Clipping Banco Central (2020-08-06)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Política
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 2 - TCU

Um vídeo de Tarcísio Freitas que circula nas
redes sociais dá uma ideia do tamanho da
penúria que se tenta cobrir. Nele, o ministro da
Infraestrutura, em reunião com a bancada
federal do Maranhão, diz que o Dnit, órgão
responsável pela construção e manutenção de
estradas, terá o menor orçamento da história
em 2021.


A penúria é a semente da gambiarra. Pra
conseguir receber recursos do Tesouro, todos
os ministros querem tirar seus projetos do teto
de gastos ou fazer remanejamentos indevidos,
como quis Paulo Guedes ao tentar arrancar
dinheiro do Bolsa Família para a Secretaria de
Comunicação da Presidência.


Depois que o ministro da Defesa excluiu a
empresa de projetos navais da Marinha, a
Emgepron, do teto, para fazer sua
capitalização, o movimento fura-teto contagiou
o governo. Espraiou-se do Ministério do
Desenvolvimento Regional, que quer tirar o
Minha Casa Minha Vida da limitação
constitucional, à pasta de Tarcísio Freitas que,
aliada aos generais palacianos, também
engrossa o movimento com as obras do Pró-
Brasil.


Tudo isso para evitar colocar, no Orçamento de
2021, um rombo que provoque, no mercado, a
impressão de que já se viu este filme antes.
Um gestor graúdo explica que o mercado já
aceitou que 2020 esteja “perdido”. A previsão
do governo era de um déficit de 1,6% para este
ano. A pandemia elevou a previsão para
11,6%. Alimentava-se, porém, a expectativa de
jogo zerado para 2021, com uma pitada de
meengana-que-eu gosto. Todas essas
manobras mostram que não falta vontade do
governo de satisfazer essas expectativas. O
problema é que não são críveis.


A ausência de prazos conclusivos para uma
vacina e as notícias de que a calamidade
pública será ampliada azedaram a quarentena
dos investidores. Apegaram-se à Bolsa acima
de 100 mil pontos para manter um injustificado
otimismo.

Paulo Guedes poderia ter evitado a corrosão
de sua confiança se não tivesse ido com tanta
sede ao pote. Quando havia dois ministérios, o
da Fazenda e o do Planejamento, cabia ao
primeiro resistir aos acessos de criatividade do
segundo e ao presidente da República, arbitrar
a disputa. Com a fusão no superministério da
Economia, Guedes levou para seu colo todas
as contradições.

Na gerência dessas pressões fez ouvido de
mercador a advertências como a do Ministério
Público de Contas de que um plano bienal teria
possibilitado um enfrentamento da crise mais
planejado e pactuado com a federação. Na
terça-feira, Dantas reforçou aos investidores da
XP que, sem válvulas de escape, o Estado será
incapaz de conter a devastação social e
econômica da pandemia e de frustrar a
expectativa dos agentes econômicos. No voto
de ontem, reforçou que isso não pode se dar às
custas da transparência.

Ao final da palestra, alguns investidores saíram
com a impressão de que vai ser preciso colocar
uma claraboia acima do teto de gastos, bem
como aceitar que a coabitação de Paulo
Guedes com o projeto de reeleição do
presidente da República talvez esteja com seus
dias contados. Observador desse embate, uma
liderança da oposição em ascensão o resumiu:
“Se eles conseguirem perenizar o auxílio
emergencial sem aumentar imposto, a gente
nem precisa voltar ao poder. Vamos todos
aderir ao bolsonarismo.”

De tanto receberem líderes partidários para
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