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O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
CARLOS ANDREAZ - Breve
retrospectiva da infâmia
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O bolsonarismo é uma máquina para a ruptura.
Um fenômeno reacionário que fareja
oportunidades por meio das quais se enraizar e
corroer. Uma pandemia, por exemplo. O que
oferecería melhores condições para a
aceleração do rompimento de nosso tecido
social do que o estado de calamidade
decorrente da mobilização por enfrentar uma
peste agressiva e desconhecida?
A história do bolsonarismo nesses meses,
desde março, é a história da guerra cultural
batalhada sobre corpos; em que, afinal, o fato
foi desacreditado, desinformação em
desinformação, até a inexistência, ali desde
onde tudo será versão.
Nesse período até que chegássemos aos 100
mil mortos, a indústria bolsonarista avançou sua
for j a de teorias da conspiração. Ou teremos
esquecido, vírus já entre nós, de o presidente
acusando fraudes - teria até provas - no
processo eleitoral de 2018?
Foi nesses cerca de cinco meses que Bolsonaro
conseguiu implantar o estado da arte para a
desconfiança entre nós; quando, contaminada a
fé pública, não acreditamos que ele estivesse
infectado pela Covid-19; quando supusemos
que o sujeito mentisse - manipulando a própria
saúde - para colher benefícios políticos ainda
ocultos.
Um presidente que aproveitou o clima de
exceção para não apenas aviar sua troca de
pele, deixando as carcaças eleitorais lavajatista
e guedista no caminho, mas também para afiar
seu cerco autocrático às instituições. Ou não
estará aí - implantado enquanto discutíamos
uma possível polícia política a partir do
aparelhamento bolsonarista da PF - um
Ministério da Justiça que produz dossiês contra
críticos do governo?