


Valor: Como o mercado está enxergando o
risco fiscal neste momento, em que há uma
pressão para aumento dos gastos públicos?


Portella: Esse é um tema muitoimportante. A
gente está com juro nas mínimas históricas por
causa da âncora fiscal, principalmente do teto
dos gastos. Por isso as discussões sobre não
deixar transbordar o aumento dos gastos para


os próximos anos é muito importante para os
mercados. Agora, o mundo todo está fazendo
[aumento de gasto] fiscal, inclusive os Estados
Unidos estudam um novo pacote de US$ 1
trilhão. Mas acho que na virada do ano o
mercado vai voltar a focar nisso. Se os
emergentes não vierem com melhora mais
rápida da economia no início do ano que vem,
o mercado pode começar a questionar o
equilíbrio.

Valor: Quando o mercado pode ter esse
choque de realidade sobre riscos do aumento
brutal de gastos?

Portella: O orçamento é a primeira discussão
importante. Isso vai começar agora. Tem que
ver também o que vai ser do Renda Brasil. Mas
o mercado trabalha com expectativas e, por
enquanto, está tudo dentro da expectativa. O
aumento da dívida bruta deve ser de 93%, na
nossa projeção. E todo mundo trabalha com a
ideia de que o déficit fiscal começa a se reduzir
fortemente no ano que vem. Então, a chave
para começar a olhar o fiscal deve vir no ano
que vem. Será que a gente vai sair de um
déficit de 11% do PIB para 2% ou 3% no ano
que vem? O orçamento é o primeiro passo para
isso, o mercado vai começar a olhar.

Valor: Mas claramente há uma pressão dentro
do governo para burlar o teto de gastos.
Baseado em quê o mercado dá esse voto de
confiança de que o aumento dos gastos ficará
restrito a este ano?

Portella: Acho que é a morfina: muito estímulo
fiscal, muita liquidez no mundo. Com a
quantidade de estímulo monetário que está
sendo dado pelo banco central americano, e
com o estímulo fiscal que se vê no mundo, o
mercado fica mais leniente com essas notícias
no curto prazo. Eu acho que quando a gente
tiver uma correção externa, todas essas
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