Clipping Banco Central (2020-08-07)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Eu & Fim de Semana
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Mundial de Saúde, forçaram a barra para a
abertura das atividades comerciais e fabris,
rejeitaram o uso de máscaras, brigaram com
governadores, ameaçaram convocar militares e
contaminaram a pandemia de notícias falsas
desde 8 de março, dia do último encontro entre
eles na Flórida, que marcou o início da
infestação do alto escalão do governo brasileiro
pela covid-19.


Toda essa intempestividade não caiu do
mesmo jeito lá e cá. O chefe do Estado-Maior
Conjunto das Forças Armadas, Mark A. Milley,
chegou a pedir desculpas por estar ao lado de
Trump numa caminhada da Casa Branca até
uma capela vizinha no momento de um
protesto contra a violência policial que atinge
negros.


É mais ou menos o inverso do que se passa no
Brasil. O ministro da Defesa, general da
reserva, não apenas sobrevoou manifestações
num helicóptero ao lado do presidente como
mobilizou os comandantes militares para um
recurso à Lei de Segurança Nacional contra a
acusação de que estariam associados a uma
política de saúde pública genocida.


Apesar desse comportamento, Bolsonaro tem
se mantido a salvo de um processo de
impeachment, enquanto Trump caminha para
uma derrota frente ao adversário democrata
Joe Biden. A maior diferença, no entanto, se
deve ao fato de que a pandemia colheu os EUA
numa campanha sucessória.


Doutorando em ciência política na Universidade
da Califórnia, Lucas Abreu Maia mantém um
olho nas pesquisas do Brasil e o outro nas
americanas. Ao longo do ano, Trump e
Bolsonaro perderam os mesmos dez pontos
percentuais, sendo que a trajetória de queda
deixou o presidente americano com 40% de
aprovação e o brasileiro, com 30%.


O que parece uma vantagem de Trump se
esvai na lógica bipartidária do sistema
americano. Com 40% de popularidade nos
Estados Unidos, onde a eleição é sempre muito
apertada, diz Abreu Maia, nenhum candidato
se viabiliza. Situação distinta da de Bolsonaro,
cujo terço de popularidade não apenas o
mantém a salvo de um processo de
impeachment quanto preserva sua
competitividade eleitoral, dado o fragmentado
cenário partidário nacional para 2022.

A proximidade das eleições também modula o
impacto de duas ações assemelhadas tomadas
por ambos os presidentes, a injeção de
dinheiro na veia. Bolsista de uma instituição
americana, Lucas Abreu recebeu, como
qualquer pagador de impostos nos EUA, um
cheque de US$ 1,2 mil assinado por Trump,
como parte de um pacote que incluiu ainda
US$ 600 semanais a título de complementação
do seguro desemprego pago pelos governos
estaduais.

Dali a algumas semanas, o Congresso
brasileiro aprovaria o auxílio emergencial de R$
600 mensais, o equivalente a um quarto do
congênere americano. As pesquisas mostram
que o auxílio responde por dez pontos
percentuais da popularidade bolsonarista. Por
isso, o presidente empurra o ministro da
Economia, Paulo Guedes, a romper com suas
convicções fiscalistas para estender o benefício
na forma do programa Renda Brasil, cujo valor
seria menor que o do auxílio emergencial e
maior que o do Bolsa Família.

A tramitação do novo benefício vai escancarar
a disputa pela paternidade entre Bolsonaro e
Congresso. Como aconteceu na criação do
auxílio emergencial, o Executivo sempre leva
vantagem no carimbo ainda que tenham sido
os partidos de esquerda os responsáveis pela
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