Clipping Banco Central (2020-08-11)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Finanças
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Selic

ações até”, resumiu um gestor, reforçando que
a história que se conta sobre um negócio é
parte do mundo dos investimentos e tem papel
fundamental para o sucesso, em especial no
curto prazo. “O peso é ainda maior no
segmento de tecnologia, em que as empresas
inovadoras ficam 10 anos sem ter retorno e fica
a impressão de que o momento em que o
storytelling é confrontado com o resultado
nunca chega”, diz. “No longo prazo é que vai
importar o resultado, o lucro, a margem, etc.”


Para Roberto Dumas Damas, professor e
especialista em finanças e economia da
empresa de research Omninvest, o fato de o
Brasil ter voltado aos preços de ativos
observados antes da pandemia, num momento
de atividade contracionista, é uma
característica típica de bolha. “No Brasil, temos
visto a pessoa física saindo dos PICs [títulos de
capitalização] da vida para a bolsa. Calma!
Vejo aluno do primeiro semestre querendo
operar opções, e nem sabe o que é Black-
Sholes [modelo de precificação de ativos].” A
recomendação é aproveitar a onda, sim, mas
consciente de que pode não haver
fundamentos para isso. Semana passada,
circulavam informações no mercado brasileiro
sobre pessoas físicas perdendo dinheiro com
opções sobre ações de Cogna. Faltou sorte
aos principiantes, provavelmente.


Bate-papos sobre ações e pessoas físicas
arrojadas enxergando a bolsa talvez até como
um cassino sempre existiram. A novidade é
que a quantidade e o peso desses investidores
só cresce. E em vez de fóruns restritos, eles
trocam ideias no Twitter. Conforme dados da
B3, o número de pessoas físicas que investem
na bolsa este ano aumentou 68% para 2,
milhões. Olhando o volume negociado, que
inclui compras e vendas de papéis, na média
do ano, a pessoa física respondia por 20,9%.
Em julho, esse percentual ficou em 26,9%. Ano


passado, fechou em 17,1%.

Os gestores profissionais estão ainda lidando
com esse cenário novo de precificação na
pandemia. Sara Delfin, sócia-fundadora da
Dahlia Capital, avalia que o Ibovespa subiu a
níveis pré-crise porque há um pedaço muito
pequeno da economia real na bolsa brasileira.
“São as maiores e melhores companhias nos
respectivos setores.” Conforme cita, o setor
bancário representa cerca de40% do índice e,
naturalmente, vai sofrer com a dinâmica de
juros baixos e a competição das novatas de
tecnologia financeira, mas não há dúvidas
sobre a solvência das grandes instituições
listadas. Depois vêm Petrobras, Vale, as
siderúrgicas e Ambev, companhias de porte
que vão ter seu crescimento impactado, mas
vão continuar existindo no longo prazo,
prossegue a executiva.

A segunda derivada desse movimento é que o
Brasil nunca conviveu com um CDI tão baixo,
sendo a primeira vez numa crise que o BC
corta a Selic, em vez de aumentá-la. “A própria
migração da pessoa física provoca a
valorização porque com rendimento de 2% [na
renda fixa], não faz mais sentido. Há um pouco
mais de apetite por risco e para comprar
empresas de primeira linha, que pagam bons
dividendos.” O lado bom é que com a taxa
básica na mínima histórica, é mais fácil para as
companhias se recuperarem e ter acesso a
crédito.

Do ponto de vista do valuation há, entretanto,
muitas dúvidas. “A gente olha a modelagem e é
difícil ter convicção para os lucros de 2021 e
2022”, diz Sara. Na construção dos casos,
hoje, a gestão acaba se fiando muito mais na
narrativa do que nos números. “O varejo on-line
pode dobrar em cinco anos? Pode. Triplicar o
market share? Também pode. Tudo aconteceu
para acelerar alguns temas em certos setores,
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