53%
TENDÊNCIA
Em 2019, um
relatório com a
chancela da Farrer
& Co concluiu que
em mais de 53% das
agremiações
desportivas do
Reino Unido não
têm mulheres nos
seus quadros
dirigentes. O
número é visto
internamente
como
insatisfatório, uma
vez que o Code for
Sports Governance
obriga a uma
presença bem mais
equilibrada entre
ambos os sexos.OBSERVATORIO
O QUE NOS ESPERA
Que futebol restará?
U
m simples olhar sobre o
calendário de 2020-21
mostra bem o carácter
de transição, para não dizer
pior, da temporada. Apertada
entre a conclusão tardia de
2019-20 e o Campeonato da
Europa de 2020 (que ocorre em
2021, só os números já confun-
dem), a época tem de dar vazão,
em nove meses – e, por
exemplo, para os principais
clubes portugueses –, a quatro
provas nacionais, a competi-
ções europeias, a Liga das
Nações, boa parte das qualifica-
ções para o Mundial e, já agora, a
preparação dos Jogos Olímpicos
e do próprio Europeu. Isto além
dos escalões de formação, que
se alimentam parcialmente dos
mesmos jogadores.
São trabalhos forçados difíceis
de gerir a todos os níveis:
estratégico, atlético, psicológi-
co. Incluem a possibilidade de
intervalos entre partidas
inferiores às 72 horas regula-
mentares e ainda têm a pairar
sobre eles o fantasma da
pandemia, que a perspectiva de
novos picos e confinamentos
transforma numa espada de
Dâmocles. Para (por exemplo)
o FC Porto ou o Benfica,
fornecedores das selecções e
qualificados para a Supertaça, a
primeira coisa a fazer, de modo
a proteger atletas e resultados,
seria esticar os plantéis de
primeira linha. Como tal não é
possível, o futebol vai, necessa-
riamente, cair de qualidade.
Também é disto que se fala
quando se diz que só em 2024 a
modalidade terá recuperado.
“Também” porque ainda há as
questões do público nas
bancadas, da circulação livre
dos adeptos e da generalidade
das indústrias criadas em torno
do jogo. Mesmo a TV, que até
poderia sair a ganhar, terá de
engendrar um modelo de
transmissão que reduza o efeito
desolador dos estádios vazios –
desde logo encontrando novo
modo de tratar o som, porque o
eco das galerias não funciona e
os cânticos enlatados menos
ainda.
Que futebol teremos no fim
disto? Eis a curiosidade.
Fora da caixa
Joel Neto
FILIPE ALEXANDRE DIAS
bbb Ela é mulher, chefe, am-
biciosa, empreendedora, te-
mível e é quase presidente. A
conjugação de todas estas
qualidades têm colocado Ju-
lie Paterson na primeira linha
do râguebi e da Imprensa na
Grã-Bretanha. É que a conta-
bilista galesa de 47 anos é já
considerada a mulher mais
influente no râguebi à escala
planetária, o que a elevou a
um dos rostos do “empower-
ment” feminino em todo o
Reino Unido e não só. Num
segmento largamente domi-
nado por homens, Julie Pa-
terson está a derrubar barrei-
ras centenárias e por um mo-
tivo que ninguém se atreve a
questionar: competência.
Com a pandemia da covid-19
a alastrar, Julie Paterson era
chefe de operações e membro
da administração executiva da
União de Râguebi Galesa(WRU), uma instituição cria-
da em 1881, e que o novo coro-
navírus deixou financeira-
mente à beira do precipício.
Foi justamente nesta altura
que Julie ganhou proeminên-
cia. Qualquer assunto relacio-
nado com o râguebi do País de
Gales, fosse de clubes ou sele-
ção, já passava pela sua secre-
tária, mas Julie Paterson acu-
mulou funções na ausência de
outros gestores, encetando
um plano de recuperação de-
pois de pouco antes ter mos-
trado serviço numa situação
dura. Em 2019, a chefe de ope-
rações liderou uma investiga-ção interna sobre apostas
ilegais que culminou no afas-
tamento sumário de um dos
técnicos adjuntos dos dragões,
Rob Howley, em pleno mun-
dial disputado no Japão –
Howley reconheceu depois a
culpa e foi suspenso de toda a
atividade.
Com a WRU de joelhos há
quatro meses, Paterson viu
oportunidade na calamidade:
começou a aproveitar e otimi-
zar recursos, refrescou qua-
dros e conseguiu mesmo des-
cobrir novas fontes de receita
ao rentabilizar o Millenium
Stadium com eventos além do
râguebi. Vista como uma ins-
piração para as mulheres que
se movimentam na área des-
portiva, a chefe de operações
poderá a breve trecho passar a
chefe-executiva da WRU, fi-
gurando na “short-list” de cin-
co nomes. Entretanto, no se-
guimento de Julie Paterson, há
mais dirigentes mulheres que
se destacam no rugby britâni-
co, casos de Amanda Blanc,
Aileen Richards, Marianne
Okland e Liza Burgess, nos pri-
meiros traços de uma nova
massa dirigente que se dese-
nha, imune a género.
Inflexível, Julie Patersonacabou com uma certa cultura
paroquial nos corredores do
râguebi galês, principalmente
na esfera do seu dirigismo. Em
entrevista ao “Welsh Online”.
“Eu sou direta e não contorno
regras por ninguém. Podia fa-
zer muitos favores e ter mui-
tos amigos, mas prefiro fazer
um bom trabalho e preservar
a minha integridade. O râgue-
bi tem de mudar”, declarou.
Mas Julie Paterson sabe que
ainda tem um caminho a per-
correr. Há pouco tempo foi a
um evento e apareceu na sala
vazia, antes do início da ceri-
mónia. Um senhor acercou-se
dela e disse-lhe para ir buscar o
chá e bolos que faltavam na
mesa porque vinham aí os “fi-
gurões” da WRU. Julie Pater-
son explicou quem era e que as
coisas estão a mudar.
Estão mesmo.Dama de ferro do râguebi
não trata de chá e bolos
Ao otimizar recursos,
encontrar novas fontes de
financiamento e ver na
pandemia uma oportuni-
dade num desporto
dominado por homens, a
dirigente rasga novos
horizontesDIRIGISMO País de Gales e Reino Unido vergam-se à competência de Julie
Paterson, a chefe de operações que está a revitalizar toda uma indústriaFACE AO
SUCESSO DE
JULIE PATERSON,
HÁ MAIS CINCO
MULHERES EM
DESTAQUE NO
RÂGUEBI
BRITÂNICO31
Contabilista, Julie Paterson
ainda tirava o curso
quando, há 31 anos, entrou
na WRU. Hoje, todos os
assuntos relacionados com
râguebi galês passam pela
sua secretáriaCARREIRA
Os dragões estavam arruinados financeiramente em virtude da pandemiaAFPSexta-feira, 14 agosto 2020
http://www.ojogo.pt
t twitter.com/ojogo^29