O Jogo - 20200811

(PepeLegal) #1
FREDERICO BÁRTOLO
bbb Hoje, frequentar um cur-
so de treinador em Portugal é
uma tarefa árdua. Se no nível
I (UEFA C) e II (UEFA B) as va-
gas são decididas pelas associa-
ções de futebol do país e credi-
tadas pelo Instituto Português
da Juventude e do Desporto
(IPDJ), nos dois últimos de-
graus não: é a Federação Por-
tuguesa de Futebol (FPF) que
decide quem entra e é a UEFA
que atribui o número de cur-
sos a ministrar. O Grau III (ou
UEFA A) teve 460 tentativas
de inscrição, enquanto o Grau
IV (UEFA Pro e o requerido
para treinar na I divisão) con-
tou com 199 candidatos. Hou-
ve 40 admitidos no UEFA Pro
e 30 no UEFA A, ou seja 70 em


  1. Falta oferta à procura,
    ainda para mais porque o cur-
    so abre a cada duas épocas. De-
    pois, os técnicos têm de reali-
    zar um ano de formação geral
    e específica, outro de estágio e
    outra época como treinador
    para poderem avançar para o
    nível seguinte: tornam-se as-
    sim seis anos de espera se tudo
    correr bem. “Quando fica fora
    um treinador como o Luís
    Freire, que tem seis subidas de
    divisão em oito anos, nível
    UEFA B há mais de 11 anos e
    subiu agora o Nacional à I divi-
    são, é porque algo está errado”,
    exemplifica Joaquim Valinho,
    um dos fundadores da petição
    pública “Reformulação dos
    Processos Formativos dos
    Treinadores de Futebol em
    Portugal”, que conta já com
    2082 assinaturas. Em 2017, es-
    tavam 440 treinadores com o
    nível III em Portugal, Espanha
    tinha 12 mil. “A intenção não
    é falar de caso a caso, mas de
    perspetiva generalizada. Sen-
    timo-nos desapoiados pela
    FPF, que não revê competên-
    cias tiradas no estrangeiro e
    cujo número de cursos é ridi-
    culamente reduzido”, diz a O
    JOGO o técnico que passou
    por Maldivas, Tanzânia, Fin-
    lândia, Tailândia e Índia e que
    ficou suplente no UEFA A.
    Para os cursos UEFA A e Pro,
    que custam acima de 3700 eu-


ros, os anos passados a treinar
em divisões distritais não con-
tam. Pode um treinador ter 10
épocas feitas, sempre a ser
campeão distrital por várias
equipas, que a irrelevância
mantém-se. Isso “trama” Luís
Freire e Luís Loureiro. “Não
percebo por que a FPF não de-
lega cursos, como acontece no
resto da Europa. Devia haver
bom senso: há poucos cursos
para tantos candidatos, mas os
critérios deviam ser diferen-
tes. O Luís Freire precisa ur-
gentemente e não entra no
curso”, diz o ex-técnico do
Casa Pia, campeão do Cam-
peonato de Portugal 2018/19,

REPORTAGEMREPORTAGEM


As Direções estão a apostar
cada vez mais em técnicos
jovens. Apesar de favorecidos
na entrada dos níveis I e II,
tendo até disciplinas feitas
pelo passado como jogador,
muitos ex-atletas foram
condicionados depois. Os
casos de Nuno Espírito
Santo, Marco Silva, Paulo
Fonseca, Sérgio Conceição,
Pedro Emanuel, Pepa e Petit,
todos treinadores da elite,
são exemplos de como em
algum momento viveram
um condicionamento na
formação.


PASSADO LOTE DE


ILUSTRES VIVEU


CONDICIONAMENTO


440


Em 2017, 440 treinadores
tinham o curso de nível
III. No mesmo ano,
Espanha já tinha formado
12 mil pessoas em
semelhante grau

NÍVEL 3


FALTA OFERTA À PRO

TREINADORES Só entraram


70 dos 659 candidatos aos


últimos dois cursos de Grau III e IV


em Portugal. Técnicos exigem


mais oportunidades


Têm surgido cada vez mais
casos de técnicos sem a
formação suficiente na I
liga e os cursos, cujas vagas
são limitadas pela UEFA, só
abrem a cada duas épocas.
Muitos queixam-se que
estão a ser condicionados

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pode solicitar à
UEFA mais turmas para os cursos de treinadores de nível
III e IV, algo que, de resto, já sucedeu no passado. Desde
2013, a FPF solicitou por três vezes um curso extra e este
sempre foi concedido, o que se espera que volte a
acontecer, na circunstância de haver igual solicitação
novamente. Luís Freire, porém, como ainda não fez o
UEFA A, não aparecerá na ficha de jogo como técnico
principal do Nacional da Madeira. Diga-se, todavia, que a
desigualdade em questão é assinalável: Portugal apre-
senta cerca de 11 mil técnicos de futebol inscritos no
IPDJ, sendo que desses só 900 conseguiram chegar ao
último patamar.

FPF pode pedir novo curso e já
o fez com sucesso no passado

ANTF

Terça-feira, 11 agosto 2020
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