A visualização do capital como valor em movimento / 29
O que é retirado da distribuição por meio de impostos sustenta gastos estatais
que afetam a demanda por mercadorias. Isso contribui para a realização de valores
no mercado. Estratégias de intervenção estatal para estimular a demanda efetiva
(como prevê a teoria keynesiana) se tornam assim uma possibilidade real, em par
ticular quando a circulação de capital parece enfrentar dificuldades ou demonstra
falta de vigor. Uma resposta típica a uma situação em que taxas de lucro são baixas
demais para incentivar investimentos privados no processo de valorização é criar
um “pacote de estímulos”, injetando uma demanda efetiva mais forte no interior
da economia por meio de uma variedade de medidas geralmente orquestradas pelo
Estado. Para isso, normalmente o Estado toma empréstimo de banqueiros e finan
cistas (e, por meio deles, do público em geral).
Em outros casos, entretanto, esses fundos são diretamente reinvestidos em for
mas capitalistas de produção, ainda que sob domínio estatal. Na década de 1960,
no Reino Unido, na França e no Japão, setores importantes da economia eram
propriedade do Estado, como se dá na China hoje. Embora essas entidades sejam
nominalmente independentes e autônomas em relação às políticas do poder estatal,
a orientação delas como utilidade pública organizada para o bem público, em con
traste com empresas com fins puramente lucrativos, altera a forma como elas se rela
cionam com a circulação do capital. Parte considerável da circulação do capital passa
pelo aparato estatal e nenhuma análise do capital em movimento estaria completa
sem a consideração desse fato. Infelizmente, Marx não tenta integrá-lo a sua teoria
geral. Ao contrário, atém-se a um modelo de concorrência perfeita do funciona
mento do capital e, na maior parte das vezes, deixa de lado as intervenções estatais.
Distribuição entre as diversas facções do capital
A parcela do valor e do mais-valor que resta depois que o trabalho e o Estado
retiram suas partes respectivas é dividida entre as várias facções do capital. Ca
pitalistas individuais recebem, por motivos que avaliaremos mais adiante*, uma
parte do valor e do mais-valor total de acordo com o capital que eles adiantam,
e não de acordo com o mais-valor que geram. Parte do mais-valor é absorvida
pelos proprietários na forma de aluguel de terrenos e imóveis, ou como licenças e
royalties por direitos de propriedade intelectual. Daí a importância das atividades
de rent-seeking no capitalismo contemporâneo. Capitalistas comerciantes também
retiram sua parte, assim como os banqueiros e os financistas, que formam o nú
cleo da classe dos capitalistas monetários e desempenham um papel decisivo tanto
facilitando como promovendo a reconversão do dinheiro em capital-dinheiro.
*V f.p. 43. (N.T.)