A Bola - 20200822

(PepeLegal) #1

28 A BOLA


Sábado
22 de agosto de 2020

Via verde


Por
DIAS FERREIRA

OPINIÃO


[email protected]


Bairro Alto


fora de horas


Sobre as lutas


com tubarões


dois segundos, mas porque essa mes-
ma inferioridade levou a que a corrida
fosse falsa. Ou seja: Phelps nadou con-
tra um registo digital, não com um tu-
barão a sério. A possibilidade de o ani-
mal comer a concorrência era grande,
o que teria reprimido os detalhes do
cronómetro para segundo plano.
Tudo isto nos chega de longe, esta
ânsia de caça, de vitória sobre mons-
tros marinhos, da mitologia e da litera-
tura. O mais emblemático é, para mim,
Moby Dick. É daí, justamente, que nos
chegam as melhores adaptações, como
o Jaws, de Spielberg. A vingança con-
tra besta, afinal. São comportamen-
tos que fazem parte da afirmação hu-
mana, e logo também desportiva, como
vamos revivendo pelas proezas de
Phelps e Tyson.
Eu, nas lutas com tubarões, só pata-
-roxa na caldeirada.

O que Tyson fez contra
o animal e o que antes
fizera Phelps. E aquilo
que (atenção!) eu faço

U


SAMOS a palavra tubarões para
referir grandes clubes de fute-
bol, esquecendo desportos que,
efetivamente, implicam estes animais.
Há dias, para a National Geographic,
Mike Tyson mergulhou, em malha de
aço, entre tubarões, e quando se espe-
rava – eu esperava – ou uma luta de
dentadas ou, no mínimo, um cruzado
de esquerda num olho do bicho (na es-
tupidez, almejo a plenitude), aconteceu
que Tyson segurou um tubarão e deu-
-lhe só um apertão no focinho, dei-
xando-o, explicaram depois, na chama-
da imobilidade tónica, sendo isto um
estado no qual os tubarões caem quan-
do lhes fazem aquilo, por ser zona sen-
sível — e de certa forma caí eu também,
ao ver, desencantado.
Há uns anos foi Phelps a nadar con-
tra um tubarão, o que à partida me pa-
recia luta mais justa, porque se um tu-
barão sabe nadar, tenho-o por fracote
na trocas de golpes. Confirmou-se a in-
ferioridade humana, não só porque o
animal nadou 100 metros em menos

‘Quarentena’ (2)!...


SPORTING CP

A apresentação de Porro em Alvalade

dos por ter esta camisola vesti-
da.» Ao ver a fotografia, senti-me
envergonhado e humilhado por
ver a camisola do Sporting enver-
gada em simultâneo com uns cal-
ções absolutamente impróprios
do clube ao lado do Presidente Fre-
derico Varandas!
Há mais de quarenta anos, era eu
um jovem de vinte e poucos anos, era
oficial do exército e chefe da secção
de Justiça do quartel em que presta-
va serviço, e recusei-me a receber
um queixoso civil que se apresentou
a depor vestido de forma semelhan-
te! É verdade que o meu tempo aca-
bou, como, de resto, com humilda-
de, tenho reconhecido. Gostaria que,
com humildade, houvesse quem re-
conhecesse que o seu tempo não de-
via sequer ter começado!

‘Quarentena’


(3)!...


C


OMO disse na crónica da
semana passada, partici-
pei, no âmbito do des-
porto e do direito des-
portivo, em diversos
congressos, colóquios e conferên-
cias, em Portugal e Espanha, que,
por falta de espaço, não enunciei.
Acontece que alguém me chamou
a atenção que me havia esqueci-
do que sou actualmente Presiden-
te da Mesa da Assembleia Geral da
Federação Portuguesa de Padle.
Por outro lado, também não tinha
um espaço para alguns agradeci-
mentos que são devidos às pes-
soas que acreditaram em mim e
me ajudaram muito nestes qua-
renta anos! Ficará para a próxi-
ma, porque a gratidão deve ser as-
sumida e explicitada!
Para não ser exaustivo, destaco:
«A Propriedade Industrial e os Di-
reitos de Autor» na Universidade
Lusíada com a colaboração da Ordem
dos Advogados; «O Futebol Portu-
guês: Que Presente, Que Futuro ?»
— Modelo de Organização Sistemá-
tica Desportiva e Sociedades Anóni-
mas Desportivas; como orador num
colóquio organizado pela Associação
de Estudantes da Universidade Por-
tucalense subordinado ao tema «So-
ciedades Desportivas — Que futuro
?»; como orador no Fórum Sporting
2000 , no painel subordinado ao tema
«Sporting, que Modelo de Clube»;
a convite da Associação Académica
da Faculdade de Direito de Lisboa
no debate acerca das possíveis im-
plicações da Lei Bosman II; no Con-
gresso Internacional de Direito do
Desporto subordinado ao tema «O

Desporto na Europa das Regiões»,
realizado em Madrid nos dias 8, 9 e
10 de Março de 2001; colóquio/de-
bate sobre «A Justiça Desportiva»
organizado pela Comissão Discipli-
nar da Liga Portuguesa de Futebol
Profissional; colóquio/debate sobre
«A Difamação e a Injúria no Direito
Desportivo» organizado pela Co-
missão Disciplinar da Liga Portu-
guesa de Futebol Profissional; coló-
quio/debate sobre «O Doping e as
suas controvérsias» organizado pela
Comissão Disciplinar da Liga Portu-
guesa de Futebol Profissional; no Se-
minário sobre Arbitragem Despor-
tiva, organizado pelo Comité
Olímpico de Portugal, Fundação do
Desporto e pela Associação Portu-
guesa de Direito Desportivo; no
«Congreso Nacional de Derecho y
Economia del Deporte» realizado
em Madrid subordinado ao tema
«Hacia la excelência empresarial de
los clubes e SAD»; nas «VI Jornadas
Nacionales de Derecho Deportivo»
organizadas com a colaboração da
Associação Espanhola de Direito
Desportivo sob o título «Asociacio-
nes y Fundaciones. Un nuevo mar-
co legal», e realizadas na Universi-
dade da Corunha; no I Encontro
Nacional dos Leões de Portugal su-
bordinado ao tema «O Voluntaria-
do Social nos Clubes Desportivos»;
debate em audição na Comissão Par-
lamentar de Educação, Ciência e
Cultura da Assembleia da Repúbli-
ca, a Proposta de Lei 80/IX do Go-
verno «Lei de Bases do Desporto»;
num Seminário sobre «Lei de Bases
do Desporto» organizado pela Co-
missão Parlamentar de Educação,
Ciência e Cultura da Assembleia da
República; como orador nas Jorna-

das de Desporto e Direito organiza-
do pela Universidade Lusíada e As-
sociação Portuguesa de Direito Des-
portivo, com o apoio do Conselho
Distrital de Lisboa da Ordem dos
Advogados, no tema «Justiça Des-
portiva»; nas «VII Jornadas Nacio-
nales de Derecho Deportivo» orga-
nizadas com a colaboração da
Associação Espanhola de Direito
Desportivo sob o título «Las bases fu-
turas del deporte profesional», e rea-
lizadas na Universidade da Coru-
nha; no 2º Fórum de Dirigentes
Desportivos organizado pela Asso-
ciação dos Dirigentes Desportivos
da Região Autónoma da Madeira su-
bordinado ao tema «Ética e Deon-
tologia no Dirigismo Desportivo»;
como organizador e orador do «II
Encuentro de Masters en Derecho
Deportivo», que teve lugar no audi-
tório do estádio José de Alvalade,
tendo feito uma exposição sobre «Os
aspectos jurídicos do desporto pro-
fissional em Portugal»; no 1º Ciclo de
Conferencias de Direito Desportivo,
organizadas pela Associação Aca-
démica da Faculdade de Direito de
Lisboa, e moderou o painel «Advo-
cacia vs Representação de jogado-
res»; no «Congresso do Desporto,
Um Compromisso Nacional»; num
ciclo de 4 debates sobre «O Estado
e o Desporto» organizado pelo Fó-
rum do Desporto Português; na Au-
dição Parlamentar organizada pela
Comissão Parlamentar de Educa-
ção, Ciência e Cultura para aprecia-
ção na especialidade da Proposta de
Lei de Bases da Actividade Física e do
Desporto; num seminário interna-
cional na Alfandega do Porto subor-
dinado ao tema «Profissionalização
da Arbitragem. Será Possível?»;
como conferencista na conferência
«Caso Zé Tó», organizada pela As-
sociação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa; no 1º Congres-
so da Associação Portuguesa de Di-
reito Desportivo e moderou o painel
subordinado ao tema «Tribunal Ar-
bitral do Desporto — Realidade ou
Ficção?» composto pelo Prof. Les-
ton Carretero, Conselheiro Cardoso
e Costa e os Drs. Miguel Galvão Telles
e Nogueira da Rocha; na conferen-
cia sobre «O combate ao doping em
Portugal» organizado pelo Grupo
Parlamentar do Partido Socialista;
como orador no painel sobre for-
mação dos vários intervenientes no
mundo do futebol, centrando-se a
sua intervenção na formação dos di-
rigentes, no âmbito do Fórum Come-
morativo do 1.º Centenário da Asso-
ciação de Futebol da Madeira.

O meu tempo acabou.
Gostaria que, com
humildade, houvesse
quem reconhecesse que o
seu tempo não devia
sequer começado

E


STA quarentena 2 tem
pouco ou mesmo nada a
ver com a quarentena da
semana passada. Qua-
rentena, no sentido mais
actual do termo, é período de iso-
lamento, de duração variável, pelo
qual devem passar pessoas que
são ou poderão ser portadoras do
Covid-19.
Nenhum dos jogadores que o
Sporting adquiriu recentemente é
portador de Covid-19. Não deixam
porém de ficar sob observação, uma
vez que um era portador de uns cal-
ções rotos ou rasgados com os quais
e com a camisola do Sporting se
apresentou à comunicação social, de
seu nome Porro; o outro, Nuno San-
tos, é portador de uma doença que ele
próprio designou de anti- Sporting!
Realmente, este não é o meu tem-
po, em que toda a gente diz o que se
calhar não deve dizer e o espalha
por todo o lado como a coisa mais na-
tural do mundo. Não me choca sa-
ber que um jogador do Benfica ve-
nha para o Sporting. O passado
dá-me razão e basta apontar os ca-
sos de Jordão, João Pinto, Paulo Sou-
sa e tantos outros que serviram o
Sporting com esforço, dedicação e
devoção. Custa-me aceitar que, no
tempo em que vai envergar a cami-
sola do Sporting, se deixe que se
anuncie o seu antisportinguismo!
Em tempo de profissionalismo pa-
rece-me demasiado amadorismo de
todos os envolvidos!
Quando vi a fotografia de jogador
Porro, com aqueles calções e a cami-
sola do Sporting, a exclamação que
me ocorreu foi exactamente o femi-
nino do nome dele, acompanhada da
lembrança da célebre afirmação do
Dr. Zenha: quando chegou, o Spor-
ting era uma rulote! E agora: será
um parque de campismo?
Em contraponto, lembrei-me
de algumas frases eternas, desi-
gnadamente uma de Francisco
Stromp: «Não é o Sporting que
se orgulha do nosso valor, nós é
que devemos sentir-nos honra-


Nota — Dias Ferreira opta por escrever as suas
crónicas na ortografia antiga

Por
MIGUEL CARDOSO PEREIRA
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