Valor Especial - Seguros, Previdência e Capitalização (2020-08-25)

(Antfer) #1
30 |Valor|Terça-feira,25deagostode2020

Especial|Seguros,previdênciae capitalização


Vera Valente,da FenaSaúde:planostêmsidocruciaispara o melhorenfrentamento da covid-19 no país

DIVULGAÇÃO

ConvêniosEntre2014e2019,setorperdeu3,5milhõesdebeneficiários,umrecuode6,9%


Desemprego esvazia os planos de saúde


RejaneAguiar
Parao Valor,deSãoPaulo

A pandemiaembaralhouas
variáveis da equaçãoque sus-
tentao sistemabrasileiro de
saúdesuplementar, eas opera-
dorasdeplanosdesaúdeeem-
presasde segurosde assistên-
cia à saúde têmenfrentado
obstáculospara fazeressa con-
ta fechar. A questãocentralé a
acelerada diminuição da
quantidade de beneficiários,
queafetaemcheioasreceitas.
De acordocom dados da
Agência Nacional de Saúde
(ANS),órgãoreguladordoseg-
mento, entre marçoe maio
cercade 283 mil pessoas saí-
ram da base,fazendoo núme-
ro de beneficiárioscair a46,8
milhões. Orecuotem relação
diretacomodesemprego, já
que amaior partedos planosé
empresarial: quandouma pes-
soaédemitidaeladeixaosiste-
ma, assimcomoseusdepen-
dentes, abrindo um buraco
nasreceitasdasoperadoras.
Asituação que se configurou
a partir de março, com a disse-
minação maisaceleradado no-
vo coronavírusno Brasil, se so-
brepõea um cenário que já não
era favorável paraos planos de
saúde. Depois de ter crescido de
maneira expressiva entre2009 e
2014, no augeda expansãoda
classeC,aquantidadedebenefi-
ciários assumiuuma curva des-
cendente nos últimos anos. Um
levantamento do Instituto de
Estudos de Saúde Suplementar
(IESS) elaborado combaseem
informações da ANSmostrou
que onúmero avançou 18,5%
entre dezembrode 2009 e de-
zembro de 2014,encerrando es-
seperíodoem50,5milhões.
Obommomento,noentanto,
foiseguidoporumafortequeda
—não por acaso,coincidente
com os anosde recessão que o
Brasil enfrentou, comevidente

reflexo no aumentodo desem-
prego. De dezembro de 2014a
dezembro de 2019, os planos
perderam um total de 3,5 mi-
lhões de beneficiários, o que re-
presentaumrecuode6,9%.
“O mercadoaté vinhaesbo-
çandoumaleve recuperação
até fevereirodesteano,mas
entãoveio a pandemiae mais
uma vez os planosviramcair o
volumede beneficiários”, afir-
ma Walter CintraFerreira,mé-
dico sanitaristaeprofessordo
programa FGVSaúde,ressal-
tandoque odesempenhoda
saúdesuplementar no Brasil
tem correlação muito forte
comoníveldeemprego.
Isso acontece pela própria es-
trutura do sistemano país.Se-
gundoFerreira,cercade73%dos

planos são empresariais, fican-
do os 17% restantescom planos
individuais. Essa divisão se con-
solidou porque os reajustes dos
planos de empresas são estabe-
lecidos por negociação direta
com os empregadores.Já no ca-
sodosplanosindividuais,apolí-
tica e os índices de aumentos
das mensalidades são determi-
nados pelaANS, oque dá muito
menos flexibilidade para a ges-
tãodasoperadoras.
Asaúdesuplementarbrasilei-
ra —assim batizada por funcio-
nar comocomplementoao Sis-
tema Único de Saúde(SUS) —
tem em sua estrutura variados
tipos de prestadoresde serviços,
como explica oprofessordo
programa FGV Saúde. As opera-
doras médico-hospitalares se

dividemem medicina de grupo
(um exemplo é aAmil), coope-
rativasmédicas (uma delas éa
Unimed),sistemadeautogestão
(casos como oda Funcesp), se-
guradoras (Bradesco Saúde, Su-
lAmérica,entreoutras)eentida-
desfilantrópicas.
Essasempresas,grossomodo,
recebem os pagamentos dos be-
neficiários e custeiam as despe-
sas médicas dos atendimentos
prestados por hospitais, clíni-
cas, ambulatórios, consultórios
elaboratórios. Autilização dos
serviços da rede credenciada éa
chamadasinistralidade.“A sinis-
tralidade éum conceito-chave
nesse mercado”, diz Ferreira.É
ela que vai determinarquanto
das receitas as operadoras vão
precisardestinar aos prestado-

res de serviços, considerando
queassobrascusteiamasdespe-
sas administrativas. É um equilí-
briotênue, que podeser perdi-
do em momentos de crises e de
eventosinesperados,comoéo
casodapandemiadecovid-19.
Entretanto, oque poderia
ser um alívioparaos planos
duranteapandemia—aqueda
dos atendimentos—acabou
virandouma incógnita,já que
existeapossibilidadede um
represamento de demanda
quepodeestourar.“Existeuma
grandepreocupaçãoem rela-
ção à postergaçãodas despe-
sas,jáqueemalgummomento
as pessoasque deixaramde
procuraros serviçosde saúde
paratratarde problemascrô-
nicosvãovoltar.Éumademan-
da reprimidaque podeformar
umabolha”, diz ReneBallo, lí-
der da áreade benefíciosda
WillisTowersWatson,consul-
toriaecorretoraglobalde se-
gurosdesaúde.
Ele lembratambémda pos-
sibilidadedeessasdespesasse-
rem maioresdo que as habi-
tuais, considerando que as
doençascrônicasnão adequa-
damentetratadas podemter
seagravadoequemuitosdiag-
nósticos podemnão ter sido
feitos.“Isso sem falar nas ques-
tões de saúdemental,que, por
sinal,têm sido grandeponto
de atençãoparaempresasde
váriossetores”, acrescenta. A
sinistralidadedespencoudes-
demarçocomodistanciamen-
to social.O balançodo segun-
do trimestrede 2020da SulA-
mérica,por exemplo, indicou
uma quedado índicede sinis-
tralidade de 80,8%de abrila
junhode 2019para69,1%em
igualperíododesteano.
Assim,umaleituraapressa-
dadosnúmerosdosetorpode-
ria sugeriruma situaçãorelati-
vamente confortável das ope-
radoras —afinal,emboraeste-
Free download pdf