Inglaterra a seu tempo, percebido as virtudes do “campo aberto” no qual pudessem ter a expectativa
de esmagar qualquer competidor. Mas, tal como a Inglaterra, os Estados Unidos tinham reservas
cruciais.
Uma delas foi usar o seu poder para impedir o desenvolvimento independente de outros
países, como fizera a Inglaterra. Na América Latina, no Egito, no sul da Ásia e em todos os lugares,
o desenvolvimento tinha de ser “complementar” e não “concorrente”. Houve também interferência
em larga escala no comércio. Por exemplo, a ajuda do Plano Marshall estava vinculada à compra de
produtos agrícolas norte-americanos, o que explica em parte o aumento da participação dos
Estados Unidos no mercado mundial de cereais de menos de 10 por cento antes da guerra para
mais de 50 em 1950, enquanto as exportações da Argentina eram reduzidas em dois terços. Tal
como outras medidas destinadas a bloquear qualquer desenvolvimento independente, o programa
de ajuda externa Alimentos para a Paz serviu tanto para subsidiar a agroindústria e as exportações
norte-americanas como para enfraquecer os produtores de outros países. A virtual destruição da
produção de trigo colombiano por esses meios foi um dos fatores que engendraram a indústria da
droga naquele país, acelerada nos últimos anos em toda a região andina pela política neoliberal. A
indústria têxtil do Quênia entrou em colapso em 1994, quando o governo Clinton impôs uma cota,
barrando a rota de desenvolvimento seguida por todos os países industrializados, ao mesmo tempo
em que os “reformistas africanos” eram advertidos de que deviam fazer mais progressos na
formação de um ambiente propício aos negócios e na “ratificação das reformas em direção ao livre
mercado”, com políticas comerciais e de investimento que atendessem às exigências dos
investidores ocidentais.
Essas são algumas ilustrações esparsas.
Mas os desvios mais importantes em relação à doutrina do livre mercado estão noutro lugar.
Um dos elementos básicos da teoria do livre mercado é a proibição dos subsídios governamentais.
Ao final da II Grande Guerra, porém, alguns líderes empresariais norte-americanos eram de opinião
de que a economia marcharia de volta à depressão se não houvesse intervenção estatal. Insistiram
também na tese de que a indústria avançada – especificamente a aeronáutica, embora a conclusão
fosse mais geral “não pode existir satisfatoriamente, numa economia de ‘livre empresa’ pura,
competitiva e não-subsidiada” e que “o governo é a única salvação”. Cito a grande imprensa de
negócios, que também admitiu que o sistema do Pentágono era a melhor forma de transferir custos
para a população. Eles compreendiam que os gastos sociais, ainda que possam desempenhar o
mesmo papel estimulador, não constituem subsídio direto ao setor das grandes empresas, além de
terem efeitos democratizantes e redistributivos. Os gastos militares não têm nenhum desses
defeitos.
E também é fácil de vender. O Secretário da Força Aérea do governo Truman colocou a
questão de maneira muito simples: “Não devemos usar a palavra subsídio; a palavra que devemos
usar é garantia”. Ele assegurou que o orçamento militar “atenderia às necessidades da indústria
aeronáutica”. Como conseqüência, a aviação civil é hoje o setor que lidera as exportações do país, e
a gigantesca indústria de viagens e turismo, largamente baseada no transporte aéreo, é uma das
mais lucrativas.
Foi, portanto, absolutamente apropriado da parte de Clinton escolher a Boeing como “modelo
para as empresas de toda a América”, em sua pregação de “nova visão” do futuro do livre mercado
na reunião de cúpula do Pacífico Asiático em 1993, sendo muito aclamado. Ótimo exemplo de
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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