Clipping Banco Central (2020-08-11)

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Banco Central do Brasil


O Globo/Nacional - Sociedade
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

A HORA DA CIÊNCIA - Luto,


esperança e utopia


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Autor: Margareth Dalcolmo

Nestes dias em que o luto entre nós se agudiza,
pela morte de Dom Pedro Casaldáliga, esse
catalão, santo e profeta, que aos 40 anos
abraçou o Brasil profundo como a sua definitiva
"tierra de los hombres", sentimos hoje o que ele
chamaria simbolicamente da quebra da
esperança, a que não pode haver, nem na
resistência, nem na escolha de caminhos para a
vida. Frente aos 100 mil mortos pela Covid-19
no país, na construção ou desconstrução do
horror, ainda teremos que disciplinar nosso
imaginário para consolidar registros de memória
desse luto coletivo gerado pela epidemia, por
tantas vidas perdidas e mortes evitáveis, e pela

absoluta insensibilidade dos poderes vigentes
diante de números, taxas, curvas e gráficos,
olhados por vezes como charges, e não como o
retrato de uma realidade que poderia ter sido
pelo menos amenizada. Quando pensamos em
grandes líderes na Humanidade que choraram
diante da vitória ou da derrota, não por elas per
se, mas por seus mortos, com a dor do
irrevogável, entendemos a História. Como
Alexandre o Grande, que viu suas
inexpugnáveis falanges se desmontarem e os
12 mil mortos em sua batalha para atravessar o
Indocuche; flechado no pulmão, mas lúcido e
com grandeza para chorar; ou a comoção de
Churchill e Roosevelt vendo os 4.400 soldados
mortos na praia de Omaha na Normandia, ou
Barack Obama, ao se referir às crianças mortas
no massacre da escola de Sandy Hook, em
Connecticut, ou ainda o Papa Francisco ao
visitar Auschwitz.

Estamos neste momento processando novas
inquirições científicas que poderiam explicar a
variação de comportamento da pandemia em
diferentes lugares do planeta - como tipos
sanguíneos e variantes genéticas ligadas ao
gênero masculino relacionados à severidade da
doença, independentemente de condições
preexistentes, fatores ecológicos ou étnicos que
justificariam o controle da doença em regiões
onde não se aplicaram boas taxas de
distanciamento social (como no Norte do país),
a própria patogênese da Covid-19 e suas
sequelas, vacinas como a grande solução e o
quanto poderão conferir de imunidade, e até se
abraços, esse gesto que tanta falta nos faz,
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