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Correio Braziliense/Nacional - Opinião
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

genialidade conceitual e de articulação política.
Tal como Nabuco nos dias de maio de 1888
para aprovar a Lei Áurea. Passados anos, foi
Celso Furtado quem, no livro O mito do
desenvolvimento, nos trouxe a percepção dos
limites do desenvolvimento, tanto quanto
Nabuco nos lembrou que a Abolição não se
completaria sem reforma agrária e educação.


Por tudo isso, 100 anos depois de seu
nascimento, o pensamento e o exemplo de
Celso Furtado estão vivos nas lembranças e
homenagens que os historiadores, economistas
e políticos fazem à sua obra. Vivo também em
milhões de brasileiros que, sem saber, usam
conceitos e palavras que ele criou, sonham
para o Nordeste e para o Brasil rumos que ele
definiu, temem resultados negativos para os
quais ele alertou. Raros intelectuais e
homenageados são lembrados tantos anos
depois de sua obra por quem o estudou e por
quem pensa como ele ensinou, mesmo sem
conhecer a obra.


A maior homenagem a ele não é, entretanto,
lembrar a importância da obra, mas ter a
consciência de como ele nos faz falta em um
momento em que o Brasil vive em transe, não
em transição, sem coesão, nem rumo.
Cometemos muitos equívocos nas duas
décadas sem Celso. Uma das maiores foi
burocratizarmos e amarrarmos o pensamento.
Burocratizamos nas carreiras universitárias e
amarramos em siglas partidárias. Deixamos de
usar plenamente a liberdade criadora, paramos
de ousar, nos apegamos às ideias do passado
como se fossem camisas de força de uma
lucidez superada pela realidade. Ficamos
críticos ou bajuladores, não analistas e
intérpretes inovadores.


A maior lição de Celso Furtado foi o exemplo
de pensar com rigor analítico e com liberdade
imaginativa, sem amarras, sem líderes e sem


siglas partidárias. Ninguém amarrou o
pensamento de Celso Furtado, ninguém lhe
tolheu a imaginação e todos reconhecem seu
rigor. É nisso que precisamos seguir
avançando no que ele formulou. Seu
pensamento um dia evoluirá graças aos que
lhe seguirem o exemplo, tanto quanto ele fez
avançar o pensamento de seus mestres.

Olhando para a própria obra e para os desafios
de hoje, a maior homenagem ao Celso, nos
seus 100 anos, é agradecer pelos pilares
intelectuais que ele nos deu nas ideias e no
caráter. E pensar novas ideias e novos
instrumentos para enfrentar os novos desafios.
Agir como ele agiria: pensando além do que ele
nos ensinou.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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