A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
136 / A loucura da razão econômica

do capital-dinheiro e do capital portador de juros que M arx afirma a impossibilida­
de de se manter uma fronteira entre as contradições internas e externas do capital.
Conservar o pressuposto de que não existem problemas de realização permitiu a
M arx construir uma compreensão teórica firmemente organizada da circulação do
capital, mas isso se dá ao preço de um realismo limitado no que diz respeito aos
processos que produzem o mercado mundial. N ão há nada de errado em assumir
tais pressupostos. M as temos o direito de perguntar o que ocorre quando eles são
relativizados ou abandonados.
A globalização que M arx e Engels antecipavam no M anifesto Comunista vem
se criando há muito tempo e ainda está longe de sua plena conclusão. N o último
século e meio, grandes quantidades de capital foram absorvidas na busca de um
“ajuste espacial” aos problemas de realização por meio da ampliação tanto do con­
sumo final quanto do consumo produtivo no mercado mundial. Em bora possa
muito bem ser que o resultado final não seja mais do que a reprodução das con­
tradições de classe internas do capital em escala cada vez maior (como verificamos
com a proliferação de bilionários na China, na índia, no México, na Rússia etc.
ao longo das últimas duas décadas), esse processo vem se desenrolando há muito
tempo, quase sempre associado a conflitos geoeconômicos e geopolíticos desastro­
sos. O planeta mergulhou em guerras mundiais intercapitalistas e em toda sorte de
conflitos no interior das estruturas territorializadas do sistema estatal. Entretanto,
apesar de tudo, seria difícil negar a validade da proposição de M arx de que a “ten­
dência de criar o mercado mundial está imediatamente dada no próprio conceito
do capital” 14. Ficou a cargo dos teóricos do colonialismo, do imperialismo e do
desenvolvimento geográfico desigual a tarefa de incorporar tais processos à teoria
geral da acumulação capitalista.
O s escritos de M arx sobre o colonialismo em geral e a Irlanda e a índia em
particular, além daí escravidão nos Estados Unidos, são volumosos e informativos
(como se pode esperar de um correspondente do N ew York H erald Tribune). Ele
testemunhou o surgimento de conflitos nas fronteiras do colonialismo de ocupação.


[Nas colônias], o regime capitalista choca-se por toda parte contra o obstáculo do
produtor, que, com o possuidor de suas próprias condições de trabalho, enriquece a si
m esmo p or seu trabalho, e não ao capitalista. A contradição.desses dois sistemas eco­
nôm icos diametralmente opostos se efetiva aqui, de maneira prática, na luta entre eles.
O nde o capitalista é respaldado pelo poder da metrópole, ele procura eliminar à força o
m odo de produção e apropriação fundado no trabalho próprio.15

14 Karl Marx, Grundrisse, cit., p. 332.
15 T /* f^m r/i-HÍt/il T n r r r t T r- tf r i
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