Clipping Banco Central (2020-08-11)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Brasil
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

citados em 1930 e assim continua hoje. A
reforma eleitoral, uma necessidade atual para
limitar o número de partidos e a influência do
poder econômico nas eleições, já era um
clamor. Avançamos muito nesses anos na área
eleitoral, porque o voto não era secreto, as
mulheres não votavam nem eram votadas,
assim como os analfabetos. E os eleitos eram
escolhidos por atas das juntas apuradoras,
uma aberração. Mas o impacto do poder
econômico na escolha dos políticos continua
enorme, embora mais disfarçado e sofisticado.


Os candidatos a presidente têm usado
constantemente o discurso de combate à
corrupção para se eleger — o tema é e quase
sempre foi um excelente cabo eleitoral (ou
ditatorial), em geral abandonado no meio do
mandato.


Getúlio o usou para dar o golpe em 1930 e
depois para se eleger com voto popular, em



  1. Jânio Quadros, em 1960, impulsionou
    sua campanha com a marchinha “Varre, varre,
    vassourinha!/Varre, varre a bandalheira!/Que o
    povo já tá cansado de sofrer dessa maneira”.
    Os militares deram o golpe de 1964 com o
    discurso do combate à corrupção e à
    subversão. Fernando Collor se elegeu como o
    político novo que iria acabar com os marajás
    sugadores dos recursos públicos. Fernando
    Henrique, Lula e Dilma deixaram mais para
    segundo plano o discurso anticorrupção, até
    porque tinham enormes desafios na área da
    economia. Mas Jair Bolsonaro voltou à carga,
    usando bastante a pecha da corrupção e se
    apropriando da Operação Lava-Jato para
    atingir os adversários políticos. Getúlio se
    tornou ditador em plena crise econômica
    global, muito similar em sua magnitude à que
    ocorre hoje. Nossa democracia, não tão
    consolidada quanto se imagina, terá de ser
    suficientemente forte para impedir que o
    totalitarismo seja, outra vez, a via por onde


passarão as medidas necessárias para superar
a crise e administrar a pós-pandemia.

Mudando de assunto, mas nem tanto, a grande
corrida brasileira (e global) de hoje não é contra
a corrupção, mas sim a da vacina contra a
covid-19. Há quase duas centenas de vacinas
em desenvolvimento pelo mundo, em todos os
continentes. Os russos, afoitos, prometem
começar a imunizar as pessoas a partir de
setembro. Chineses, americanos, ingleses e
vários laboratórios pelo mundo já estão no fim
da fase de testes, incentivados pelos governos
e também por doações da iniciativa privada.

No Brasil, é fácil observar que os políticos
espertos já perceberam que essa corrida pode
oferecer um magnífico troféu na linha de
chegada.

O presidente Jair Bolsonaro já apostou suas
fichas na vacina da Universidade de Oxford.
Liberou quase R$ 2 bilhões. João Doria,
governador de São Paulo, que tem o
competente Instituto Butantan em suas mãos,
trabalha arduamente para conseguir ser o
primeiro a oferecer 240 milhões de doses da
vacina chinesa da Sinovac para a “totalidade
dos brasileiros”, não apenas para os paulistas,
e “de graça”, como gosta de enfatizar.
Evidentemente, eles não podem ser criticados
por isso. Trata-se de uma causa nobre, porque
a vacina é a grande esperança dos brasileiros
e de toda a humanidade neste momento para
vencer a pandemia.

Fernando Henrique Cardoso também não podia
ser criticado quando apadrinhou o lançamento
do Plano Real. Ele não é economista nem fez
um único cálculo para sustentar o plano
macroeconômico. Cercou-se de técnicos.
Entretanto, ao patrocinar o programa que
venceu a inflação, a maior aspiração da
sociedade brasileira na época, passou a ser um
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