Clipping Banco Central (2020-08-06)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Opinião
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Fed

economias da área do euro, os programas
fiscais (seja de manutenção de renda ou
subsídios ao emprego) variaram de 3,2% do
PIB na Espanha a 4,5% na França e Itália
(4,2% na Alemanha). Esses totais, tanto para a
Europa quanto EUA, excluem programas de
garantias de crédito, que tiveram magnitude
muito maior e constituem passivos
contingentes para o setor público. Além de
programas ativos de socorro a empresas e
famílias, necessários para mitigar o impacto
econômico e social da pandemia, os chamados
estabilizadores automáticos, na forma de
redução de receita e aumento de gastos como
o seguro desemprego, também foram
acionados. Tamanha onda de expansão fiscal,
em contexto de recessão e profunda queda do
PIB, terá uma consequência inevitável: um forte
aumento do endividamento do setor público.


Segundo projeções do FMI, a razão entre a
dívida pública e o PIB sairá de 109% ao final de
2019, nos EUA, para 131% no fim do corrente
ano. No caso da Alemanha, o movimento será
de 60% para 69%, e de 135% para 156% no
complicado caso da Itália. Esse aumento do
endividamento, em circunstâncias normais,
tenderia a gerar elevação das taxas de juros
pagas pelos governos. Mas isso não vem
ocorrendo, taxas de 10 anos, tanto nominais
quanto reais, têm caído, e estão em território
negativo na maioria das economias maduras
(entre 1,5% e 2% nos EUA, França e
Alemanha).


O comportamento das taxas de juros reflete o
impacto da pandemia sobre a atividade
econômica e as perspectivas para a inflação,
mas, em horizontes mais longos, deveria
também incorporar os efeitos do forte aumento
da emissão de títulos públicos. Não há,
contudo, nenhuma anomalia aqui. O que está
acontecendo é que, em diversas regiões, os
bancos centrais estão comprando os títulos


públicos em volumes muito expressivos,
impedindo, assim, que o aumento de oferta se
traduza em pressão baixista (altista) sobre os
preços (taxas de juros) desses instrumentos.
Considerando os EUA, a expectativa é que o
Fed financie o equivalente à metade do
aumento esperado do endividamento público.
Essa razãochega a 71% na França, 94% na
Espanha e 95% na Itália.

Isso significa que, na ausência de forte
intervenção das autoridades monetárias nos
mercados de dívida pública, provavelmente
estaríamos observando elevações de taxas de
juros mais longas. Como a superação das
consequências econômicas da pandemia vai
demandar tempo, a tendência das autoridades
com influência sobre a política fiscal, sejam
governos ou parlamentos, será postergar a
remoção das políticas de estímulo. Com isso, a
trajetória das dívidas públicas não deve ter
redução tempestiva, o que implica restrição da
margem de manobra detida pelas autoridades
monetárias. A estratégia de saída dos bancos
centrais vai, obrigatoriamente, ter que ser
gradual, a fim de evitar choques de juros que
poriam em risco qualquer retomada econômica.
A necessidade de evitar tais movimentos de
juros, em um contexto no qual a inflação pode,
em algum momento do futuro, deixar de ser
benigna, apresenta desafio adicional para os
bancos centrais. Nesse cenário, a política
monetária passará a operar não
necessariamente sob o caso extremo da
dominância, mas sob uma forma de
constrangimento fiscal. Não haverá estratégia
de saída fácil.

OLHO:Tendência das autoridades, governos ou
parlamentos, será de postergar a remoção
daspolíticas de estímulo
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