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30 de agosto de 2020
E
ENTREVISTA
çDepois de um fim de tempo-
rada atípico, que balanço faz dos
primeiros dias de trabalho do Gil
Vicente na época 2020/21?
TIAGO LENHO – O balanço é po-
sitivo, embora ainda estejamos
numa fase de conhecimento. Es-
tes primeiros dias deixam-nos
com alguma ambição porque
sentimos que os jogadores e a
equipa técnica estão aqui moti-
vados e a trabalhar afincadamen-
te para que as coisas corram bem.
- A partir de quando, no ano
passado, é que a direção come-
çou a planear a época 2020/21?
TL - Durante a pandemia, tendo
em conta a importância que al-
guns jogadores tinham no seio do
grupo, avançámos com algumas
situações. Conseguimos o enten-
dimento com alguns jogadores e
com outros não, mas isso é nor-
mal no futebol. Essencialmente
foi a partir daí que começámos a
planear melhor a nova época.
- Como é feito o vosso trabalho
de scouting para se chegar a al-
vos com origens tão diferentes
como tem acontecido este ano?
TL - Apostar no mercado brasi-
leiro é normal para os clubes por-
tugueses. Para além disso, apro-
veitámos um trabalho desenvol-
vido essencialmente por mim e
pelo Dito, na fase do confina-
mento observámos jogadores
que tínhamos referenciados. Não
faz sentido, a nível financeiro,
ver jogadores de Espanha ou Itá-
lia, daí surgirem jogadores de
outro tipo de países. Por fim, há
alguns nomes que são apresenta-
dos por empresários e tentamos
filtrar os que nos interessam. - Enquanto diretor desportivo,
qual é o seu papel concreto no
momento de abordar um possí-
vel reforço?
TL - Tento falar com o jogador e
apresentar-lhe o projeto que te-
mos para o clube e para ele. O
meu trabalho passa por conven-
cer o jogador, mostrar-lhe o que
ele pode tirar de bom ao vir para o
Gil Vicente e para Portugal, um
campeonato com visibilidade, e
transmitir-lhe uma mensagem
de confiança. - O que sustentou a aposta na
contratação de Rui Almeida
para técnico principal?
çAssumiu a intenção de
renovar com o técnico Vítor
Oliveira. O que falhou nes-
sas negociações?
TL – Não falhou nada, todos
sabemos a forma como o
míster gere a sua carreira. Fi-
zemos o convite para a reno-
vação e o míster considerou
que não devia aceitar. Só te-
mos de respeitar e agradecer
por tudo o que ele fez por nós,
eram poucas as pessoas que
acreditavam no projeto.
+ Já depois de o nome de
Rui Almeida sair na impren-
sa, Vítor Oliveira não deixou
de mostrar o seu desagrado
pela forma como a situação
foi gerida. O clube sente que
ele saiu com alguma mágoa?
PM – Considero que não. Ví-
tor Oliveira deixou Barcelos
com a sensação de dever
cumprido e nós saímos com a
sensação de que não lhe fal-
tou nada ao longo do ano. Há
aqui uma satisfação de am-
bas as partes por o objetivo
ter sido alcançado. *
“Temos de estar
agradecidos
ao míster
Vítor Oliveira”
TL - Rui Almeida é uma excelen-
te pessoa e nós consideramos esse
aspeto importante. Além disso,
apesar de nunca ter sido treina-
dor principal em Portugal, fez
parte de equipa técnicas de clu-
bes da 1ª e 2ª divisões, não sendo
este um mundo novo para ele.
Por fim, olhando para o tipo de
jogo que apresentou em França,
consideramos que tem condições
para ter sucesso aqui.
+ Como foi chegar ao cargo de
diretor desportivo, na altura
com 29 anos e com o clube no
Campeonato de Portugal?
TL - Foi difícil porque não co-
nhecia ninguém no clube além
do presidente, que me convidou
para o cargo. Tivemos uma épo-
ca na qual os pontos não valiam,
mas tentámos manter o profis-
sionalismo mesmo estando no
Campeonato de Portugal. Tentá-
mos ter rotinas de clube de cam-
peonato profissional para a mu-
dança não ser ainda mais brusca.
+ Olhando para o futuro, quais
são os seus objetivos e os objeti-
vos do Gil Vicente?
TL - A nível pessoal não traço ob-
jetivos a longo prazo, agora que-
ro ser parte integrante de um
projeto de sucesso no Gil Vicen-
te. Quanto ao clube, quer conso-
lidar-se na 1ª Liga. É importante
crescermos em termos de in-
fraestruturas para depois pen-
sarmos em algo mais. *
çDe que forma é que toda
esta situação da pandemia
afetou o Gil Vicente?
TL – Foi uma situação nova,
mas tivemos de a encarar de
frente. Afetou a nível despor-
tivo, já que estávamos muito
bem antes da interrupção e
depois tivemos alguma difi-
culdade na retoma, e afetou a
nível financeiro, não só por-
que não foi possível valorizar
ativos, mas também porque
temos uma indefinição em
termos de presença de público
que não permite a venda de lu-
gares anuais, camarotes e pu-
blicidade. A isto juntam-se
ainda os testes que tivemos de
pagar.
+Considera ser exequível
haver público nos estádios na
temporada 2020/21?
TL – Sim. As coisas têm de ser
bem ponderadas, mas o públi-
co faz falta aos estádios. Ver
um jogo sem público não é
nada atrativo e considero que
é possível termos adeptos, lo-
gicamente com restrições em
termos de lotação. *
“Ver um jogo
sem público
não é atrativo”
“É fundamental
fazer-se uma
aposta contínua
na formação”
çFoi forçado a terminar a
carreira devido a uma lesão.
Como foi esse momento?
TL – Consegui chegar à 2ª Liga
e sinto orgulho da carreira que
construí. Sofri uma lesão
numa fase da carreira na qual
estava quase a virar costas ao
futebol, até porque tive alguns
períodos sem receber. Quan-
do ingressei no Vizela, que só
treinava ao final da tarde e que
me permitia trabalhar, sofri
uma lesão gravíssima no joe-
lho e fiquei sem trabalho e sem
futebol. Foi algo complicado.
+ De que forma foi prepa-
rando o pós-carreira durante
o tempo em que jogava?
PM – Antes de me tornar pro-
fissional tirei uma licenciatura
em Engenharia do Ambiente.
Depois tirei uma pós-gradua-
ção em Gestão e Organização
de Futebol Profissional. Para
além disso, já tirei dois cursos
com a FPF. Acho fundamental
fazer-se uma aposta contínua
na formação. *
TIAGO
LENHO
“QUERO FAZER PARTE
DE UM PROJETO DE
SUCESSO NO CLUBE”
Aos 31 anos assume-se como o diretor desportivo mais jovem da Liga NOS. Em
entrevista a Record, o dirigente recordou como foi preparado o regresso do Gil
Vicente à 1.ª Liga e explicou como está a ser planeada a temporada 2020/21
LUÍS VIEIRA/MOVEPHOTO
DIOGO MATOS
“OS PRIMEIROS DIAS DEIXAM-
-NOS COM ALGUMA AMBIÇÃO,
OS JOGADORES E A EQUIPA
TÉCNICA ESTÃO MOTIVADOS”