Clipping Banco Central (2020-08-11)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Ou já teremos apagado da memória que foi
nesse intervalo que o golpismo bolsonarista
encontrou picada para testar as instituições
sobre uma perversão do artigo 142 da
Constituição, de súbito apregoado para
estabelecer as Forças Armadas como poder
moderador a serviço do Executivo?


Quem se lembra de o presidente discursando
diante do QG do Exército para aglomerados,
em cujas manifestações se lia "Intervenção
militar com Bolsonaro no Planalto"? Quem não
se recordou dessa passagem ao ser informado,
segundo a revista "Piauí", de que houve, em
maio de 2020, o dia em que o presidente
declarou que interviria no Supremo?


A ação de Bolsonaro nesse período foi
consciente. Não há dúvida de que tenha
responsabilidade sobre as mortes. Um vírus
traiçoeiro, de letalidade antecipada noutros
continentes - e o sujeito não apenas buscando
o corpo a corpo, como também estimulando,
em palavras, que desprotegidos o fizessem.
Haviam morrido 5 mil brasileiros. E assim ele -
como um sociopata - reagiu: "E daí? Lamento.
Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas
não faço milagre".


Leitor, atenção: o presidente, em abril,
questionou por que as escolas estavam
fechadas. Repito: em abril; não agora quando,
ainda paralisadas as aulas, discute-se alguma
retomada. No mesmo abril, Bolsonaro afirmou
que, segundo parecia, o vírus começava a ir


embora. Nessa época, vendendo a ilusão da
imunidade para a juventude, recorreu a seu
passado de atleta para desdenhar a gripezinha.
E, comerciando ignorância no mercado da
miséria brasileira, multiplicou heróis da
resistência entre os muitos entre nós que,
mergulhados no esgoto por obra de um país do
século XIX, teriam anticorpos contra a peste
porque habituados "ao cocô". Tudo seria
resolvido se enfrentássemos o problema como
homens - declarou o mito.

O presidente: um agente para o conflito que
conseguiu levar seu nós contra eles total para o
terreno imoral de uma oposição entre saúde
pública (afetada preocupação elitista) e saúde
econômica. Do que derivou haver Bolsonaro
difundido um vídeo falso sobre
desabastecimento de comida. Ele era a voz em
defesa da economia popular, mas foi com os
barões do capitalismo de Estado que armou
aquela blitz, dentro no STF, em nome da tese
de que "o remédio não pode ser pior que a
doença".

Um curandeiro, o presidente, que oferece
placebo ideológico - o remédio da direita -
como se fosse o corpo de Cristo contra o vírus
chinês. Ele é o ministro da Saúde. Fazendo o
Exército de mula. Baixando num general da
ativa, como se seu cavalo fosse, para o
exercício de suas crendices populistas; para
ver se colava um pacote de sonegação e
maquiagem de dados oficiais sobre vítimas da
doença.
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