A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

190 / A loucura da razão econômica


riqueza excedente da sociedade que não encontram saída nos ramos habituais de investi­
mento, são absolutamente necessárias [...] empresas que necessitem de um grande capital
para se desenvolver e que escoem periodicamente o excedente do capital desocupado.32

O resultado, nesse caso específico, é a produção de um a base material inteira­
mente nova de relações espaciais para a reconstrução dos regimes divergentes de
valor no mundo.
O capital não é o único agente envolvido nessa reestruturação espacial. Movi­
mentos migratórios de massa estão aglomerando forças de trabalho em configu­
rações concorrenciais. Isso já aconteceu antes, mas hoje, assim com o no caso do
cimento chinês, está acontecendo em um a escala sem precedentes. N ão é apenas
o volume do movimento migratório que conta. As forças de trabalho do mundo
foram postas num a relação concorrencial um as com as outras por causa da redução
do custo do transporte e das comunicações, do surgimento de novas tecnologias
organizacionais e da m udança de velocidade (mais do que a redução dos custos) do
movimento, bem como do desenvolvimento de complexas cadeias produtivas. A
compressão espaçotemporal tanto no capital quanto no trabalho produz um a gama
de tensões e respostas políticas que varia de movimentos anti-imigração e ressurgi­
mento de paixões nacionalistas ao acolhimento espontâneo do multiculturalismo
como prenuncio de um futuro diferente para a humanidade.
As tensões decorrentes dessas mudanças rápidas estão por toda parte e as popu­
lações afetadas por elas estão cientes disso, sentem as consequências e implicações
desse processo e às vezes agem com base nessa percepção. N a noite do dia 20 de
junho de 2013, por exemplo, mais de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas das
cidades brasileiras em um movimento maciço de protesto. A maior manifestação
ocorreu no Rio de Janeiro e reuniu mais de 100 mil pessoas. C om o era de se espe­
rar, foi recebida com violência policial. Protestos esporádicos já estavam ocorrendo
havia mais de um ano em diversas cidades brasileiras. Liderados pelo Movimento
Passe Livre, que há muito vinha se mobilizando a favor do transporte gratuito para
os estudantes, os protestos anteriores haviam sido em larga medida ignorados. N o
início de junho de 2013, porém, o aumento das passagens do transporte público
desencadeou protestos mais amplos. M uitos outros grupos, inclusive de anarquistas
black blocs, surgiram para defender os manifestantes a favor do “passe livre” e outros
quando estes sofreram repressão policial. N o dia 13 de junho, o movimento já havia
se transformado em protesto generalizado contra a repressão policial, o fracasso dos
serviços públicos em atender às necessidades sociais e a deterioração da qualidade


32 The Currency Iheory Reviewed (Londres, 1845, p. 32), citado em Karl Marx, O capital, Livro III,
cit., d. 471.

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