VOX 10ª EDIÇÃO

(VOX) #1

a formação familiar, pautada no
exemplo, com aspectos extrema-
mente religiosos, não só religioso
de frequência mas de exemplos,
faz com que tudo o que foi passado
reflita automaticamente no trabalho
diário das questões cotidianas”,
disse.
E quando se conhece a história
de vida da doutora Ruth percebe-se
que esta nova visão do Judiciário
anda lado a lado com os valores da
magistrada. “Minha família é de
Buritama, uma família em que a
tradição do estudo sempre foi bem
pontuada. Meus pais eram educa-
dores, no sentido literal. Todo este
envolvimento com os filhos era pau-
tado no exemplo. Meu pai e minha
mãe trabalhavam com educação
e sempre pontuavam a
importância do caráter, de
ações que fossem condi-
zentes com a nossa vida.
Meu pai era uma pessoa
que pregava a bondade,
amor, valorização das
profissões, mas também
fazia isso no dia a dia de
forma cotidiana. E minha
mãe era forte. Então se
fosse falar sobre as mi-
nhas origens, sem sombra
de dúvida é uma origem
privilegiada. Privilegiada
no sentido de contar com
pai e mãe extremamente
presentes, dentro do que podiam,
pois trabalhavam muito. Dentro de
suas possibilidades estavam pre-
sentes na educação dos filhos. Meu
pai é orgulho de comportamento
e minha mãe dona de uma possi-
bilidade de força, de construção e
recomeço impressionantes. Quando
se nasce com dois exemplos assim,
acredito que a vida e os desafios se
tornam mais fáceis”.


DE BURITAMA A ADAMANTINA
Os desafios sempre estiveram
presentes na vida da juíza de Ada-
mantina. Aos 14 anos, por exemplo,
ela se mudou de Buritama para
São José do Rio Preto para cursar o
ensino médio. “Foi a primeira vez
que pude enfrentar sozinha meus


desafios. Minha mãe me amparava,
ia para lá quando precisava, mas
tive que aprender a crescer e foi
muito bom. Lógico que os desafios
de antigamente são diferentes de
hoje, não tinha muita droga, tanto
crime e o perigo que se tem hoje em
dia. Atualmente, um pai e uma mãe
ao falar que uma criança vai morar
em outro lugar precisam se cercar
de cuidados diferentes daquela
época. Foi importante para o meu
amadurecimento. Você cria asas,
mas no fundo nem quer ter asas,
porém, precisa ir. Foi importante!”.
Em Rio Preto, ainda adoles-
cente, Ruth percebeu que o Direito
faria parte da sua vida. “Tinha uma
grande amiga, cujo pai era delegado
e ela, muito estudiosa. Hoje, ela é

Promotora de Justiça. Naquela épo-
ca, ela era extremamente diferente
das demais crianças e eu brincava
que enquanto corríamos pelo cor-
redor da escola, ela falava francês.
E sempre dizia que iríamos cursar
Direito, na Unesp. Então acredito
que ela teve grande influência. Meu
irmão também fazia Direito em Rio
Preto. Mas, como meu irmão sem-
pre gostou de música, se apaixonou
pela profissão mais tarde. E ela
tinha no pai uma referência forte de
Justiça. O pai dela estava envolvido
em operações, falava para nós de
honestidade, lavagem de dinheiro
e eu achava impressionante. Meu
outro irmão é policial. Acredito
que pelo fato deste irmão e o pai da
minha amiga serem policiais, me

trouxe cedo esta noção de seguran-
ça pública, que eu gosto”.
Porém, os caminhos idealizados
pelas jovens amigas se concretiza-
ram diferentes e Ruth foi cursar
Direito, na UEL (Universidade
Estadual de Londrina). “Foi muito
bom, uma instituição conceituada,
com grandes professores. Fiz está-
gios excepcionais desde o primeiro
ano na advocacia, no Judiciário e no
Ministério Público. Tive a oportu-
nidade de fazer, no 5º ano, a Escola
Superior do Ministério Público, que
é para quem deseja seguir a carrei-
ra jurídica. E o primeiro lugar teria
alguns benefícios, como discursar
na Tribuna do Júri, e eu consegui.
Foi uma honra, era meu sonho
desde que cheguei a Londrina e via
os discursos, era uma
escola muito conceituada.
Estudava de madrugada,
estudava muito, desde o
primeiro ano, para con-
quistar esta honraria”.
Com os pais edu-
cadores, o objetivo da
magistrada era dar aula
na instituição de ensino
superior na qual cursava
Direito. “Quem tinha
Láurea Acadêmica, por-
centagens de notas acima
de 9 ou 10, conseguiria a
oportunidade de lecionar.
Eu queria ser docente na
Universidade de Londrina. Lembro
que na cerimônia só tinha eu repre-
sentando o curso Direito. Conse-
guir esta Láurea abriria caminhos.
Então, justamente é ter metas. Ter
metas de vida sempre vale a pena”.
Mas, novamente, mudança nos
caminhos da, agora, Bacharel em
Direito. Antes mesmo de conseguir
lecionar e realizar seu sonho, Ruth
passou em um concurso público
para Promotora de Justiça do Esta-
do de Goiás. “Me formei em janeiro
e, em junho, já assumia o cargo. Foi
meu primeiro concurso. Não havia
idade mínima para prestar naquele
Estado, já em São Paulo precisaria
ter 25 anos ao menos e, na época, eu
tinha 21 e estudado muito durante a
faculdade. Não estudei dois meses,

“Não estudei dois meses, mas cinco anos.


Não foi milagre, estudei e estudei. Fiquei


cinco anos em Goiás e tentava prestar


concurso para São Paulo. Só


que não conseguia. É difícil demais


estudar e trabalhar, principalmente em


um Estado em que você tem uma


sobrecarga de trabalho”.


100 REVISTAVOX.COM | JULHO 2018

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