Clipping Banco Central (2020-08-07)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

supremo", ou simplesmente "chefão", é algo
cheio de cupim do tempo dos reis absolutistas
ou pose de "xerife" dos filmes de faroeste. Os
"xerifes" eram mandões supremos por terem
revólver de mil tiros, que disparava sem parar.
Mas truque de cinema não substitui a
realidade.


Nem sequer a votação expressiva de
Bolsonaro lhe outorgou "poderes supremos"
como presidente. A democracia é, por
definição, o sistema de equilíbrio dos Poderes,
exatamente para evitar "semideuses". O voto
não o transforma em ditador supremo ...


E menos ainda faz dele um semideus. Todo
dia, porém, surgem semideuses, revelando que
o poder político se torna, progressivamente, um
núcleo de cobiçosos aventureiros, servindo a
interesses que não são os do País nem os do
povo.


O horror da pandemia mostrou essa
deformação. Para espanto da ciência, vimos o
presidente da República se transformar em
médico charlatão ou "garoto-propaganda" da
cloroquina. As fotos de Bolsonaro empunhando
uma caixinha do medicamento como se fosse
milagrosa varinha de condão das fadas infantis
apareceram em jornais, na TV ou nas tais
"redes sociais", como se ele fosse improvisado
semideus ..


Não importaram sequer as advertências da
ciência médica sobre os perigosos efeitos
colaterais de usar um medicamento destinado
a combater a malária como algo mágico para a
peste atual. O semideus já havia decidido e,
pronto, não se discute! Nossos semideuses
passaram a proliferar, especializando-se em
derrubar algumas das mais sólidas construções
dos últimos anos. Talvez tendo o presidente
como espelho, o procurador-geral da
República, Augusto Aras, investiu abertamente
contra a Lava Jato para destruir a iniciativa
que, pela primeira vez na História, puniu altos
ladrões e mostrou como intocáveis políticos e
grandes empresários eram simples assaltantes.
Até um ex-presidente da República foi preso. A
Lava Jato desnudou o conluio obsceno entre
governantes, políticos e ricos empresários,
mas, agora, enfurece o procurador-geral da
República.

Por que essa fúria, que se contrapõe às
próprias funções específicas do procurador-
geral?

Há, ainda, os semideuses ardilosos, como
mostrou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, ao propor (em reunião ministerial)
aproveitar a covid-19 para "passar a boiada".
Ou seja, servir-se da atenção na pandemia
para descuidar da preservação da natureza.

Assim, o ministro Salles opõe-se até mesmo
aos três grandes bancos privados do País que
advertem sobre a necessidade de preservar a
Free download pdf