Adega - Edição 178 (2020-08)

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16 ADEGA >> Edição^178


Sua família é portuguesa, mas você viveu na Espanha
por muitos anos, não?
Aos 13 anos, minha mãe decidiu ir para Ma-
drid, o que a princípio me pareceu o fim do
mundo, mas acabou por abrir as portas a uma
forma de vida completamente diferente. An-
tes vivia perto da empresa familiar e, viver na
Espanha, digamos que quebrou essas raízes
que temos para olhar o mundo de forma dife-
rente. Dos 13 até os 23 anos vivi em Madrid e
me especializei em enologia.

Quando decidiu que sua vida seria ligada ao vinho?
Eu diria que já criança. A minha família é
proprietária das Caves Messias. Meu avô, José
Dias Vigário, quando eu tinha cinco anos, já
me colocava no mundo dos vinhos, dando vi-
nho para provar (muito pouco!). Ele acredita-
va, e eu também, que o vinho é parte da nossa
cultura, razão pela qual deve ser parte tam-
bém da nossa educação. Então, desde peque-
nino, ele me deixava provar um pouco para
descobrir essa complexidade, esses aromas, as
sensações, foi plantando a semente que me le-
vou a dedicar ao mundo do vinho.

Onde começou a trabalhar?
Quando acabei a universidade, queria fixar
os conhecimentos teóricos com os práticos,
então estive mais de três anos na Estação Vi-
tivinícola da Bairrada e, de alguma forma co-
mecei, a fazer os primeiros ensaios. A primeira
safra mais séria já foi na Messias. Fiz já quase
três milhões de quilos de uvas logo de cara. Fo-
ram 33 dias em que dormi, em média, 4 horas
por dia e sequer foram 4 horas seguidas, mas
fiquei feliz da vida.

E por que decidiu sair?
Vi um anúncio no jornal: “procura-se diretor
de produção para uma empresa de Vinho do
Porto - empresa que pertencia ao maior gru-
po de luxo do mundo”. Gostei e decidi que
deveria tentar. Mandei o currículo e fui sele-
cionado para ser o diretor de produção da Bo-
degas Rozès, que pertencia ao grupo LVMH.
Depois de dois anos, perguntaram-me: “não
quer ir para a Argentina? Ficar à frente dos
espumantes?” Não tinha ideia do que era a
Chandon Argentina – foi a primeira filial, em


  1. “Pensamos que queríamos lhe dar essa


Ele [meu avô]
acreditava, e
eu também,
que o vinho
é parte da
nossa cultura,
razão pela
qual deve ser
parte também
da nossa
educação
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