Crusoé - Edição 123 02020-09-05)

(Antfer) #1
04/09/ 20

precisam se envolver nessa causa
porque é delas. São elas que sofrem
quando o dinheiro é desviado. São
elas que sofrerão com filas na saúde,
com má qualidade da educação, com
falta de segurança pública, com
mortes nas estradas, com
subdesenvolvimento. É importante
que cobrem dos governantes seus
compromissos, liguem ou mandem
mensagens para os deputados e
senadores, participem do debate
público e votem bem. O avanço
civilizatório na direção de mais
integridade na vida pública depende
da participação política a título de
cidadania.


Pela primeira vez, a Lava Jato
encontra oposição até dentro do
próprio MPF. Como superar essa
situação?
Acreditamos que o caminho
sempre é o do diálogo com o
procurador-geral, do debate
transparente dentro e fora da
instituição e do envolvimento da
sociedade nisso, assim como em
outras matérias de interesse público.


O sr. se arrepende de algo?
Vivemos vinte anos em seis. Foi
uma jornada muito intensa de
aprendizado e aperfeiçoamento.
Com o privilégio da visão
retrospectiva, faríamos melhor ou
diferente aquilo que deu errado ou
gerou polêmica. No caso do acordo
com a Petrobras, que permitiu que
mais de 2 bilhões de reais ficassem
no Brasil, a ideia (de fazer uma
fundação) era boa, mas teríamos
incluído outros órgãos na
negociação, como AGU, CGU e a


própria PGR, o que certamente teria
permitido seu aperfeiçoamento e a
protegido contra críticas. Mas
sempre tivemos a intenção de fazer
o nosso melhor, de trabalhar com
excelência, dentro da lei, de modo
dedicado e inovador.

Lhano no trato com os colegas,
Dallagnol não quer se indispor com
a nova direção da fora-tarefa nem
quer ser o responsável por anunciar
a débâcle da operação. Embora não
admita publicamente, sabe, no
entanto, que a Lava Jato está
condenada a definhar, diante das
ações premeditadas de Aras, da
complacência do STF e do silêncio
sepulcral de Bolsonaro e do
bolsonarismo, que surfou na onda da
operação para chegar ao poder, mas
preferiu abandonar a bandeira
quando percebeu que o Ministério
Público poderia alcançar os seus.

Uma das evidências de que o
futuro não será mais como era
antigamente foi que, na noite de
quarta-feira, sete integrantes da
força-tarefa da Lava Jato em São
Paulo pediram demissão coletiva.
Apontaram “incompatibilidades
insolúveis” com a procuradora
Viviane de Oliveira Martinez,
responsável pelas investigações no
estado. Nos bastidores, os
procuradores reclamam que Viviane
não teria capacidade técnica para
coordenar a Lava Jato, o que
provocaria confusão e atraso nas
investigações. Os procuradores da
força-tarefa paulista também a
acusaram de pedir o adiamento de
uma das operações que investigam
o senador José Serra, do PSDB, e
de trabalhar intramuros para barrar
novas negociações para acordos de
delação premiada.
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