Clipping Banco Central (2020-08-11)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Numa de suas lives semanais, o presidente Jair
Bolsonaro, ao comentar o cenário da eleição
presidencial americana, confirmou que torce
por Trump, mas vai tentar aproximação caso
Biden seja o vencedor. "Se não quiserem,
paciência", simplificou. Bolsonaro ouviu e está
seguindo o conselho de John Bolton, ex-
secretário de Segurança Nacional de Trump,
de buscar fazer pontes com o candidato
democrata.


Costumo fazer distinção entre a relação
pessoal Bolsonaro-Trump e a relação
institucional entre as burocracias brasileira e
norte-americana.


Caso Biden seja eleito, vai terminar a relação
pessoal estabelecida com Trump por influência
ideológica. Manifestação de Eduardo Bolsonaro
a favor de Trump recebeu imediata resposta de
deputado democrata, presidente da Comissão
de Relações Exteriores: "A família Bolsonaro
precisa ficar fora da eleição dos EUA".


Em termos institucionais, o relacionamento
bilateral continuará a ter baixa prioridade e o
novo presidente poderá até fazer alguns gestos
para afastar o Brasil da China. As críticas
continuarão, como vimos recentemente,
quando, por conta da política ambiental e de
direitos humanos em relação aos índios,
Comitê de Orçamento da Câmara, relatório do
Departamento de Estado e carta de deputada
democrata criticaram o governo brasileiro e
pediram que não seja negociado nenhum
acordo comercial com o Brasil, haja sanções
contra Brasília e seja vetada ajuda na área de
defesa ao Brasil como aliado da Otan. O
alinhamento com os EUA, nem sempre
concretizado nas relações bilaterais, tornou-se
automático nas votações de resoluções sobre


costumes, mulheres, direitos humanos, saúde e
sobre o Oriente Médio nos organismos
multilaterais (ONU, OMS, OMC). Em muitos
casos o Brasil fica isolado com EUA e Israel e
nas questões de costumes fica acompanhado
de países conservadores, como Arábia
Saudita, Líbia, Congo e Egito. Com a mudança
na política de Biden nos organismos
multilaterais, o Brasil tenderá a ficar ainda mais
isolado, sem a companhia dos EUA.

A geopolítica será o dilema mais sério para o
governo brasileiro caso Biden vença a eleição.
A crescente presença da China na América do
Sul está na raiz da decisão de Washington de
apresentar candidato a presidência do BID
contra um representante brasileiro, e pode ser
indício de um renovado interesse político dos
EUA para conter Beijing com pressão
financeira sobre os países da região. Seria a
volta da Doutrina Monroe. O apoio brasileiro à
proposta dos EUA para discutir se países que
não são economia de mercado podem ser
membros da OMC - o que, na prática, excluiria
a China - e uma eventual decisão contra a
empresa chinesa na licitação do 5G indicariam
que o Brasil teria escolhido seu lado no
confronto. Será que os EUA levarão o governo
brasileiro a se chocar com a China? Não
convém ao Brasil ajudar a trazer a disputa
geopolítica para a região, nem tomar partido
por um dos lados numa longa disputa que está
apenas começando. Permanecer equidistante é
o que defende o vice-presidente Hamilton
Mourão.

Menos ideologia e geopolítica e mais interesse
nacional é o que o bom senso recomenda
nesse momento de incerteza nos rumos da
relação Brasil-EUA.
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