Le Monde Diplomatique - Brasil - Edição 158 (2020-09)

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36 Le Monde Diplomatique Brasil^ SETEMBRO 2020


Renascimento das pioneiras


Esquecidas pelos historiadores, as diretoras e roteiristas mulheres contavam-se às dezenas no início do século XX,
participando da idade de ouro do cinema mudo. Entre elas, Lois Weber, que retratava a vida cotidiana
das norte-americanas e questões sociais, mas cuja obra foi quase toda perdida pelo fogo

POR PHILIPPE PERSON*

E


m 1896, um ano após o nasci-
mento do cinematógrafo, a fran-
cesa Alice Guy, de 23 anos, diri-
giu A fada do repolho. Esse filme
de 51 segundos a tornou a autora da
primeira ficção fantástica da história
do cinema e também a primeira mu-
lher cineasta. Ela prosseguiu sua ati-
vidade de diretora durante cerca de

vinte anos, na França e nos Estados
Unidos, onde, com seu marido, Her-
bert Blaché, criou sua própria empre-
sa de produção perto de Nova York.
Ela dirigiu centenas de curtas e al-
guns longas-metragens antes de de-
sistir, arruinada, por não ter visto a
tempo que o futuro se situaria em
Holly wood. Por muito tempo negli-

genciada de todas as formas, esqueci-
da, até desapropriada de sua obra, co-
mo vemos na pesquisa do historiador
do cinema Georges Sadoul, que nem
a cita. Após ter enfim reencontrado
na França alguma audiência – desde
2017, um prêmio com seu nome vem
recompensando diretoras para ame-
nizar a falta de visibilidade destas

nas cerimônias –, hoje nos Estados
Unidos ela é objeto de um documen-
tário de Pamela R. Green, Be Natural,
com subtítulo A vida escondida de
Alice Guy-Blaché, com direito a co-
mentários entusiasmados de atrizes
feministas como Jodie Foster.^1 No en-
tanto, esse reconhecimento não mo-
difica em nada a ideia que continua a

CINEMA


© Juliana Russo

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