A BOLA
Terça-feira
11 de agosto de 2020
BENFICA 05
Futebol
Avançado de 29 anos
que passou seis me-
ses pelo Sporting na época
2016/2017 é companheiro de
equipa de Everton Cebolinha
no Grêmio. Diz que o futuro
reforço do Benfica «tem um
repertório incrível de dribles e
que o ponto forte é a finaliza-
ção». E antecipa que vai me-
lhorar com Jesus. André fica a
torcer... pelo Benfica
«Não há melhor treinador
do que Jesus para Cebolinha»
V
IVA, André. Já passaram
quatro anos da sua passa-
gem pelo Sporting. O tem-
po passou a voar. Está tudo
bem consigo?
— É verdade, quatro anos, pare-
ce que foi ontem. Tenho muitas sau-
dades do vosso país. Não estive aí
muito tempo [jogou nos primeiros seis
meses da época 2016/2017], mas foi
marcante. Dessa experiência fica-
ram muitas amizades e o meu cão,
que trouxe comigo para o Brasil. Mas
estou muito feliz aqui [no Grêmio].
— O seu cão?
— Sim, chama-se Kobe Bryant.
— Porquê?
— Gostava muito dele. E arranjei-
-o quando o Kobe se retirou.
— André voltou, entretanto, a
Portugal?
— Sempre que tenho algum tem-
po, passo aí.
— Ficou com saudades?
— Sim. Da comida, muito boa,
das pessoas, muito educadas. É um
país muito bom.
— Qual o prato que mais gostou?
— Bacalhau, claro. Bacalhau as-
sado. O peixe aí é muito bom. E as
sardinhas...
— Quais foram os amigos que cá
deixou?
Entrevista de
NUNO PARALVAS
— Pessoas que conheci fora do
futebol, em restaurantes, por
exemplo.
— E onde gostava de comer?
— Nas docas, no Olivier...
— Continua a falar com ex-com-
panheiros de equipa?
— Não, ainda falo com alguns
brasileiros daquela equipa, como o
Bruno César, o Elias, o Jefferson mas
já aí não estão, como sabem. Mas
estou sempre a torcer pelo Sporting,
vejo sempre os resultados, tento
acompanhar a atualidade, sei que
tem alguns bons brasileiros tam-
bém. Fiquei na torcida e continuo à
espera que acabe o jejum de títulos.
— O que recorda daqueles seis
meses?
— A principal diferença é o padrão
tático. Em Portugal, os treinadores
são muito táticos e inteligentes e en-
tendem bem o jogo. O que mais me
marcou foi a questão tática.
— Também jogou na Champions
contra Real Madrid e Dortmund.
— Jogar contra Cristiano Ronal-
do foi uma das minhas maiores ex-
periências. Não há o que falar mais.
Fizemos grande jogo no Bernabéu
[Sporting perdeu 1-2 com o Real Ma-
Jorge Jesus e André coincidiram no Sporting nos primeiros seis meses da época 2016/
drid mas esteve a ganhar até um minu-
to do fim]. Fizemos grandes jogos. É
uma competição enorme, todos os
jogadores sonham jogar na Liga dos
Campeões. E, digo sempre, arrepia
quando ouvimos o hino da prova.
— Como foi ser treinado por Je-
sus?
— Foi uma experiência ótima. É
um dos melhores treinadores do
mundo. O cara entende muito do
jogo, sabe ler o jogo, taticamente é
muito forte e tira o melhor dos joga-
dores. Ter trabalhado com ele foi
uma honra, sabe tirar maior poten-
cial dos jogadores. Cobra muito por-
que é um cara que quer vencer, gos-
ta da perfeição, vive intensamente o
futebol e é rigoroso diariamente.
— Há uns tempos, Alan Kardec
disse que no início não percebia nada
do que ele dizia. E o André?
— Olha, com o sotaque portu-
guês era um pouco complicado. Às
vezes tinha de perguntar ao Bruno
César o que ele estava a dizer. Mas,
cara, Jesus é um paizão. Todos os jo-
gadores que trabalham com ele gos-
tam dele. Esteve muito bem aqui no
Brasil, no Flamengo, ganhou mui-
tos troféus. Tenho um carinho gran-
de por ele e vou seguir o que ele vai
fazer no campeonato português.
— Tem alguma história engraça-
da com ele?
— Que me lembre... Olha, todo
o mundo sabe, ele cobra muito. No
primeiro treino já me estava a co-
brar o posicionamento. Disse-me
que se continuasse a fazer as mes-
mas coisas não jogaria. Nunca. Cara,
ouvir aquilo no primeiro dia assus-
ta. Depois percebemos que é um
personagem. Ele disse-me que, no
mundo inteiro, em primeiro esta-
va o José Mourinho e a seguir ele. É
muito confiante.
— Ficou surpreendido por ter tro-
cado o Flamengo pelo Benfica?
— Conhecendo-o, sabia que ba-
lançava para ir, Benfica é um gran-
de de Portugal. No Flamengo, ha-
MIGUEL NUNES/ASF
j
ANDRÉ
via identificação dele com o clube
e torcida, vivia uma fase espetacu-
lar, mas fiquei sempre na dúvida.
— Falaram quando se encon-
traram nos jogos entre Flamengo
e Grêmio?
— Sim, falei não só com Jesus,
mas também com o Márcio [Sam-
paio] e o Mário [Monteiro]. O Má-
rio é um grande amigo, boa pes-
soa, e o Márcio é um bom menino.
— De que falaram?
— Não falámos muito de futebol,
ele disse-me que o Rio [de Janei-
ro] ainda é melhor do que Lisboa.
— O que recorda da derrota por
0-5 na meia-final da Taça dos Li-
bertadores?
— Aquele jogo foi um desastre
[para o Grêmio], um dia de azar.
— Agora, vai torcer por Benfi-
ca ou Sporting?
— Fica na torcida pelo Jesus. Te-
nho um carinho muito grande por
ele e ele por mim. E o Benfica tam-
bém está perto de ter companhei-
ro meu. Vou ficar na torcida.
— Jesus pediu-lhe ajuda para
convencer o Everton Cebolinha?
— Não pediu. Essa é uma deci-
são particular do Everton.
— E o que disse ao Cebolinha
sobre o Benfica.
— Quem falou muito bem foram
o [Bruno] Cortez [lateral-esquerdo]
e o Júlio César [guarda-redes], que
jogaram no Benfica. Não tem como
falar mal do Benfica. E o país é
muito bom. O Everton é um me-
nino muito reservado, tímido. O
[Bruno] Cortez tem conversado
mais com ele, como dizemos aqui
no Brasil está dando planta para ele.
— Como joga o Everton?
— Gosta de jogar pela esquer-
da e desequilibra a qualquer mo-
mento. Tem um repertório incrí-
vel de drible e o ponto forte dele
é a finalização. Faz muito golos. É
muito bom no drible e na finali-
zação. Com certeza, Jesus vai ti-
rar mais dele. É um privilegiado
por ter trabalhado com o Renato
[Gaúcho] e agora com Jesus. O fu-
tebol europeu é diferente, por cau-
sa das questões táticas, mas não há
treinador melhor para Cebolinha
do que Jesus.
— Já se despediram?
— Despedidas só quando hou-
ver alguma coisa oficial.
— Quais os seus planos?
— Tenho contrato de mais um
ano e meio, gostaria voltar à Eu-
ropa para fazer mais dois anos aí.
Pretendo morar aí, quem sabe.
Mas não há nada definido por cau-
sa da pandemia.
Foi já desfalcado de Everton Cebo-
linha que o Grêmio venceu, anteon-
tem, o Fluminense, por 1-0, na primei-
ra jornada do Brasileirão.
Já há muito apontado como suces-
sor do agora reforço do Benfica no con-
junto orientado por Renato Gaúcho,
Pepê, avançado de 23 anos, ocupou a
vaga no onze habitualmente reserva-
da a Cebolinha. E após a vitória sobre
o conjunto do Rio de Janeiro — que
também jogou desfalcado de Gilberto,
outra das contratações pedidas por
Jorge Jesus para o Benfica — confes-
sou ter falado antes do jogo com o seu
antecessor, numa espécie de passa-
gem de testemunho.
«Conversámos um pouco no sá-
bado. O Everton disse que agora é co-
migo. Procuro dar o meu melhor aqui
para deixar meu nome na história do
clube», revelou Pepê.
Everton passa
testemunho
Everton Cebolinha gosta
de jogar pela esquerda e
desequilibra a qualquer
momento. Faz muitos
golos. É muito bom no
drible e na finalização