A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
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produzir os valores de uso tão urgentemente necessários - enquanto nos Estado
Unidos, ainda o país mais rico do m undo, um terço das crianças vive em situaçã
de pobreza, geralmente em ambientes tóxicos, vítimas de fome e envenenament
por chumbo, sem acesso a serviços sociais elementares e oportunidades de educo
ção por conta de urna política de austeridade imposta à população. O que pode s<
mais insano do que isso?
O que M arx faz, tanto em O capital como em outros escritos político-económ
eos, é apontar um a maneira de esclarecer as confusóes criadas pelas maquinaçóí
diárias do m odo de produção capitalista e chegar à sua essência — leis internas c
movimento - pela formulação de abstrações articuladas em um a teoria simples (i
no fim, não tão simples) da acumulação infindável de capital.
A verdadeira ciência começa quando trazemos esses conceitos, abstrações e fo:
mulações teóricas de volta à vida cotidiana e mostramos como eles podem ilumin;
os porquês das lutas cotidianas que as pessoas em geral, mas em especial os trab;
lhadores, enfrentam em sua batalha pela sobrevivência. Foi para isso que o conceit
de capital foi criado e era isso o que M arx esperava que O capital enquanto livt
nos ajudasse a realizar. O que espero ter feito com esta exposição do pensament
de M arx é mostrar que seu caminho não é o único a ser seguido, mas sim uir
porta aberta pela qual se pode progredir para um a compreensão cada vez m aior d(
problemas subjacentes à realidade contemporânea. Se queremos compreender esí
realidade, com todas as suas expressões políticas confusas e aparentemente insana
é fundamental investigar com o o capital opera. Se a política hoje parece insar
(como a mim me parece), certamente a loucura da razão econômica tem algo a vi
com isso. D e fato, às vezes é com o se estivéssemos em um mundo político violent
e vingativo, que procura um sujeito para malhar e culpar. Certamente o capital ná
é o único sujeito possível de um a investigação rigorosa e exaustiva dos nossos malí
contemporâneos. M as fingir que ele não tem nada a ver com nossos padecimentc
atuais e que não precisamos de uma representação convincente de como ele fimek
na, de como circula e de como se acumula entre nós, e não de uma representaçíi
fetichista e apologética, constitui um a ofensa contra a humanidade, que, caso esi
consiga sobreviver, a história julgará com severidade.

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