REVISTA DRAGÕES agosto 2018
CICLISMO #50
grande profissional que nunca
se rende”. Dezanove dias depois
de perder os sentidos e de se
recusar a abandonar a corrida
quando se apercebeu que os
médicos da Volta se preparavam
para o levar para o hospital,
Vinhas sorria, hipnotizado pela
atmosfera do Dragão e ainda
de pernas e braços ligados.
Na Senhora da Graça, no final
de “uma etapa mítica” e de “uma
subida impressionante”, Raúl
dedicou a vitória a Vinhas, a quem
chama irmão. “Ao cortar a meta,
desenhei um V com os dedos para
lhe agradecer todo o esforço que
estava a fazer para continuar em
prova e para ajudar a defender
a camisola amarela que eu
vestia”, recordou. “Só nessa etapa
puxou durante 80 quilómetros
ou mais!”, acrescentou,
ainda impressionado.
Mas agora, no Dragão, outras
emoções impunham a
interrupção da conversa, para
retomar depois da volta de
consagração, dos aplausos,
de despir a camisola amarela,
confiscada pelos Super Dragões,
e de vestir a pele de líder de
claque, de megafone em punho
e cântico pronto: “Azul e branco
é o coração, azul e branco é
coração, allez, allez!”. E a bancada
foi na roda de Alarcón.
“Então, como foi?”. Alguns minutos
depois, retomávamos a entrevista
no mesmo lugar. “Que posso
dizer?”, respondeu com uma
pergunta, enquanto procurava
as melhores palavras e apontava
para a pele de galinha no braço
esquerdo que não o deixava
mentir: “Estou supercontente
e a equipa também. A forma
como os adeptos nos recebem é
impressionante. Muito obrigado,
grandíssimos”. No dia seguinte,
Gustavo Veloso escrevia no
Instagram: “Oxalá as chegadas
à meta estivessem cheias com
tanta gente. Foi incrível.”
“Nenhuma outra equipa de
ciclismo tem isto, seja do World
Tour ou de outra categoria
qualquer”, observou Alarcón,
tentando medir a dimensão de
tudo o que acabara de acontecer.
“Isto é único. Um estádio
inteiro a aplaudir-nos, a gritar
os nossos nomes?... Só nós, que
somos vencedores, podemos
viver algo assim”. Recuperou
o agradecimento do parágrafo
anterior e estendeu-o aos adeptos
que o incentivaram na estrada,
ao longo dos 12 dias de prova:
“Transmitem-nos tanta energia
para a corrida que, por vezes, até
parece que nos vão a empurrar,
que dividem o esforço connosco.
À custa deles vamos redescobrir
forças quando julgamos que
já atingimos o limite, que já
não dá para mais. Mas dá. Eles
fazem-nos sentir especiais”.
Iker Casillas, jogador que admira
desde sempre, entra na conversa
precisamente na categoria dos
“especiais”, ao lado de Miguel
Indurain, que venceu o Tour por
cinco vezes. Já se cruzou com
Casillas, mas ainda não teve a
oportunidade de o conhecer. “Vi-
o na gala dos Dragões de Ouro
do ano passado, mas gostava
de conversar um pouco com
ele”, sorri. Para Raúl, Iker é só “o
melhor guarda-redes do mundo”.
Despediu-se com um abraço e
a prometer mais trabalho para
se tornar o primeiro a vencer a
Volta a Portugal por três vezes
com a camisola do FC Porto.
Afinal, não é por acaso que os
companheiros de equipa lhe
chamam “La Máquina”... E voltou
para trás só para dizer que,
se antes já era portista, agora
ficou “portista para sempre”.
1964
Joaquim Leão
2016
Rui Vinhas
1981
Manuel Zeferino
2018
Raúl Alarcón
1979
Joaquim Sousa Santos
2017
Raúl Alarcón
1982
Marco Chagas
“Nenhuma outra equipa de ciclismo tem isto, seja
do World Tour ou de outra categoria qualquer.
Isto é único. Um estádio inteiro a aplaudir-nos,
a gritar os nossos nomes?... Só nós, que somos
vencedores, podemos viver algo assim.”
“Transmitem-nos tanta energia
para a corrida que, por vezes, até
parece que nos vão a empurrar,
que dividem o esforço connosco.
À custa deles vamos redescobrir
forças quando julgamos que
já atingimos o limite, que já
não dá para mais. Mas dá. Eles
fazem-nos sentir especiais.”
Raúl Alarcón e a equipa da W52-FC Porto foram homenageados no
Estádio do Dragão durante o intervalo do FC Porto-Vitória de Guimarães