16 |Valor|Sexta-feira,21deagostode
A
pandemiadecovid-19, que já cei-
fou a vida de mais de 100 mil brasi-
leiros, está gerandodanos signifi-
cativos na economiado país edeve
deixar sequelas severas de médioe longo pra-
zosparaempresaseorganizaçõesdasmaisdi-
versascadeias produtivas, com um impacto
semprecedentesdevaloreempregos,alémde
outrostraumasemocionaisesociais.
O fenômenoatingiu em cheioa economia
da cultura, que já vinha enfrentando desafios
monumentais para se manterem pé antes da
pandemia. O necessáriodistanciamento so-
cial para enfrentar a cadeiade transmissão do
vírusinterrompeu abruptamenteas ativida-
des do setor,desarticulandomuseus, corpos
estáveis, teatros e cinemas,centrosculturais,
bibliotecas,produção audiovisual,festivais,
espetáculos e todas as atividades desteseg-
mento, com triste ênfase para o conjunto da
produçãoindependente.
Oestrago foi grande.Antes da pandemia, a
economia criativa respondia por 2,6% do PIB,
segundo aFirjan. No empregoformal, havia
cercade 4,9 milhõesdetrabalhadoresatuan-
donessesegmento,quetem,entreseusprota-
gonistas, os profissionaisda cultura. Parte
dessecontingentedeveengrossar as estatísti-
cas de desemprego nos próximosmeses, até
quese construamascondições para oretorno
ao convívio social seguro e haja um planoefe-
tivoderetomadaeavanços.
A indústria da culturaestá sofrendoem to-
do o mundo.Mas, no Brasil, asituação é espe-
cialmenteagravadapelaausênciahistóricade
uma política de Estadoconsistente, o que re-
sultaemescassezrecorrentedefomentoàsar-
tes e de mecanismos estruturantes de apoio,
diferentementedo que se vê em paísescomo
Alemanha, França e Inglaterra, ondea cultura
estáinserida,defato,naspolíticaspúblicas.
O problemanão vem de hoje.Aculturasem-
pre esteveem segundoplano,oque ficoumais
explícitoagorana pandemia,a despeitoda
aprovação,praticamentepor consensoentre
governoeoposição, da importanteLei Aldir
Blanc.Nos últimos34 anos,tivemos25 dirigen-
tes no Ministérioou SecretariaNacionalde Cul-
tura, uma médiade permanênciade oito meses
no cargo.Somenteno atualgovernoforamseis
secretáriosa ocuparoposto em menosde dois
anosdegestão.Ainconstânciafalaporsi.
Alémda alta rotatividadede comando, há
poucaobjetividadeeracionalidadenaspolíticas
culturaisdo país. OPlano Nacionalde Cultura,
aprovadoem 2010eainda em vigor, resultou
em uma miríadede 53 metas,númeroque, an-
tesdemaisnada,indicafaltadeestratégia,defo-
co e de perspectivaefetivae articuladade uso
dos recursos.Para termosum dadocomparati-
vo, oPlano Nacionalde Educaçãotem 20 metas
paraoensinopúbliconoBrasil.
Tambémpareceser crônica,no país, a baixa
compreensãodo setorculturale dos governos
quantoao papelda culturapara o desenvolvi-
mentoreal da nação. Acultura,entrenós, não
está inseridade formamatriciale estruturante
no conjuntodas políticaspúblicas,nem éenca-
radacomopilardosdireitossociais,comoprevê
a Constituição.Osetoré tratadoisoladamentee
nãosearticulacomoutrasáreassensíveiseestra-
tégicascomoeducação, saúde,meioambientee
segurançapública,salvohonrosasexceções.
Quandoolhamospara o passado, identifica-
mos na cidadede São Paulo,na décadade 1930,
C U LTU RA
Comgovernos,empresase sociedadejuntos,a arte e o
setorcultural têmo poderdedesenvolvere transformaro
Brasilpós-pandemia.Por EduardoSaron, para o Valor