ESPECIAL 17
28 de agosto de 2020çPedro Sousa, um dos dois
portugueses presentes no US
Open, é habitualmente muito
reservado no que diz respeito a
questões extraténis, mas assu-
miu compreender as motiva-
ções de Naomi Osaka e do pró-
prio torneio de Cincinnati, or-
ganizado no mesmo local e pela
mesma entidade do US Open.
“É um assunto delicado. Não
me sinto muito à vontade paraentrar num debate público, até
pela minha maneira de ser, que
todos conhecem. Mas toda a
gente tem o direito de lutar por
aquilo em que acredita da ma-
neira que entender. A Naomi
está no direito dela e acho que
fez bem”, confessou o tenista
lisboeta, que integra a ‘bolha’ de
Nova Iorque depois de ter sido
pai pela primeira vez este mês,
aos 32 anos. *çNaomi Osaka, a desportista
feminina mais bem paga do
Mundo (no último ano foram 35
milhões de euros – um recorde),
saltou para a linha da frente no
combate à violência policial e
desigualdade racial nos Estados
Unidos, ao anunciar que não iria
disputar as meias-finais do WTA
de Cincinnati – um dos mais im-
portantes do calendário e que
está a ser jogado em Nova Iorque
–, inicialmente agendadas para
ontem. Horas depois, o torneio
seguiu-lhe o exemplo e decidiu
fazer um dia de pausa em pro-
testo, à semelhança do que
aconteceu com as principais li-
gas norte-americanas.
“Antes de ser uma atleta, eu
sou uma mulher negra e sinto
que há coisas mais importantes a
necessitar de uma atenção mais
imediata nesta altura do que ve-
rem-me a jogar ténis. Não espe-
ro que nada de drástico aconteça
com esta minha decisão, mas se
puder começar uma discussãonuma modalidade maioritaria-
mente de brancos, considero
que isso é um passo na direção
certa”, disparou a japonesa de 22
anos, ex-nº 1 mundial, assumin-do-se farta da situação. “Estou
extremamente cansada desta
conversa a toda a hora. Quando
é que será suficiente?”
O torneio de Cincinnati ali-
nhou pelo mesmo discurso.
“Como desporto, o ténis está co-
letivamente a tomar uma posi-
ção contra a falta de igualdade
racial e a injustiça social”, pode
ler-se no comunicado conjunto
da federação norte-americana,
WTA e ATP.
Muitos jogadores utilizaram as
redes sociais para elogiar a pos-
tura de liderança de Osaka, que
foi também felicitada e encora-
jada por outras personalidades
do desporto, como o seis vezes
campeão mundial de Fórmula 1
Lewis Hamilton ou a lendária
atleta Allyson Felix. *NAOMI OSAKA
PAROU CINCINNATI
ALARME. Naomi Osaka decidiu fazer uma pausa nos courtsçDonald Trump demorou várias
horas a reagir aos protestos no des-
porto norte-americano e quando o
fez... desvalorizou-os. O presiden-
te dos Estados Unidos chegou mes-
mo a ironizar contra a NBA. “Não
sei muito sobre os protestos da
NBA, sei que as audiências têm sido
muito fracas, porque acho que as
pessoas estão um pouco cansadas
da liga. Eles tornaram-se uma or-
ganização política e isso não é algo
bom, seja para o desporto ou para o
país”, referiu. O nome do líder nor-
te-americano tem sido muito visa-do, não só nas manifestações po-
pulares mas também entre os des-
portistas. Não é, de resto, a primei-
ra vez que Donald Trump deixa crí-
ticas aos basquetebolistas.
Jarod Kushner, genro do presi-
dente, também fez questão de cri-
ticar os jogadores da NBA. “Podem
dar-se ao luxo de tirarem uma fol-
ga. A maior parte dos norte-ameri-
canos não pode dar-se ao luxo de
fazer isso. É bonito defenderem a
causa, mas gostaria de vê-los a agir
para encontrarem uma solução
concreta”, manifestou. *Trump desvaloriza reações
MLS travada gera
troca de críticasOs futebolistas da Major League
Soccer seguiram o exemplo dos
basquetebolistas da NBA, e cin-
co jogos que deveriam ter decor-
rido na última madrugada foram
adiados, começando pelo Inter
Miami-Atlanta United. O Real
Salt Lake City foi uma das equi-
pas que aderiu ao boicote, o que
gerou críticas por parte do dono
da franquia, Dell Loy Hansen.
“Houve um profundo desrespei-
to por mim”, afirmou o empresá-
rio, que lançou a hipótese de di-
minuir o investimento no clube.
Vários desportistas repudiaram
estas declarações e Jozy Altido-
re, avançado dos Toronto FC, até
disse que era capaz de comprar o
clube. “Ele [Dell Loy Hansen] pre-
cisa de vender o clube. Estou en-
volvido num grupo capaz de o
comprar. É tempo de mudança”,
apontou o avançado, de 30 anos.MLB e NFL também
aderem à causaVárias partidas da última ma-
drugada na liga norte-america-
na de beisebol (MLB) também fo-
ram reagendadas. O primeiro
‘boicote’ partiu também de uma
equipa de Milwaukee, com os
Brewers a chegarem a acordo
com os Cincinatti Reds, que se-
riam os seus oponentes. “Vesti-
mos camisolas que dizem ‘justi-
ça’ e ‘igualdade’. Mas chega a um
momento em que as ações falam
mais alto do que as palavras. Ti-
vemos aqui uma oportunidade”,
frisou Ryan Braun, jogador dos
Brewers. Na liga de futebol ame-
ricano (NFL), várias equipas pa-
raram os treinos para ajudarem
a promover uma reflexão sobre
o racismo nos EUA. A temporada
arranca apenas a 10 de setembro.Pedro Sousa está nos EUAPedro Sousa compreende protestos
USA TODAY SPORTSDesportista feminina
mais bem paga do Mundo
disse que não jogava e
torneio seguiu o exemploPresente nas
manifestaçõesNaomi Osaka foi uma das prin-
cipais figuras do ténis que, em
plena pandemia, se deslocou a
Minneapolis em junho para as
manifestações antiviolência
na sequência da morte de
George Floyd, incidente que
gerou uma primeira onda de
revolta um pouco por todo o
país, desencadeando o movi-
mento ‘Black Lives Matter’.
Coco Gauff, de apenas 16 anos,
foi outra das jogadoras que
participou nas manifestações
e chegou a discursar, lembran-
do situações semelhantes por
que ela e a família passaram.USA TODAY SPORTSLUÍS MANUEL NEVESTENISTA JAPONESA ASSUME INICIATIVAJOGADORA DE 22 ANOS INICIOU
MOVIMENTO QUE ACABOU COM
UMA SUSPENSÃO TOTAL DA
COMPETIÇÃO EM NOVA IORQUEINCRÍVEL. Bucks recusaram-se a jogar frente aos Magic e deram início a uma autêntica convulsão na NBA
JOSÉ MORGADOtesto pelo ataque sofrido por Jacob
Blake, cidadão negro que foi alve-
jado com sete tiros nas costas pela
polícia de Kenosha, no estado doOs protestos da NBA também
estão a ter repercussões fora dos
Estados Unidos. O britânicoLewis Hamilton, campeão mun-
dial de Fórmula 1, elogiou o pro-
testo dos basquetebolistas, mas
não defendeu o boicote ao Grande
Prémio da Bélgica que se realiza
no domingo, optando por defen-
der a causa antirracista com ou-
tras formas de luta. *