A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
O espaço e o tempo do valor / 143

abstrato existe somente através do trabalho concreto/particular. É com o estabeleci­
m ento de um a relação entre esses dois tem pos que surge o conceito de valor enquanto
abstração do tem po social. Reciprocamente, o tem po é estabelecido com o m edida que
precisa ser ela própria mensurada. A determinação do tem po de trabalho socialmente
necessário se refere ao m ovimento do capital com o um todo.

Por esse motivo, “a categoria do tempo está no coração da crítica (marxiana) da
economia política”. M as as diferentes abordagens do tempo coexistem no interior
do raciocinio de Marx:


O tempo mecânico d a produção, o tempo alquímico da circulação e o tempo orgánico da
reprodução são espiralados e encaixados uns nos outros, como círculos dentro de círculos,
determinando os padrões enigmáticos do tem po histórico, que é o tem po da política.26

Em bora adote um quadro temporal cíclico, o Livro II não mergulha muito a
fundo no quadro espaçotemporal que o estudo da circulação do capital exige. Ele
mantém constantes a tecnologia e a form a organizacional, de m odo que as dinâ­
micas progressivas que dom inam o Livro I desaparecem d a análise. M arx investe
boa parte de seus esforços na análise d a reprodução simples (a form a circular de
um a infinidade virtuosa) em oposição à form a espiralada (a m á infinidade) da
acumulação perpétua de capital. O s pressupostos permitem que ele se debruce
mais detidamente sobre certos aspectos do movimento diferencial de diferentes
formas de capital, sem perturbações. Seu foco são os diferentes tem pos de rotação



  • os tempos relativos que diferentes capitais levam para concluir o percurso que
    parte da forma-dinheiro, passando pela valorização, pela realização, pela distri­
    buição e voltando novamente à forma-dinheiro. M arx desm em bra o processo de
    circulação total em tem po de produção e tem po de circulação. O primeiro é defi­
    nido em termos de produção de valor e o segundo é definido com o sua negação.
    E m seguida, ele examina a relação entre o tem po de trabalho — as horas reais de
    trabalho aplicado na produção — em contraste com o tempo de produção — que
    inclui, em muitos casos, o tempo sem nenhum trabalho aplicado. N a agricultura,
    por exemplo, o período de trabalho em que J i á trabalho aplicado pode ser rela­
    tivamente curto, enquanto o tempo de produção de muitos cultivos pode ser de
    um ano. Vinhos e licores exigem muito tempo de fermentação, quando nenhum
    trabalho é aplicado. Vinhos vintage amadurecem nos barris e em seguida nas gar­
    rafas. Isso conta com o tem po de trabalho socialmente necessário? M arx afirma
    que não, ainda que o preço do vinho aumente com a maturação. M as os vinhos


26 Daniel Bensald, Marx for Our Times, cit., p. 77.
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