26 30 de agosto de 2020
JR - Não sei responder porque
nunca aconteceu. A 12 de março o
contexto era completamente dis-
tinto e agora não sabemos. Só vou
poder dizer após os primeiros 40
minutos de jogo. Treinar sem pú-
blico é uma coisa, jogar é outra. No
Benfica jogamos para os nossos
adeptos e eles vão estar em casa,
de certeza, a assistir pela televisão.
Por isso, o sentimento de dar tudo
por esta camisola vai manter-se,
mesmo não festejando com eles
na bancada. Mas vamos trabalhar
por eles e para eles.
+ O exemplo do futebol, inclusi-
ve na Liga dos Campeões, deu
para ficarem com uma ideia de
como vai ser não ter público?
JR - Sim e deu para perceber duas
questões importantes. Uma delas
aconteceu quando o vencedor foi
encontrado na final. Após a con-
quista houve festejos entre os in-
tervenientes diretos e houve mui-
to respeito pela equipa que per-
deu. Quando os jogadores do PSG
recolheram aos balneários, os do
Bayern não foram tão exuberan-
tes como se podia pensar porque
faltava a emoção que vem do pú-
blico. Acreditem, de fora vem
emoção e paixão para dentro da
quadra. Da bancada para o campo
vêm, sobretudo, fatores emocio-
nais, positivos ou negativos. Ape-
sar de faltar essa emoção dos
adeptos vai haver maior raciona-
lidade para o jogo, para as ações e
para os comportamentos dos in-
tervenientes.
+ No futebol, as equipas mais pe-
quenas visitaram os grandes com
outro à-vontade por não haver a
pressão do público. No futsal
também existirá esse ‘perigo’?
JR - Para a nossa forma de estar,
treinar e competir é-nos indife-
rente jogar em casa ou fora, à par-
te do objetivo de vencer. Nesse as-
peto nada se vai alterar na prepa-
ração para cada jogo. A diferença
é a seguinte: onde o Benfica joga
há sempre casa cheia, em casa ou
fora. As maiores diferenças vão
ser sentidas por nós e não pelos
adversários, porque, mesmo não
sendo todos, a maioria joga em
pavilhões silenciosos.
+ O que se pode esperar do Benfi-
ca esta temporada?
JR - O que se pretende no clube é
conjugar adjetivos com a palavra
vencer. O Benfica começou a pre-
parar-se há muitos meses para
esta época, no sentido de sermos
uma equipa competitiva, solidá-
ria e comprometida para vencer.
Esse é o nosso ADN.
+ Então, vencer a Champions é
um dos objetivos?
JR - Sim! A participação na prova
não foi adquirida em competição
mas pela história do clube e, sen-
do uma prova do calendário, é um
objetivo. A primeira meta na
competição é passar a fase de gru-
pos inicial. Quem trabalha aqui
jamais vai pensar em finais. As
quatro competições são objetivos
para nós, cada uma a seu tempo.
+ O plantel está fechado ou po-
derão chegar mais reforços?
JR - Hoje em dia quem é que pode
garantir algo como um dado ad-
quirido? Não posso garantir que o
plantel está fechado. Posso assu-
mir que a equipa atual está de
acordo com os nossos objetivos.
Não estou à espera de alguém ou a
pensar dispensar alguém, mas es-
tamos a olhar para a formação.
Neste momento temos três jovens
a trabalhar connosco diariamen-
te: Edi, Furtado e Rúben Teixeira.
+ Algum deles pode ficar a tem-
po inteiro no plantel?
JR - É algo que ponderamos e,
neste momento, a bola está com
eles. É nosso dever proporcionar-
-lhes as oportunidades e é res-
ponsabilidade deles agarrá-las e
aproveitá-las.
+ Como lidou o grupo com a saí-
da de Bruno Coelho, jogador com
muitos anos no clube e capitão de
equipa?
JR - Todas as épocas, em todos os
clubes, o ciclo natural é esse.
Aconteceu com o Bruno e com
çO último jogo do Benfica foi a
12 de março, há quase 6 meses.
Como foi estar tanto tempo lon-
ge da quadra, longe do futsal?
JOEL ROCHA - Foi uma fase nova
para todos, não só em termos des-
portivos mas também pessoais,
sociais e familiares. A saúde so-
brepôs-se a tudo o resto e o mais
importante é protegermo-nos a
nós e às nossas famílias. Temos de
ter a consciência de que existe
algo que, a partir deste momento,
faz parte da nossa vida e que não
sabemos onde está, de onde apa-
rece e quem tem ou possa vir a ter
o vírus. Do ponto de vista do trei-
nador, é tempo de adquirir co-
nhecimentos, procurar novas es-
tratégias, atualizar as nossas prá-
ticas para quando voltarmos ao
ativo estarmos preparados para a
nova realidade de viver diaria-
mente com esta incerteza. Enca-
ramos isto com o otimismo de que
vamos vencer este jogo difícil e
longo contra o vírus.
- Como foi o regresso ao traba-
lho?
JR - Estivemos 152 dias sem tocar
numa bola e sem uma relação
pessoal, só mantínhamos contac-
to virtual. Uma das grandes preo-
cupações no regresso eram as re-
lações de perceção e de associação
uns com os outros. Tudo aquilo
que envolve a emoção na nossa
profissão, que é o treino e o jogo.
Queríamos que não existisse um
exagero em relação à distância so-
cial. Sabemos que tem de haver
mas também sabemos que o jogo
tem momentos de contacto e de
aproximação e o treino também
tem muito isso. Além das questões
física, técnica e tática, que vamos
readquirir ao longo do tempo, a
maior preocupação foi voltarmos,
o melhor possível, a ter estas rela-
ções.
- Nesse sentido, como encon-
trou a equipa?
JR - Estou plenamente satisfeito
com a forma como todos nos
apresentámos. Pareceu um reco-
meço e as propostas escolhidas
pela equipa técnica têm sido bem
acolhidas pelo plantel. - Como vai ser jogar perante um
pavilhão vazio?
E
ENTREVISTA
ENTREVISTA JOEL ROCHA
O treinador do Benfica recebeu Record e falou dos novos desafios. Contou
como o futsal das águias se preparou para enfrentar a nova realidade, abordou
a renovação e revelou o que o move ao iniciar a sétima época no clube
“ACREDITEM, DE FORA VEM
EMOÇÃO E PAIXÃO PARA DENTRO
DA QUADRA... VAI FALTAR ESSA
EMOÇÃO DOS ADEPTOS”
“ENQUANTO SENTIR QUE
O TRABALHO É DE CONTINUIDADE,
COMO TEM ACONTECIDO, NÃO
ADIANTA CHEGAREM PROPOSTAS”
“A“AMBIÇÃO MBIÇÃO
ESTÁESTÁ SETE SETE
VEZES MVEZES MAIOR” AIOR”
MIGUEL AMARO *
JOEL ROCHA