nossa realidade se aparente à de muitos outros países do planeta. Com a globalização, o que temos é
um território nacional da economia internacional, isto é, o território continua existindo, as normas
públicas que o regem são da alçada nacional, ainda que as forças mais ativas do seu dinamismo atual
tenham origem externa. Em outras palavras, a contradição entre o externo e o interno aumentou.
Todavia, é o Estado nacional, em última análise, que detém o monopólio das normas, sem as quais
os poderosos fatores externos perdem eficácia. Sem dúvida, a noção de soberania teve de ser
revista, face aos sistemas transgressores de âmbito planetário, cujo exercício violento acentua a
porosidade das fronteiras. Estes, são, sobretudo, a informação e a finança, cuja a fluidez se multiplica
graças às maravilhas da técnica contemporânea. Mas é um equívoco pensar que a informação e a
finança exercem sempre sua força sem encontrar contrapartida interna. Esta depende de uma
vontade política interior, capaz de evitar que a influência dos ditos fatores seja absoluta.
Ao contrário do que se repete impunemente, o Estado continua forte e a prova disso é
que nem as empresas transnacionais, nem as instituições supranacionais dispõem de força normativa
para impor, sozinhas, dentro de cada território, sua vontade política ou econômica. Por intermédio de
suas normas de produção, de trabalho, de financiamento e de cooperação com outras firmas, as
empresas transnacionais arrastam outras empresas e instituições dos lugares onde se instalam,
impondo-lhes comportamentos compatíveis com seus interesses. Mas a vida de uma empresa vai
além do mero processo técnico de produção e alcança todo o entorno, a começar pelo próprio
mercado e incluindo também as infra-estruturas geográficas de apoio, sem o que ela não pode ter
êxito. É o Estado nacional que, afinal, regula o mundo financeiro e constrói infra-estruturas, atribuindo,
assim, a grandes empresas escolhidas a condição de sua viabilidade. O mesmo pode ser dito das
instituições supranacionais (FMI, Banco Mundial, Nações Unidas, Organização Mundial do Comércio),
cujos editos ou recomendações necessitam de decisões internas a cada país para que tenham
eficácia. O Banco Central é, freqüentemente, essa correia de transmissão (situada acima do
Parlamento) entre uma vontade política externa e uma ausência de vontade interior. Por isso, tornou-
se corriqueiro entregar a direção desses bancos centrais a personagens mais comprometidas com os
postulados ideológicos da finança internacional do que com os interesses concretos das sociedades
nacionais.
Mas a cessão de soberania não é algo natural, inelutável, automático, pois depende da
forma como o governo de cada país decide fazer sua inserção no mundo da chamada globalização.
O Estado altera suas regras e feições num jogo combinado de influências externas e
realidades internas. Mas não há apenas um caminho e este não é obrigatoriamente o da passividade.
Por conseguinte, não é verdade que a globalização impeça a constituição de um projeto nacional.
Sem isso, os governos ficam à mercê de exigências externas, por mais descabidas que sejam. Este
parece ser o caso do Brasil atual. Cremos, todavia, que sempre é tempo de corrigir os rumos
equivocados e, mesmo num mundo globalizado, fazer triunfar os interesses da nação.
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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