A Bola - 20200819

(PepeLegal) #1

A BOLA


Quarta-feira
19 de agosto de 2020


KICKBOXING 27


Mais desporto


cer. Mas, se me pergunta se o caso
é estranho, a resposta é sim. Só
sou presidente há dois anos, mas
isto nunca me acontecera. Antes
já fui presidente da federação eu-
ropeia durante quatro anos; vice-
-presidente da WAKO por mais
de dez anos. Mesmo nesse perío-
do, como vice-presidente, se vi-
sitasse um país, o normal era reu-
nir-me com o presidente e
vice-presidentes da federação
para saber como poderia ajudá-
-los. Sempre de uma maneira po-
sitiva, nunca negativa.


— Ausências à parte... a federa-
ção portuguesa é, atualmente, um
problema para os planos e projetos
da WAKO?
— Não posso dizer que seja um
problema. A situação que aconte-
ceu é que foi deveras invulgar.
Única mesmo! Tomaram a decisão
de não comparecer e tenho de
respeitá-la. São eles que dirigem


jO maior sonho de Roy Baker e
a razão de Portugal não ser hipó-
tese para uma etapa

Tornar o kickboxing olímpico


O responsável máximo da WAKO
não o esconde: ver o kickboxing
tornar-se uma modalidade olímpi-
ca é um dos seus maiores desejos:
«É o meu principal foco. Para já te-
mos grande oportunidade de inte-
grarmos os Jogos Europeus em 2023,
esse é o meu objetivo. Depois ten-
tarmos estar nos Jogos Olímpicos,
daqui a oito anos [Los Angeles-2028].
Mas, na realidade, só desde há dois
anos é que passámos a ser reco-
nhecidos pelo Comité Olímpico In-
ternacional. Será necessário tempo
para termos a posição estabilizada
e tempo para crescermos, e neste
caso também comercialmente. O
que hoje é comum nas modalida-
des olímpicas é muito diferente do
que havia há 30/40 anos», lembra
Roy Baker, ciente da dimensão que
tal ambição implica:
«É necessária uma infraestrutu-
ra significativa que apoie a retaguar-

da da nossa modalidade a nível mun-
dial. Isso era algo em que a WAKO era
fraca e agora estamos bem fortes.
Para dar um exemplo disso e do cres-
cimento do kickboxing: em 2019 ti-
vemos 300 mil atletas registados
numa época competitiva com mais
de mil eventos num só ano. Mais do
que qualquer outra modalidade de
combate no mundo. Ninguém con-
segue apresentar números assim.»

CRESCER PARA OUTROS PAÍSES
E não falta sequer um circuito
mundial, tal como acontece noutras
modalidades: «Já o temos, chama-
mos-lhe World Kinckboxing Series,
que por agora tem sete etapas prin-
cipais WAKO, todas ligadas a uma
liga singular. Um pouco à semelhan-
ça do que acontece no judo. Come-
çámos em janeiro, com o Challenge
de Atenas, que contou com 2500
atletas, e acabámos em setembro no
Open da Bélgica. Mas o maior de to-
dos é a segunda etapa: o Open da
Irlanda, no qual tivemos de encer-
rar as inscrições aos 4 mil participan-

tes. Não dava para receber mais nin-
guém. Claro que este ano ficou tudo
por terra devido ao Covid-19, mas
agora pretendemos que este circui-
to, que também tem etapas na Ho-
landa, Hungria, Estados Unidos e
Itália, cresça para outros países»,
atira o responsável da Wako, des-
cartando, porém, a hipótese de Por-
tugal poder ser um dos anfitriões:
«Esse é o problema que têm: Por-
tugal não está envolvido na organi-
zação de eventos internacionais e se
isso acontece significa que não têm
a experiência necessária para con-
fiarmos na atribuição de alguma coi-
sa. Não vamos entregar nada a um
país que não organiza uma taça in-
ternacional. Só assim poderá ter a
hipótese de receber uma taça da Eu-
ropa ou uma taça do mundo, um
campeonato do mundo ou uma eta-
pa do World Series. É uma progres-
são natural. Ninguém constrói even-
tos destes a partir do nada. Tinha
razão quando, há pouco, mencio-
nou que em Portugal há agora mui-
to menos eventos do que habitual.»

Face à anterior passagem pela fede-
ração europeia, considerará Roy Baker
que Portugal deu, nos últimos anos,
passos atrás a nível continental e até
mundial, depois de um período em que
chegou a organizar uma série de even-
tos internacionais e disputou uma sé-
rie de títulos?
«Como já referiu, a federação tem o
kickboxing e o muaythai, ambos reco-
nhecidos pela Comité Olímpico Inter-

«Há mais de uma década que Portugal


não se candidata a nada»


nacional. Não estou demasiado dentro do
assunto a nível nacional para poder garan-
ti-lo, mas, a meu ver, têm existido de-
masiadas oportunidades perdidas», sus-
tenta o responsável da WAKO, precisando:
«Há recintos extraordinários em Portu-
gal para receber eventos internacionais e
quando a WAKO os organiza trazemos
entre 5 a 6 mil pessoas, quase metade
dos atletas de uns jogos olímpicos. Mas,
por razões que desconheço, há mais de

uma década que não existe qualquer
candidatura da federação portuguesa a
um Mundial ou Europeu. Anteriormen-
te houve uma série deles. Mas haverá
hipóteses para Portugal no futuro. No
entanto, volto a frisar, perderam uma gi-
gantesca oportunidade, estando o pre-
sidente da WAKO no país. Poderíamos
ter tido conversações importantes com
a Secretaria de Estado, se eles lá ti-
vessem estado. Mas não estiveram.»

D. R.

Alguns dos campeões da Europa e do Mundo nacionais com Roy Baker, presidente, e Carlos Ramjanali, membro do ‘board’ da WAKO

o kickboxing em Portugal. Eu sou
o presidente da federação inter-
nacional, mas são eles quem
orienta a modalidade no país. Não
eu. Uma coisa é certa: foi uma
oportunidade desperdiçada o fac-
to de a federação portuguesa não
se ter encontrado comigo, nem
me ter transmitido como posso
ajudá-los a desenvolver o kickbo-
xing no vosso país.

— ...
— Em todo o caso, devo referir que
ainda recebi um email de um mem-
bro da direção, Francisco Maximia-
no, a confirmar que estaria no en-
contro com o secretário do Estado da
Juventude e do Desporto. Tenho um
email em que me refere estar «an-
sioso» por encontrar-se comigo
«como vice-presidente e antigo
campeão europeu da WAKO». Que
era «uma vergonha que mais nin-
guém da federação possa ir, mas é
muito importante para a modalida-
de que representa este encontro que
está a organizar...». Mas no dia apra-
zado, não compareceu.

— Isso é mau...
— Mais uma vez, é algo realmen-
te incomum. O meu papel é apoiar
as minhas federações, não para as
prejudicar politicamente ou na im-
prensa. A minha função é engran-
decer a modalidade, desenvolvê-la
e apoiar os meus membros, entre os
quais Portugal. O meu trabalho é
apoiar toda a gente, mas o objetivo
n.º 1 são sempre os atletas.

Poderíamos ter tido


conversações


importantes com a


Secretaria de Estado, se


eles lá tivessem estado.


Mas não estiveram


D. R.
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