homens acabam se rendendo sem buscar entendê-la. É um fato comum no cotidiano de todos, por
conseguinte, uma banalidade, mas seus fundamentos e seu alcance escapam à percepção imediata,
daí seu mistério. Tais características alimentam seu imaginário, alicerçado nas suas relações com a
ciência, na sua exigência de racionalidade, no absolutismo com que, ao serviço do mercado,
conforma os comportamento; tudo isso fazendo crer na sua inevitabilidade.
Quando o sistema político formado pelos governos e pelas empresas utiliza os sistemas
técnicos contemporâneos e seu imaginário para produzir a atual globalização, aponta-nos para
formas de relações econômicas implacáveis, que não aceitam discussão e exigem obediência
imediata, sem a qual os atores são expulsos da cena ou permanecem escravos de uma lógica
indispensável ao funcionamento do sistema como um todo.
É uma forma de totalitarismo muito forte e insidiosa, porque se baseia em noções que
parecem centrais à própria idéia da democracia – liberdade de opinião, de imprensa, tolerância -,
utilizadas exatamente para suprimir a possibilidade de conhecimento do que é o mundo, e do que são
os países e os lugares.
8. Competitividade, consumo, confusão dos espíritos,
globaritarismo
Neste mundo globalizado, a competitividade, o consumo, a confusão dos espíritos
constituem baluartes do presente estado de coisas. A competitividade comanda nossas formas de
ação. O consumo comanda nossas formas de inação. E a confusão dos espíritos impede o nosso
entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade e de cada um de nós mesmos.
A competitividade, a ausência de compaixão
Nos últimos cinco séculos de desenvolvimento e expansão geográfica do capitalismo, a
concorrência se estabelece como regra. Agora, a competitividade toma o lugar da competição. A
concorrência atual não é mais a velha concorrência, sobretudo porque chega eliminando toda forma
de compaixão. A competitividade tem a guerra como norma. Há, a todo custo, que vencer o outro,
esmagando-o, para tomar seu lugar. Os últimos anos do século XX foram emblemáticos, porque neles
se realizaram grandes concentrações, grandes fusões, tanto na órbita da produção como na das
finanças e da informação. Esse movimento marca um ápice do sistema capitalista, mas é também
indicador do seu paroxismo, já que a identidade dos atores, até então mais ou menos visível, agora
finalmente aparece aos olhos de todos.
Essa guerra como norma justifica toda forma de apelo à força, a que assistimos em
diversos países, um apelo não dissimulado, utilizado para dirimir os conflitos e conseqüência dessa
ética da competitividade que caracteriza nosso tempo. Ora, é isso também que justifica os
individualismos arrebatadores e possessivos: individualismos na vida econômica (a maneira como as
empresas batalham umas com as outras); individualismos na ordem da política (a maneira como os
partidos freqüentemente abandonam a idéia de política para se tornarem simplesmente eleitoreiros);
individualismos na ordem do território (as cidades brigando umas com as outras, as regiões
reclamando soluções particularistas). Também na ordem social e individual são individualismos