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O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
PEDRO DORIA A política do ódio
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Quem acha que o ataque contra Thammy
Gretchen, por conta da publicidade de Dia dos
Pais da Natura, e aquele feito contra a
professora Lilia Schwarcz, por sua leitura do
filme de Beyoncé, são coisas distintas está se
enganando. Claro, do ponto de vista ideológico,
vêm de extremos opostos. O primeiro vem de
uma direita transfóbica e, o segundo, da
militância negra habitualmente à esquerda. Mas
a ferramenta é exatamente a mesma: a massa
contra uma pessoa. Se fosse na vida real, o
nome seria linchamento. Como é nas redes
sociais, chamamos cancelamento.
Quando o cancelamento vem da esquerda, há
quem argumente que é uma reação social
normal contra a opressão. Que historicamente
quem é oprimido, uma hora, se ergue e
responde. De fato. Desde John Locke
consideramos que é um direito reagir à
opressão. Só há um detalhe que não é
irrelevante. A Revolução Francesa foi contra a
Coroa. A Russa, contra o Império. Anarquistas,
grevistas, os estudantes da França em 1968 ou
os da China em 1989, todos se ergueram contra
governos, contra indústrias - não contra
indivíduos.
Se fosse na vida real e uma multidão avançasse
contra uma pessoa, chama- ríamos de covardia.
Quando a direita faz - foi o caso de Thammy - é
a lei do mais forte contra o mais fraco. Quando a
esquerda faz, alguns chamam de justiça. Os
exemplos desta semana são exemplos, toda
semana há exemplos novos. Porque o que
ocorre é sempre o mesmo: um bate, depois o
segundo, aí vem a avalanche. Às vezes é
provocado, noutras espontâneo.
Quem está tomando a surra aprende lá pela
segunda ou terceira vez o truque para lidar
quando se é cancelado. É sair da rede. Em
geral, uma semanabas- ta. Aí reaparece como
quem não quer nada e todo mundo já esqueceu.
Recomenda-se não ler as mensagens mais
antigas.