Adega - Edição 178 (2020-08)

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mesmo os de safras menos badaladas e aconselha
seus clientes a só abrirem as garrafas por volta dos
sete a oito anos de idade, pelo menos.

Poda e seleção
Mas qual seria o segredo de Coche-Dury? O
meticuloso Jean-François acredita que as videi-
ras devem ser severamente podadas. Ele usa a
poda chamada Guyot, em que as vinhas tendem
a produzir uvas maiores e menos concentradas.
E cerca de 30% de suas videiras são podadas de
acordo com outra técnica dita “cordon de royat”.
Este sistema produz uvas menores, reduzindo a
produção em até metade do Guyot.
Além da poda, faz-se seleção massal na hora
do replantio. Aliás, Coche-Dury só replanta vi-
nhas individuais que morrem, e não áreas inteiras
como alguns costumam fazer. Sendo assim, não
se usa clones produzidos comercialmente, sele-
cionando o material de sua própria vinha, que é
então entregue ao viveiro que prepara os enxer-
tos. Essa seleção leva a uma maior diversidade
no vinhedo e, assim, a uma maior complexidade,
acredita Jean-François.

Ele também não acha que vinhas jovens
produzem vinhos ruins, mas, para isso, deve ser
ainda mais severo ao limitar o número de cachos
que deixa em cada planta. Segundo ele, o vinho
das vinhas mais jovens tende a evoluir mais ra-
pidamente e a ter uma vida mais curta. Por fim,
a poda rigorosa também incentiva um sistema
radicular profundo, o que ajudaria a dar comple-
xidade ao vinho.

Feito naturalmente
A vinificação é feita na parte de baixo de uma casa
construída em 1982. O mosto fermenta de forma
espontânea com leveduras naturais e geralmente
em até 40% de barricas de carvalho novo (não há
uma fórmula, a porcentagem é determinada pela
safra). Jean-François acredita nas longas fermen-
tações, que, segundo ele, tornam o vinho mais
rico e fino. Sendo assim, elas podem durar de 10
a 14 dias, mas, às vezes, até quatro semanas.
A fermentação malolática ocorre naturalmen-
te (quando não, o vinho recebe uma inoculação
de borras frescas de uma barrica que acabou de
terminar). Outra técnica usada é a bâtonnage,
que pode ou não ser feita de acordo com as ne-
cessidades da safra. Os brancos de Coche-Dury
costumam passar 12 meses sobre as borras até o
primeiro trasfego. Eles são devolvidos à barrica
por mais seis meses de envelhecimento, geral-
mente clarificados, mas raramente filtrados. Eles
costumam ser engarrafados de 18 a 22 meses
após a colheita.
Coche-Dury também produz tintos, mas são
seus brancos os grandes astros. Eles são sempre
complexos e ricos, com mais músculos do que su-
tilezas. Alguns dos lieux-dits de Meursault são vi-
nificados e mantidos separadamente para mostrar
suas diferentes características. Boa parte de seus vi-
nhos vai diretamente para alguns dos mais requin-
tados restaurantes da França e o restante da produ-
ção para poucos clientes individuais que têm sorte
de terem acesso direto a essas preciosidades.

O trabalho
meticuloso
de Jean-
François
Coche nos
vinhedos se
reflete na
qualidade
dos vinhos
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