Clipping Banco Central (2020-08-06)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Valor Investe
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Selic

certo, o ganho é igualmente imenso. E aí, se a
bolsa sobe, a vontade louca é de comprar.


Valor: O que configura esses cenários positivo
e negativo?


Aché: O cenário negativo é o de uma segunda
onda da covid-19, que trará impactos
relevantes na economia, nos negócios, em
vidas, na dinâmica da dívida pública e,
obviamente, o mercado vai sentir muito. A
chance de isso acontecer não é desprezível. O
cenário que empurra para um comportamento
positivo dos ativos é o de estarmos num
processo de formação de bolha financeira, que
talvez seja onde estamos entrando.


Valor: Quais os indícios disso?


Aché: Dois autores, Hyman Minsky e Charles
Kindleberger, descrevem o ciclo de uma bolha,
que, acredito, encaixa no que estamos vivendo
hoje. Segundo eles, esse ciclo sempre começa
com a criação de um novo paradigma. E o novo
paradigma nos mercados hoje é o juro, que não
existe mais. Para o investidor médio, o custo de
oportunidade sempre foi a Selic, que está
quase negativa em termos reais. É um
fenômeno mundial que chega agora ao Brasil,
a meu ver, com impacto maior pelo país ter
sido por décadas campeão dos juros altos. A
segunda fase do ciclo da bolha é o boom, que
tem como uma das características mais
marcantes a entrada em massa de novos
investidores. Este é outro fenômeno mundial,
que se repete no Brasil numa escala muito
rápida e surpreendente, por conta do juro
baixo, mas também das plataformas e das
mídias sociais. Depois do boom vem a euforia,
com deslocamento muito grande de preço em
relação a valor, até que chega o estouro da
bolha. Arrisco dizer que se não houver nenhum
outro acidente econômico de escala grande,
vamos caminhar para a formação de bolhas no


mercado. Em grande parte os preços hoje não
estão distorcidos, mas em alguns nichos vejo
uma euforia perigosa.

Valor: Quais são esses nichos?
Aché: Estou preocupado com essa onda de
IPOs e as empresas que estão na moda nas
redes sociais. Tenho visto algumas análises
sendo feitas nas redes por profissionais,
inclusive, que na minha visão estão
grosseiramente erradas. Não consideram, por
exemplo, a dívida das empresas e uma série
de fundamentos básicos para calcular um
preço-alvo de forma racional. São talvez umas
dez empresas, muito debatidas no Twitter, que
vão mudando com o tempo. Algumas vão
dando errado, e os patrocinadores meio que
vão esquecendo essas e focam nas que vão
dando certo. É uma pirâmidezinha que acho
perigosa. E uma fonte de problema,
principalmente para a pessoa física, que usa
muito essa fonte de informação, o Twitter, para
tomar decisão de investimento. Um detalhe
importante para o ciclo da bolha é que um dos
motivos que fazem as pessoas investirem na
bolsa é ver os amigos, o vizinho, ganhando
dinheiro com ações.Comas redes sociais, todo
mundo ganhou muitos novos amigos e
vizinhos, o que amplifica essa questão meio
psicológica, mas que é verdadeira.

Valor: A pandemia, que embaralhou os dados,
dificulta ainda mais a análise das empresas?

Aché: Para o valor de uma empresa, não para
o preço da ação, o que acontece em um ou
dois trimestres não é relevante. O que importa
é como o negócio dela vai performar olhando
um prazo mais longo. Se ela não tem problema
de trajetória, que pode ser um problema de
dívida, por exemplo, tanto faz se um semestre
foi bom ou ruim. O valor de uma empresa é a
geração de caixa da vida dela trazida a valor
presente num período longo, de anos. Quanto
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