O Dia (2020-08-27)

(Antfer) #1
Niterói& região

MEMÓRIA


Documentário polêmico sobre


Os Trapalhões capta recursos


Niteroienses Gabriel Gontijo e Fernanda Schmidt participam do filme que revela disparidades


REPRODUÇÃO / YOUTUBE

Ú


nico niteroiense
que integra a pro-
dução do documen-
tário “Trapalhadas
sem fim”, sobre a carreira
do grupo Os Trapalhões, o
jornalista Gabriel Gontijo
participa, junto aos demais
produtores, da busca por fi-
nanciamento coletivo para o
lançamento do filme. É que
há dez meses as filmagens
foram concluídas, mas de-
pendem de patrocínio para a
edição e a montagem. Gonti-
jo ressalta que a dificuldade
financeira de se fazer cine-
ma independente no Brasil
se agravou ainda mais com a
pandemia. A equipe tentou
negociar com o Canal Bra-
sil, no ano passado, e com a
Netflix, no início deste ano,
porém sem êxito. Empresas
com visão cultural e empre-
sários fãs do quarteto de
humoristas mais famoso do
Brasil podem patrocinar o
produto, colaborando com
qualquer quantia, através do
portal catarse.me/trapalha-
das_sem_fim_2020?ref=c-
trse_explore_pgsearch&pro-
jectid=120784&project
user_id=1387729.
As filmagens começaram
em outubro de 2018 em São
Paulo, de onde vem a maior
parte da equipe de produção,
e seguiram em abril de 2019
para o Rio de Janeiro, quan-
do Gontijo passou a atuar
presencialmente. Entre os
niteroienses entrevistados
por ele para o filme estão
Baiaco, o dublê de Rena-
to Aragão (que atualmente
mora em Campo Grande,
zona Oeste do Rio), e Fernan-
da Brasil Schmidt, a menina
que protagonizou o longa-
metragem “A filha dos Trapa-
lhões” (1984). As gravações
terminaram um ano depois,
em outubro de 2019, após co-
letar depoimentos de deze-


nas de artistas que convive-
ram com o grupo, principal-
mente participando de seus
filmes, como Angélica, Tom
Cavalcante, Fagner, Tony Ra-
mos, Myriam Rios, Ney Ma-
togrosso, Ronnie Von e Pelé.
O diretor, Rafael Spaca, é
um especialista em Trapa-
lhões: já escreveu dois livros
sobre o quarteto, “O cinema
dos Trapalhões - por quem
fez e quem viu”, de 2016, e
“As HQs dos Trapalhões”,
de 2017, antes de realizar o
documentário. “Para mim,
é uma honra muito grande
participar dessa produção,
pois sempre fui fã do grupo.
Cresci assistindo aos quatro.
Cheguei a alcançar a exibi-
ção dos últimos episódios
inéditos, em 1993, quando
eu tinha cinco anos. Depois,
acompanhei todas as repri-
ses até os anos 2000. Com o

advento da internet, pude
assistir a mais quadros e fi-
nalizar toda a filmografia.
Quando Spaca me convidou,
naturalmente aceitei. Pra
mim, foi uma oportunidade
única”, revela Gabriel Gon-
tijo, de 32 anos, cuja mono-
grafia de conclusão do curso
de Jornalismo na UFF foi um
rádio-documentário sobre
o legado artístico de Didi,
Dedé, Mussum e Zacarias.
A intenção do documen-
tário é reviver e homena-
gear a trajetória do quarte-
to de humoristas, segundo
Gabriel Gontijo, sem mitifi-
car nem desconstruir a ima-
gem da trupe.

Fernanda Brasil Schmidt
em depoimento
para as gravações do
documentário, em 2019

DIVULGAÇÃO / GABRIEL GONTIJO

IRMA LASMAR
Especial para O Dia


Cachê para atriz mirim: treliche e roupa de cama


> Temas polêmicos não
foram planejados pela
produção, mas mencio-
nados pelos entrevista-
dos. O produtor diz que,
procurados, Renato Ara-
gão e Manfried Santana (o
Dedé) não quiseram parti-
cipar da realização do fil-
me. “Tocamos em assun-
tos espinhosos, muitos de-
les que Renato não gosta
de comentar, mas porque
surgiram ao longo das en-
trevistas, que revelaram
inclusive informações até
então ocultas. Mas as po-
lêmicas se fazem presen-
tes em, no máximo, 20%
do documentário, não
mais do que isso. Como
por exemplo as divergên-
cias entre os componentes
que culminaram na pri-
meira separação do gru-
po em 1983 - voltando seis

meses depois - e também a
disparidade entre os ganhos
financeiros de Renato e os
demais membros. Há rela-
tos muito bacanas de pes-
soas que elogiaram o conví-
vio com o humorista e outros
que criticaram atitudes pon-
tuais. Enfim, mostramos o
lado humano dele, tanto nos
erros quanto nos acertos.
Claro que alguns fãs ficaram
chateados, e reclamaram do
resultado nas redes sociais”,
descreve.
Uma dessas polêmicas
envolve Fernanda Brasil
Schmidt, a “filha dos Trapa-
lhões”, no filme de mesmo
nome. Levada pela atriz Su-
zana Mattos, amiga de sua
mãe, para um extenso pro-
cesso seletivo, ela ganhou
o papel entre milhares de
meninas inscritas de todo
o Brasil. “A experiência sem

dúvida foi incrível. Na rela-
ção com todas as pessoas e
nossas vivências. O estúdio
virou minha casa e aquelas
pessoas se tornaram minha
família. Eu era o xodó de to-
dos, a menina prodígio, uma

estrela”, recorda-se ela, hoje
jornalista com 40 anos. Ape-
sar das boas lembranças,
discorda da forma como as
crianças são expostas em
experiências intensas como

a gravação de um filme.
Após a maioridade: um
processo judicial contra
as produtoras/distribui-
doras Renato Aragão Pro-
duções, Europa Filmes,
InfoGlobo e Globo Filmes
por conta dos direitos
autorais que jamais re-
cebeu por este longa-me-
tragem, um dos 100 mais
vistos de todos os tempos
no Brasil.
Na época, o cachê foi
um valor revertido total-
mente na compra apenas
de uma treliche e roupas
de cama. Fernanda foi in-
denizada em segunda ins-
tância por danos morais
em janeiro de 2018 - no
valor de R$ 20 mil. O pro-
cesso ainda corre na Justi-
ça. Cálculos apontam que
indenização pode chegar
a R$ 1 milhão.

Especialista
em Trapalhões,
Gontijo fez
monografia
na UFF sobre o
legado do grupo

Procurados,
Renato Aragão e
Manfried Santana
não quiseram
participar do filme

Estrela de “A filha
dos Trapalhões”
(à esq.), Fernanda
Brasil Schmidt
processa
produtores e espera
indenização que
pode chegar a R$ 1
milhão

2 QUINTA-FEIRA, 27. 8. 2020 I O DIA


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