Chomsky_Noam_-_lucro_ou_as_pessoas

(mariadeathaydes) #1

perseguia a versão dos anos 1950 daquilo que hoje é conhecido como o Consenso de Washington
(“ajuste estrutural”, “neoliberalismo”).^19
Com essas explicações (secretas) sobre os “problemas criados por Castro no hemisfério” e a
respeito da “conexão soviética”, chegamos um pouco mais perto de compreender a realidade da
guerra fria. Mas esse é um outro tema.
Os criadores de problemas têm se revelado um problema não menos grave mais além do
hemisfério, pois continuam a espalhar idéias perigosas entre pessoas que “agora querem ter a
oportunidades de vida decente”. Em fins de fevereiro de 1996, enquanto os EUA viviam uma grande
comoção com a derrubada, por Cuba, de dois aviões de um grupo anticastrista baseado na Flórida
que vinha invadindo regularmente seu espaço aéreo, lançando sobre Havana panfletos
conclamando o povo à rebelião (e também participando dos continuados ataques terroristas contra
Cuba, de acordo com fontes cubanas), os serviços telegráficos divulgavam outras coisas. A
Associated Press noticiou que, na África do Sul “uma multidão exultante recebeu, cantando, os
médicos cubanos” que acabaram de chegar, a convite do governo de Nelson Mandela, “para apoiar a
assistência médica em áreas rurais mais pobres. “Cuba tem 57 mil médicos para os seus 11
milhões de habitantes, enquanto a África do Sul tem apenas 25 mil para 40 milhões”. O grupo de
10 1 médicos cubanos incluía alguns grandes especialistas que, se fossem sul-africanos, “estariam
muito provavelmente clinicando em Johannesburg ou na Cidade do Cabo” pelo dobro do salário que
receberão nas áreas rurais aonde se dirigem. “Desde que começou o programa de assistência
médica a outros países, na \Argélia, em 1963, Cuba enviou 51.820 médicos, dentistas, enfermeiras
e outros especialistas” às “nações mais pobres do Terceiro Mundo”, proporcionando “ajuda médica
inteiramente gratuita” na maioria dos casos. Um mês depois de terem sido saudados na África do
Sul, os especialistas médicos cubanos foram convidados a ir ao Haiti para estudar um surto de
meningite.^20
Um dos mais importantes jornais da Alemanha Ocidental relatou, em 1988, que os países do
Terceiro Mundo vêem Cuba como uma “superpotência internacional” por causa dos professores,
trabalhadores da construção civil, médicos e outros profissionais envolvidos no “serviço de ajuda
internacional”. Em 1985, 16 mil cubanos trabalharam em países do Terceiro Mundo, o dobro do
contingente total de especialistas norte-americanos do Peace Corps e AID. Em 1988, Cuba tinha
“mais médicos trabalhando no exterior do que qualquer nação industrializada e mais do que a
própria Organização Mundial de Saúde”. A maior parte dessa assistência é feita sem nenhuma
compensação, e os “emissários internacionais” de Cuba são “homens e mulheres que vivem em
condições que a maioria dos trabalhadores de ajuda ao desenvolvimento não aceitaria”, o que
constitui “a base do seu sucesso”. Para os cubanos, prossegue o relatório, “o serviço internacional”
é considerado “um sinal de maturidade política”, ensinado nas escolas como a “virtude suprema”. A
calorosa recepção oferecida por uma delegação da ANC na África do Sul, em 1996, e a multidão
entoando o refrão Viva Cuba confirmam esse fenômeno.^21
Falando nisso, vale a pena perguntarmos como reagiriam os Estados Unidos se aviões líbios
sobrevoassem Nova York e Washington e jogassem panfletos conclamando os americanos à revolta,
depois de anos de ataques terroristas contra alvos norteamericanos em solo nacional e no exterior.
Será que os receberiam com flores, talvez? Uma pista foi dada por Barrie Dunsmore, da ABC,
algumas semanas antes da derrubada dos dois aviões, citando Walter Porges, ex-vice-presidente de
novas práticas da ABC News. Porges informa que quando os repórteres da ABC tentaram fotografar,

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