A Bola - 20200823

(PepeLegal) #1

28 A BOLA


Domingo
23 de agosto de 2020

LAPIDAR


Mourinho foi o melhor treinador
com quem trabalhei, até porque
é muito verdadeiro, falava as coisas
diretamente com os jogadores

Por muito que o Mbappé e
Neymar sejam dois dos jogadores mais
talentosos do mundo, o melhor, neste
momento, é Lewandowski
OWEN HARGREAVES
Ex-jogador

O Cavani está na lista
dos maiores atacantes
do mundo. É verdade que
o Benfica fez uma proposta,
agora estamos à espera
da resposta dele. Não posso
dizer mais do que isso

RUI COSTA
Administrador da
SAD do Benfica

LÚ CI O
Ex-central do Inter de Milão

Não tenho palavras para este
momento tão emocionante e,
ao mesmo tempo, triste. Tenho
de dizer adeus ao clube da minha vida

Este ano precisamos de duas
equipas para sobreviver, nós e os
outros clubes. Só assim vamos
conseguir superar estas semanas
inglesas, não existe outra forma
LUCIEN FAVRE
Treinador do Borussia Dortmund

Felicito o Benfica pela
qualificação para a final da
Youth League. Esta proeza
reflete o trabalho no clube e
no futebol português ao nível
da formação, sendo mais um
motivo de orgulho para todos

FERNANDO
GOMES
Presidente da FPF

ÉVER BANEGA
Médio do Sevilha

[Manchester United?] Tento não
olhar para a imprensa porque acho que,
se começar a dar atenção ao que
dizem, seria muito fácil deixar-me
levar. Pode afetar os jogadores
JADON SANCHO
Extremo do Borussia Dortmund

nhamente, viam-se agora os juí-
zes estupefactos, baralhados, pela
primeira vez sem entenderem o
sentido da lei.
Nem sequer entendiam o signi-
ficado de números concretos, como
estes: passar de três meses de fé-
rias para um mês.
Muitos juízes chegavam ao pon-
to de revelar toda a sua capacida-
de de reflexão e questionamento,
dizendo: que significa três? Que
significa 1? Como poderemos di-
zer, com toda a certeza, que 3 é
maior do que 1, e que 1 é menor do
que 3? Que sabemos nós sobre o
universo das quantidades?
Foram dias de invulgar discus-
são filosófica.

— E quem lhes diz que trabalha-
mos mais só com um mês de férias
do que com três?
— Sim, quem?
— Porque a explicação é simples:
só descansando bem — durante

Por
GONÇALO M. TAVARES

INTERVALO - Mundo, Cultura e Jogo


Sobre o Exemplo


VITOR GARCEZ/ASF

Não dava guarda-chuva às pessoas que estavam a apanhar chuva. Dava o exemplo

OPINIÃO


O Chefe gostava
de dar o exemplo.
Mas tirando
isso não gostava
de dar nada
a ninguém

que lhe pediam dinheiro, não dava
roupa às pessoas que precisavam de
roupa, não dava casa às pessoas
que precisavam de casa, não dava
guarda-chuva às pessoas que es-
tavam a apanhar chuva. Em suma:
não dava alimentos, não dava água,
não dava cobertores, não dava uma
lâmpada, um bocado de sal, um
parafuso, nada, não dava nada a
ninguém, nada! Dava apenas o
exemplo.

Sobre as férias


dos juízes


Os juízes aplicavam todas as leis
da nação, todas, sem excepção,
com o chamado escrúpulo do por-
menor. A lei é clara, diziam, acer-
ca de qualquer lei obscura.
A excepção era a lei que acaba-
ra de ser aprovada, lei que reduzia
o tempo de férias dos juízes. Estra-

vários meses — é que conseguire-
mos depois trabalhar. O trabalho,
depois das férias, é feito, pelo me-
nos, quatro vezes mais rápido. Pe-
las minhas contas, os cidadãos ain-
da ficam a ganhar.
— Quanto mais tempo de fé-
rias, mais trabalhamos.
— Exactamente.
— Portanto, se querem que tra-
balhemos mais tempo, têm de nos
dar mais tempo de férias.
— É mesmo assim. É por esse
lado que temos de pegar no proble-
ma.
— Vamos, pois, propor um au-
mento do número de meses de fé-
rias — de três para quatro. Que lhe
parece?
— Julgo que o país, nesta altu-
ra, exige de nós, muito mais tra-
balho. Portanto: cinco, peça cin-
co meses de férias!

Histórias do Senhor Kraus neste
Intervalo. Sátira e política.


O Chefe que


dava o exemplo


O Chefe gostava de dar o exem-
plo. Mas tirando isso não gostava
de dar nada a ninguém.
Quando algum desgraçado se
aproximava dizendo:
— Eu precisava de apoio para
investir na minha empresa...
O chefe ia logo com a frase:
— Olhe, por exemplo... — e lá
continuava num longo discurso
onde, de facto, exemplificava.
Quando o tal desgraçado volta-
va a casa, a mulher perguntava:
— Então, o Chefe? deu-te
apoio?
E o homem respondia:
— Deu-me um exemplo.
Outras vezes, iam pedir coisas
muito concretas ao Chefe.
Por exemplo, que mandasse ta-
par o buraco de uma estrada — de-
vido a esse buraco já tinham ocor-
rido diversos acidentes e a
população estava em polvorosa.
— Oh, Chefe, seria possível
mandar tapar aquele buraco?! É
que está um perigo! E não custa
nada mandar reparar. Em duas ho-
ras aquilo vai ao sítio.
Pois bem, o Chefe, mesmo as-
sim, não desarmava:
— A questão não é bem assim,
sabe... — começava por dizer, e
logo avançava — olhe, por exem-
plo...
E lá dava o seu exemplo.
O regresso a casa dos interlocu-
tores do Chefe era, por isso, bas-
tante repetitivo:
— Então, o Chefe deu ordens
para avançar com a reparação da
estrada?
— Não. Deu-me um exemplo.
E era sempre assim. Não dava
apoio às pessoas que precisavam de
apoio, não dava dinheiro às pessoas


Nota — Gonçalo M. Tavares opta por escrever as
suas crónicas na ortografia antiga
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