O Dia (2020-08-27)

(Antfer) #1

RIO DE JANEIRO


Isolamento nos transportes: lei distante da realidade

No primeiro dia de validade de decreto que aumenta lotação no transporte público, flagramos superlotação em trens do metrô


REGINALDO PIMENTA

Carro do metrô viaja abarrotado de gente, no horário de pico da manhã, mesmo com restrições de lotação

circulando bem abaixo da lo-
tação proposta pelo governo.
Segundo a concessionária,
atualmente o número de pas-
sageiros está em 35% do públi-
co registrado antes da crise do
novo coronavírus.
Em nota, a empresa disse,
ainda, que está perto de um co-
lapso financeiro: “Mais de 80
milhões de pessoas deixaram
de circular desde 16 de março.
O prejuízo mensal gira em tor-
no de R$ 35 milhões. A partir
de setembro, será necessário
aporte externo de recursos”,
disse o MetrôRio.
Com situação um pouco
melhor, a estação da Super-
Via em Madureira não tinha
aglomeração. O interior dos
vagões também estava abai-
xo dos 60% autorizados pelo
estado.
Em julho, a SuperVia já ha-
via acenado com uma possí-
vel paralisação dos serviços
em setembro, devido a pro-
blemas financeiros causados
pela pandemia.

O governo do estado anun-
ciou, ontem, a permissão de
aumento da lotação nos trans-
portes públicos, e a reporta-
gem de O DIA foi a campo
para averiguar se o distan-
ciamento entre as pessoas
estava sendo cumprido. Con-
clusão: a situação só não é
pior porque já estava longe
do ideal, desde o início das
medidas restritivas por con-
ta da pandemia.
O aumento da lotação foi
autorizado por meio de decre-
to, que ampliou a capacidade
das lotações de 50% para 60%
nos trens e metrôs. Os ônibus
intermunicipais também ti-
veram o aumento de 10% na
capacidade.
No caso dos coletivos de
duas portas, está permitida
a capacidade de 60%, com
passageiros sentados e em
pé, respeitando o distancia-
mento de 1,5 metro. Já os co-

letivos de apenas uma porta,
conhecidos como ‘frescões’,
devem circular com a mes-
ma capacidade, mas apenas
com passageiros sentados.

VIAGEM LOTADA
A equipe do jornal seguiu da
estação terminal do metrô
na Pavuna até a de São Cris-
tóvão, no horário de pico, às
7h, e presenciou aglomera-
ções tanto no acesso às com-
posições como no interior
dos carros. “A gente não tem
o que fazer. Precisamos tra-
balhar e o transporte não é
opcional”, contou a técnica
de informática Deyce Souza,
de 26 anos.
Dentro do grupo de risco da
covid-19, Maria Ignácia, de 65
anos, acrescentou ser impos-
sível manter distanciamento.
“Comprei essa máscara, por-
que sou mais baixa e até a res-
piração das pessoas me deixa
com receio”, comentou.
O MetrôRio garante, no en-
tanto, que o transporte vem

LUCAS CARDOSO
[email protected]

Ex-policial sem medo das câmeras:


‘Quero tirar onda com você, gorducho’


Vídeo mostra ataque covarde de agente da Civil aposentado contra jornalista, que denunciou o crime


FOTOS REPRODUÇÃO

Policial é filmado
enquanto atacava
verbalmente
o jornalista
Rodrigo Teixeira
(em destaque),
que postou um
desabafo na
internet

O


jornalista e ex-colu-
nista do jornal Meia
Hora, Rodrigo Tei-
xeira, de 32 anos, de-
nunciou ataques homofóbi-
cos e gordofóbicos feitos por
um policial civil aposentado,
enquanto trabalhava na ação
de reintegração de posse da
Casa Nem, centro de acolhi-
mento LGBT, em Copacabana,
na tarde de segunda-feira. O
digital influencer estava a ser-
viço da Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Social e
de Direitos Humanos do Rio,
quando foi atacado.
No vídeo, é possível ouvir
o homem, identificado como
Antônio Teixeira Alexandre
Neto, que já foi delegado
-adjunto da Divisão Antis-
sequestro (DAS) e secretário
municipal de Segurança Pú-
blica e Cidadania de Maricá,
em atitude agressiva, xin-
gando o jornalista e fazen-
do provocações, como “Que-
ro tirar onda com você, gor-
ducho”, entre outras ofensas
impublicáveis. O jornalista,
que reagiu pedindo respeito,
gravou trechos do ataque.
No dia seguinte, Teixeira di-
vulgou um vídeo no qual rela-
ta as ofensas: “Não é comum
você ser insultado quando está
na rua. Um popular me abor-
dou desferindo contra mim
injúrias, palavrões e palavras
de baixo calão. Estávamos lá
para resguardar direitos e até
nós fomos vítimas de pessoas
que acham que não podemos
ter direito”, declarou.
“Não é só porque uso uma
pochete com a bandeira do
arco-íris que eu mereço ser
desrespeitado”, acrescentou o
jornalista.
Segundo Teixeira, ele ainda
foi desrespeitado pelo ex-poli-
cial civil na 13ª DP (Copacaba-
na) - onde o caso foi registrado.
Questionada sobre a postura
de Neto e a investigação do cri-
me, a Polícia Civil se limitou a
dizer que “os envolvidos foram
ouvidos, foi assinado um ter-
mo circunstanciado e o caso
encaminhado ao Juizado Es-


> Segundo Mario Soli-
mene Filho, advogado
especialista em Direito
LGBT, do escritório Er-
nesto Rezende Neto Ad-
vogados, o crime come-
tido contra o jornalista
é de injúria homofóbica.
“Ele está xingando, colo-
cando conotação LGBT e
gordofóbica. A homofo-
bia, em si, tem uma tipi-
ficação diferente, é uma
exclusão de um grupo
social”, explicou.
O criminalista Vitor
Hugo de Almeida explica
a legislação: “Em setem-
bro de 2019, o STF fez um
julgamento no qual con-
cluiu que a prática ho-
mofóbica se enquadraria
nos mesmos critérios da
prática racista”.
“No caso, parece que
foi praticada a injúria
homofóbica. O cidadão
não estava excluindo o
jornalista de uma ativi-
dade, mas o ofendeu”,
disse, acrescentando
que a punição prevista
é de 1 a 3 anos de reclu-
são, além de multa.

Injúria


homofóbica


dá cadeia


pecial Criminal (Jecrim)”. Con-
forme o Tribunal de Justiça do
Rio, “a delegacia ainda tem
que concluir o inquérito e en-
viar para o Juizado Especial”.
A Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social e
Direitos Humanos diz que
acompanha o caso e presta

apoio jurídico e psicológico
ao funcionário “brutalmente
ofendido enquanto estava a
serviço. A SEDSDH repudia
veementemente toda forma
de preconceito e acompanha-
rá todo o caso”.
Em nota, o Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do

Município do Rio prestou so-
lidariedade a Rodrigo Teixeira
e repudiou “a violência verbal
sofrida pelo jornalista no exer-
cício da profissão”.
“As agressões homofóbicas
e gordofóbicas, impublicáveis,
proferidas contra Teixeira são
inadmissíveis e injustificáveis.

São reflexos da forte onda rea-
cionária que tomou o Rio de
Janeiro e o país, e elegeu como
alvo quem luta pela Democra-
cia e pelos Direitos Humanos”,
diz a nota.

Reportagem de Beatriz Peres e da
estagiária Letícia Moura

O DIA I QUINTA-FEIRA, 27. 8. 2020 3


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