unificação relativa, aprofundada sob o capitalismo monopolista graças aos progressos técnicos
alcançados nos últimos dois séculos e possibilitando uma transição para a situação atual de
neoliberalismo. Agora se pode, de alguma forma, falar numa vontade de unificação absoluta
alicerçada na tirania do dinheiro e da informação produzindo em toda parte situações nas quais tudo,
isto é, coisas, homens, idéias, comportamentos, relações, lugares, é atingido.
Em cada um desses momentos, são diferentes as relações entre o indivíduo e a
sociedade, entre o mercado e a solidariedade. Até recentemente, havia a busca de um relativo reforço
mútuo das idéias e da realidade de autonomia individual (com a vontade de produção de indivíduos
fortes e de cidadãos) e da idéia e da realidade de uma sociedade solidária (com o Estado
crescentemente empenhado em exercer uma regulação redistributiva). As situações eram diferentes
segundo os continentes e países e, se o quadro acima referido não constituía uma realidade
completa, essa era uma aspiração generalizada.
Ao longo da história passada do capitalismo, paralelamente à evolução das técnicas,
idéias morais e filosóficas se difundem, assim como a sua realização política e jurídica, de modo que
os costumes, as leis, os regulamentos, as instituições jurídicas e estatais buscavam realizar, ao
mesmo tempo, mais controle social e, também, mais controle sobre as ações individuais, limitando a
ação daqueles vetores que, deixados sozinhos, levariam à eclosão de egoísmos, ao exercício da força
bruta e a desníveis sociais cada vez mais agudos.
Na fase atual de globalização, o uso das técnicas conhece uma importante mudança
qualitativa e quantitativa. Passamos de um uso “imperialista”, que era, também, um uso desigual e
combinado, segundo os continentes e lugares, a uma presença obrigatória em todos os países dos
sistemas técnicos hegemônicos, graças ao papel unificador das técnicas de informação.
O uso imperialista das técnicas permitia, pela via da política, uma certa convivência de
níveis diferentes de formas técnicas e de formas organizacionais nos diversos impérios. Tal situação
permanece praticamente por um século, sem que as diferenças de poder entre os impérios fosse
causa de conflitos duráveis entre eles e dentro deles. O próprio imperialismo era “diferencial”, tal
característica sendo conseqüência da subordinação do mercado à política, seja a política
internacional, seja a política interior a cada país ou a cada conjunto imperial. Com a globalização, as
técnicas se tornam mais eficazes, sua presença se confunde com o ecúmeno, seu encadeamento
praticamente espontâneo se reforça e, ao mesmo tempo, o seu uso escapa, sob muitos aspectos, ao
domínio da política e se torna subordinado ao mercado.
Globalitarismo e totalitarismos
Como as técnicas hegemônicas atuais são, todas elas, filhas da ciência, e como sua
utilização se dá ao serviço do mercado, esse amálgama produz um ideário da técnica e do mercado
que é santificado pela ciência, considerada, ela própria, infalível. Essa, aliás, é uma das fontes do
poder do pensamento único. Tudo o que é feito pela mão dos vetores fundamentais da globalização
parte de idéias científicas, indispensáveis a produção, aliás acelerada, de novas realidades, de tal
modo que as ações assim criadas se impõem como soluções únicas.
Nas condições atuais, a ideologia é reforçada de uma forma que seria impossível ainda
há um quarto de século, já que, primeiro as idéias e, sobretudo, as ideologias se transformam em
situações, enquanto as situações se tornam entre si mesmas “idéias”, “idéias do que fazer”,