A loucura da razão econômica / 173
N o Livro III d ’ O capital, M arx revela outra dimensão dessa loucura. O capital
portador de juros aparece com o “a matriz de todas as formas insanas de capital”5.
Nesse caso, o dinheiro volta ao seu papel com o mercadoria, mas um a mercadoria
cujo valor de uso é o fato de poder ser emprestada a outros em quantidades infini
tas para produzir mais-valor. Seu valor de troca são os juros. O próprio dinheiro,
que é a representação do valor, adquire um valor monetário. O s juros “são desde
sempre um a expressão absolutamente irracional”6. O resultado é um a “contradi
ção absurda” em que a “tendência interna do capital aparece com o uma coerção
que lhe é im posta por capital alheio”7. O antivalor passa a imperar. Q uando a cir
culação de capital portador de juros (o poder dos acionistas e credores) se torna a
principal força para a manutenção do movimento do valor, então “se completam
a form a fetichista do capital e a ideia do fetichismo do capital”8. A loucura da
razão econômica é dissimulada pelas formas fetichistas em que o dinheiro aparece
com o se tivesse o poder mágico de criar incessantemente mais dinheiro. Coloco
m eu dinheiro na poupança e ele aum enta exponencialmente, sem que eu precise
fazer mais nada.
“ Para os senhores economistas” , no entanto, “é terrivelmente difícil avançar
teoricamente da autoconservação do valor no capital à sua multiplicação.”9 N ossa
compreensão do m undo se torna refém da insanidade de um a razão econômica
burguesa que não apenas justifica com o promove a acumulação sem limites, en
quanto simula um a infinidade virtuosa de crescimento harmonioso e melhorias
contínuas e alcançáveis no bem-estar social. O s economistas jam ais enfrentaram
a “m á infinidade” do crescimento exponencial infindável, que só pode culminar
em desvalorização e destruição. Ao contrário, louvam as virtudes de uma burgue
sia que triunfantemente “capturou o progresso histórico e o colocou a serviço da
riqueza” 10. Esquivam-se sistematicamente de saber se as crises são inerentes a tal
sistema. As crises, dizem eles, devem-se a atos de D eus ou d a natureza ou a equí
vocos humanos e erros de cálculo (em especial aqueles que podem ser atribuídos
a intervenções estatais equivocadas). Todos ou qualquer um desses motivos pode
provocar um descarrilamento da m áquina supostamente imaculada do infinito
capitalismo de livre mercado. M as os economistas insistem que a m áquina em
si permanece o epítome da perfeição. Q uando se depararem com uma crise, os
5 Idem, O capital, Livro III, p. 523.
6 Ibidem, p. 401.
7 Idem, Grundrisse, cit., p. 338.
8 Idem, O capital, Livro III, p. 442.
9 Idem, Grundrisse, cit., p. 210.
(^10) Trlrm. rir., n. 4 9 0.