A Bola - 20200811

(PepeLegal) #1

A BOLA


Terça-feira
11 de agosto de 2020


29


Vamos conversar


[email protected]


OPINIÃO


Por
FERNANDO GUERRA

O médio do Leicester,
apesar de ter mais
um ano de contrato,
gostaria de voltar
ao Sporting, mas foi
pródigo em elogios
a Jorge Jesus e abriu
a porta ao FC Porto

Adrien Silva em saldos


A

DRIEN SILVA confessou
em entrevista a A
BOLA/A BOLA TV que o
seu nome não está em
cima da mesa de reforços
do Sporting e tomou conhecimen-
to dessa realidade porque um inter-
mediário, a seu pedido, falou com
o presidente e o treinador e ambos
terão confirmado que assim é.
Num modelo de entrevista que se
vai transformado em objeto de luxo
nos tempos de hoje, em que os ca-
nais oficiais de comunicação tudo
querem controlar e nada permitem


que se diga que não deva ser dito no
interesse deles, tentando reduzir o
espaço de informação ao óbvio e ao
banal, a jornalista Irene Palma, em
trabalho para o jornal A BOLA e a
televisão A BOLA TV, remou contra
a maré e coloca a sua assinatura
numa peça que, no mínimo, é um
sinal de revolta e um interessante
convite à discussão.
O jogador parece ter ficado in-
comodado com a recusa do Spor-
ting, mas faz pouco sentido que-
rer regressar à casa de partida três
anos depois de a ter trocado na se-
quência de um processo de trans-
ferência inusitadamente turbulen-
to e que o obrigou a seis meses de
paragem até poder retomar a com-
petição regular em Inglaterra.
Adrien lutou pelo seu futuro,
por um contrato melhor, bem me-
lhor, direi, numa das principais li-
gas mundiais e quanto a isso ne-
nhum pecado se lhe aponta. O
problema é que talvez tenha dado
um passo maior do que a perna e
o profissional que era admirado e
respeitado na pacata vidinha da
periférica liga lusa depressa desa-
pareceu no campeonato inglês,
enorme, frenético e impiedoso,
em que cada jogo é encarado como
sendo o mais importante de todos
e onde os bons sobrevivem, os

muito bons destacam-se e os vir-
tuosos marcam a diferença.
Para quem se deixa seduzir pe-
los sonhos, ser apenas bom não
chega e esse foi o erro de avaliação
de Adrien, habituado a um ambien-
te familiar e protetor que quase tudo
lhe perdoava, quando resolveu ar-
riscar no salto para um patamar de
estrelas, ferozmente exigente. Fê-
-lo para ganhar mais dinheiro, a
oportunidade por que todos an-
seiam, mas falta-lhe justificar no
campo, com exibições a condizer,
a aposta que nele foi feita.

A

desculpa que deu em re-
lação aos treinadores não
me parece adequada
porque, se houver quali-
dade, o trabalho e a de-
dicação, mais tarde ou mais cedo,
acabarão por impor-se. Desistir é
que nunca será decisão recomen-
dável, para o próprio e muito me-
nos para convencer um selecio-
nador, sendo a chamada à equipa
nacional a ambição máxima de
qualquer jogador.
Espantou-me esta entrevista,
pela raridade jornalística que ela
representa, em primeiro lugar, e
por enxergar mal as contradições do
entrevistado, o qual, entre outras re-
velações, se fez convidado para vol-

tar ao Sporting (ganhar o mesmo
que recebe em Inglaterra?), sem
uma razão objetiva para tal atitude,
a não ser a de abdicar de uma aven-
tura demasiado ousada para ele, re-
fugiar-se no aconchego do leão e,
sob a sua proteção, avivar o interes-
se de Fernando Santos.
É uma péssima estratégia, tradu-
tora de alguém que se sente à deri-
va. É legítima a sua vontade de re-
presentar a Seleção campeã
europeia e vencedora da Liga das
Nações, mas se foi emprestado pelo
Leicester e não se afirmou no Mó-
naco, santa paciência, a culpa não
deve ter sido só dos treinadores.
Adrien Silva enredou-se nas ex-
plicações e nas soluções. Foi pródi-
go nos elogios a Jorge Jesus, em que
só faltou pedir-lhe um lugar no
plantel do Benfica [«Conhecemo-
-nos muito bem, sabemos o que
podemos dar um ao outro» ou
«Benfica? Sabemos que com Jesus
é para lutar por títulos e vejo isso
com bons olhos»], mas a jornalis-
ta quis saber mais e perguntou-lhe
se está mentalmente preparado para
jogar no Benfica ou no FC Porto.
Resposta cristalina: «As pessoas
esquecem-se de que somos profis-
sionais, temos família e o que que-
ro é um desafio cativante para lu-
tar por títulos.»

O poder da palavra


Por
DUARTE GOMES

Não há mudanças muito
significativas na letra
ou espírito da lei. Há
pequenas alterações

[email protected]


Alterações às regras na Liga dos Campeões


League que se jogará em Lisboa, es-
tarão já abrangidos pelas novas regras.
Como aqui referi em tempos, não
há mudanças muito significativas
na letra ou espírito da lei. Há peque-
nas alterações e alguns esclareci-
mentos importantes sobre situações
de jogo que deixavam mais dúvidas
do que certezas.
Um deles, muito oportuno, refe-
re-se ao toque acidental da mão/bra-
ço na bola por parte do avançado,
quando o lance resulta em golo. Ora
se a bola entra diretamente na bali-
za adversária, a decisão é clara e mui-
to objetiva: a jogada tem que ser anu-
lada, porque nenhuma equipa pode
beneficiar de um golo obtido com as
mãos/braços (ainda que sem inten-
ção). A dúvida maior dava-se quan-
do o golo só acontecia algum tempo
mais tarde, depois de alguns toques
ou decorridas várias jogadas sobre o
tal contacto involuntário. O esclare-
cimento que o IFAB agora prestou é

bem claro: o toque com as mãos/bra-
ços dos jogadores atacantes só serão
considerados como infração se o golo
ocorrer imediatamente a seguir a
esse contacto. Ou seja, ato contínuo.
Por exemplo, quando a bola tocar na
mão de um avançado e sobrar para
outro, que marca de seguida. Quer
isto fizer que se existirem vários pas-
ses ou se decorrerem alguns segun-
dos depois do tal toque acidental, o
golo deve valer. Imaginem esta situa-
ção: jogador da equipa que ataca vê
a bola ressaltar no seu braço, quan-
do ainda está no seu meio-campo.
Depois disso dá vários passos com a
bola controlada, joga-a para um co-
lega de equipa que corre alguns me-
tros e cruza depois para a área con-
trária. Só depois é que o lance resulta
em golo. Neste caso, é para validar.
Percebido?
Uma outra alteração importante
(e que pode também acontecer na
Fase Final da Liga dos Campeões) é

o reset de cartões amarelos quando o
jogo for para o desempate por pon-
tapés da marca de penálti. A partir de
agora, caso um jogador seja adver-
tido durante o jogo/prolongamento,
a advertência será anulada se o resul-
tado tiver que ser decidido nos pe-
náltis. A justificação é que o IFAB
considera esse um momento poste-
rior ao jogo. E tem razão. É, de fac-
to, um momento distinto, porque o
tempo de jogo foi esgotado e o árbi-
tro terminou a partida. Na prática, se
um jogador que executar (ou defen-
der) um pontapé de penálti para
achar o vencedor vir, por qualquer
motivo, um cartão amarelo, não será
expulso por acumulação ainda que
tenha visto outro (o primeiro) no de-
curso da partida ou prolongamento.
Só será se lhe forem exibidos dois
nessa forma de desempate.
Nota ainda para outra mudança,
desta vez no sentido de proteger os
guarda-redes aquando da marca-

A

INDA que perante um ca-
lendário atípico e inédito,
a UEFA decidiu implemen-
tar as alterações às leis de
jogo (aprovadas para
2020/21), a partir do passado dia 1 de
Agosto. Quer isso dizer que, quer os
jogos da Europa League ainda em
disputa, quer a Final 8 da Champions


F

IQUEI esclarecido, prin-
cipalmente depois de ler
em A BOLA que Rúben
Amorim terá desaconse-
lhado, ou recusado, o
nome de Adrien Silva com base
em argumentação estritamente
técnica. Pretende um reforço para
a zona central do meio campo
«com características bem defi-
nidas e que são em tudo distin-
tas daquilo que Adrien poderia
acrescentar ao Sporting». Ou
seja, o treinador leonino procu-
ra um médio que tenha golo, à
imagem de Bruno Fernandes,
«com vocação claramente ofen-
siva, capaz de ocupar terrenos
adiantados» e não apenas «fazer
os equilíbrios a meio-campo»,
no caso de Adrien que, coinci-
dência ou não, nunca mais mar-
cou um golo desde que viajou
para Inglaterra.
Comparação plena de oportu-
nidade entre dois antigos leões
que seguiram a mesma rota no
mercado europeu: Adrien Silva
continua sem convencer no Lei-
cester, ao invés de Bruno Fer-
nandes, a estrela que mais brilha
no Manchester United e que já é
uma das principais referências na
Liga inglesa.
Se fosse Bruno a pedir para re-
gressar, Varandas e Amorim
iriam recebê-lo ao aeroporto e
fariam uma festa. Porquê? As coi-
sas são como são: Bruno é gran-
de e Adrien não.

ção de pontapés de penálti durante
o jogo. Como sabem, até à data, caso
os GR cometam uma infração antes
da execução do pontapé (por exem-
plo, adiantando ambos os pés para
a frente da sua linha de baliza), se-
riam advertidos se o pontapé fosse
falhado ou defendido. A partir de
agora, o árbitro não atua discipli-
narmente à primeira. O infrator será
avisado e só será advertido se rein-
cidir nessa conduta. Há (e bem) o
entendimento que esse tipo de infra-
ções não eram cometidas com ma-
lícia ou vontade de perturbar o ad-
versário, antes por reação impulsiva
e instintiva a um momento determi-
nante do jogo.
Existem outras mudanças, mas
sobre essas falaremos oportunamen-
te. Até lá, desfrutem do privilégio
que é recebermos, em Portugal, oito
das melhores equipas de futebol do
planeta... a jogarem umas com as
outras. Coisa linda.
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